quais recomendo muito particularmente este assunto, que carece de tanta atenção como outros sectores das suas atribuições; se o vinho não é género de primeira necessidade, não deixa de constituir um componente valioso da dieta alimentar dos Portugueses, como excelente eupéptico, tónico vitaminado e elemento energético.

Vinho de qualidade, o t especial», como o rotulam, existe no retalhista, em vasilha separada, mas este está reservado para ser negociado por preço muito superior ao vulgar: acima de 35 - tive ocasião de encontrar preços de 4$! -, quando por 2$30-2$40 estaria bem pago. Outro caso que deve interessar à Intendência-Geral dos Abastecimentos.

Por não ser elevado o poder de aquisição da média dos nossos compatriotas, o comprador só despenderá os 25 guardados para vinho, e, por conseguinte, em vez de 11, adquirirá uma menor porção de vinho bom, facto que, repetido em larga escala, afectará bastante o consumo da bebida.

Sr. Presidente: os armazenistas de vinho acusam uma disposição legal - publicada, aliás, com a melhor intenção e a mais compreensiva finalidade -, que proíbe as tabernas de venderem vinho a retalho depois das 22 horas (22.30 horas no Verão) ou das 24 horas em dias de festa local, de ter concorrido para a restrição do consumo interno. Na realidade, os números seguintes, respeitantes a Lisboa, parecem confirmar as suas queixas:

engarrafado nos restaurantes urbanos, nos comboios e nos navios nacionais. Estas ocorrências reclamam pronta intervenção da Intendência-Geral dos Abastecimentos e da Junta Nacional da Marinha Mercante, no que toca à navegação marítima; o renascimento do costume de nos repastos de bordo, em todas as classes, e não apenas na 3.a, como acontece há poucos anos, estar incluído o vinho comum levaria, com certeza, quase todos os passageiros a bebê-lo, o que agora não sucede, por virtude da careza das garrafas do produto.

Asseguram-me que, se os passageiros das 2.ª e 1.ª classes pedirem vinho comum, lho darão imediatamente; tenho algumas dúvidas a este respeito, e bastará o facto de haver de se solicitar tal tipo de vinho para ninguém ousar fazê-lo, por natural acanhamento, relacionado com a denúncia de fracas possibilidades financeiras, tão inferiorizante em nossos dias. Se na mesa aparecer vinho comum, só os mais ricos, porventura, se absterão de o tomar.

O Sr. Paulo

O Orador: - Anoto a informação de V. Ex.a, mas nas viagens que tenho feito, a bordo de navios nacionais, para Angola e S. Tomé nunca dei conta disso.

O Sr. Carlos Borges: - Nós não temos a coragem de pedir vinho para não cairmos na consideração dos próprios criados. O que há é falta de coragem moral.

O Orador: - Muito obrigado pelo aparte de V. Ex.ª, o qual está inteiramente de acordo com o que acabo de declarar.

A maior despesa exigida às empresas com a adopção do antigo hábito português seria, indubitavelmente, compensada por uma mais racional utilização dos géneros alimentícios, dos quais agora se estragam bastantes, com o lançamento ao mar, diariamente, de enormes quantidades de boa comida.

Dói o coração ao ver-se tamanhos desperdícios, quando tanta gente tem carência alimentar! E é apenas por isto que fiz este pequeno apontamento.

Replicar-me-ão que nas refeições dos restaurantes, nos comboios e em navios estrangeiros não entra o vinho. É verdade; é mais uma coisa má que copiámos lá fora; pagando-se o pão à parte - a luz da mesa! -, estranha-se que ainda não começassem a cobrar pela toalha ... nos navios e hotéis, e que não aconteça o mesmo com o pão nos primeiros ...

Quando se adquire a passagem em navio, nela vêm incluídas as refeições com pão. Porque não há-de figurar o vinho? E mais: as companhias de navegação nacionais devem proibir expressamente a compra de vinho comum não engarrafado que não seja de origem portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Permito-me apelar para os bons ofícios do nosso ilustre colega comodoro Pereira Viana, certo de que vai aconselhar a abolição destas incongruências prejudiciais à economia nacional.

Também a T. A. P. não da vinho às refeições nas carreiras para Londres e Paris. Não é que o consumo desta empresa tenha qualquer influência na solução do problema vinícola, mas representa infracção à lei - que obriga a fornecer vinho nas ementas fixas - e deixa do fazer propaganda do vinho português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: acompanhemos de perto o vinho enviado para Angola e Moçambique, os dois imensos territórios ultramarinos que mais absorvem este liquido, a fim de nos apercebermos dos agentes condicionadores do seu elevado custo nestas províncias. Se, para o estrangeiro, o litro de vinho qualificado pode ser colocado a bordo por 1$50 a 1$60, com razoáveis lucros para o exportador, quando se dirige às mencionadas regiões africanas o preço F. O. B. é mais alto.

Segundo uma estimativa, somando ao preço de cada litro de vinho com 12.º chegado a Lisboa (1$34) $05 (transporte do armazém para o cais), igual quantia (despesas com o despacho alfandegário, incluindo os direitos de exportação) e as taxas corporativas ($03 para o Grémio e ($10 para a Junta Nacional do Vinho, contando com a recém-criada pelo Decreto-Lei n.º 40 037), obteremos por litro a cotação de 1$57, a que ainda