As considerações que passo a expor baseiam-se em grande parte em elementos rebuscados nos relatórios dos Grémios dos Armazenistas de Vinhos e do Comércio de Exportação de Vinhos, nas pautas aduaneiras do ultramar, nas estatísticas do comércio externo publicadas e da Junta Nacional do Vinho; as minhas palavras respeitarão ao consumo do vinho comum, cujo volume excede enormemente o dos vinhos generosos e derivados vínicos, por poderem ser ingeridos por todas as classes sociais, graças à maior modicidade de preço e a não provocarem, em doses razoáveis, dano à grande maioria dos componentes da humanidade quando normalmente constituídos - não invoco a doutrina da inocuidade dos autênticos vinhos de pasto e de mesa por ser geralmente conhecida e de há muito tempo estar consagrada pela Medicina, da qual o ilustre colega Prof. Almeida Garrett foi o mais idóneo porta-voz nesta Camará.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: advogo vivamente a necessidade de aumentar a exportação do vinho para o estrangeiro e, principalmente, para o nosso ultramar.

Vozes: - Muito bem!

do Grémio do Comércio e Exportação de Vinhos de 1953, o último publicado, lê-se quo continua a descida das vendas para o estrangeiro, especialmente para a Bélgica, Holanda, Suécia e colónias francesas, apesar do amparo que o nosso Governo lhes tem dado, por intermédio da Junta Nacional do Vinho.

Descontados os países para onde exportamos escassas ou episódicas porções de vinho, destituídas de significado económico, devem mencionar-se algumas nações e em 1953 reduziram substancialmente as compras o nosso vinho, tais como: a Bélgica e a Holanda, que se limitaram a metade da importação do ano anterior; a Alemanha, que negociou connosco um pequeno volume de vinho, em comparação com o que adquiriu em outros países vinicultores -ainda que com ela houvéssemos concertado um tratado comercial; as colónias francesas, que deixaram de abastecer-se de vinho português, por virtude de o comprarem na mãe-pátria e de no acordo assinado com a França não figurar qualquer cláusula favorecedora da exportação desta mercadoria; e a Suécia e os Estados Unidos da América do Norte, que restringiram muito as suas aquisições vínicas em Portugal.

Entre as nações importadoras que no ano citado aumentaram levemente as compras do nosso vinho salientam-se a Inglaterra, o Canadá e o Brasil, que, aliás, transaccionaram connosco relativamente pequenos quantidades do produto.

E porque teria baixado a nossa exportação de vinhos e derivados para o Congo Belga? Porque não se tenta a colocação dos nossos vinhos e aguardentes nas Rodésias, onde há algumas centenas de milhares de europeus e vários milhões de nativos? Serão os vinhos da África do Sul que impedem este comércio com as Rodésias?

Compreende-se a concorrência quanto aos vinhos comuns, mas não quanto aos brandes, ao madeira e ao porto, tão estimados nas Rodésias como na União Sul-- Africana.

Felizmente, nos últimos meses a nossa posição refez-se, havendo fundadas esperanças de reavermos alguns mercados internacionais perdidos ou definhados.

Para melhor ^avaliação do movimento exportador para o estrangeiro do vinho nacional nos passados dez anos servir-me-ei dos dados estatísticos do comércio total de vinho de todas as qualidades compreendidos entre 1944 e 1953:

Como se verifica em rápido exame, desde 1949 o comércio externo dos vinhos portugueses nunca mais parou de descer (excepto em 1952), sendo o seu montante menos de metade no ano seguinte e em 1953 inferior em 30 por cento ao do ano anterior.

É certo que, actualmente, a nossa exportação de vinhos comuns e seus derivados para o estrangeiro anda à volta de 10 por cento da produção total, mas ainda assim constitui valor económico digno de consideração, pois representa cerca de 95 800 contos, motivo por que, muito louvavelmente», o Governo continua a envidar todos os esforços no sentido do alargamento de tal ramo do comércio.

Como alcançar este desiderato ? Estando demonstrado não ser a qualidade dos vinhos nacionais nem a protecção governamental suficientes para consecução de um aumento sensível da exportação para o estrangeiro, resta-nos recorrer ao barateamento do produto, pois basta que a nossa cotação se equipare à alheia para que o vinho português seja logo preferido.

Não obstante, não devemos acalentar grande esperança de melhoria considerável da exportação dos nossos vinhos comuns para o estrangeiro, com excepção talvez do Brasil.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mas para se aumentar a importação no Brasil era preciso que o Banco de Portugal consentisse um desnível maior no cleariny, unicamente destinado à exportação do vinho, e que se conseguisse que a mercadoria pudesse ser enviada para ali em garrafões de 5 l e 10 1.

Ninguém no Brasil falsificaria o vinho nesta embalagem, porque não valeria a pena, e, por outro lado, isso diminuiria o custo do produto, sem prejudicar a indústria vidreira nacional.

É de ponderar que também na grande nação irmã o vinho espanhol está batendo o vinho português, sem que