primeiro ao último - puseram perante os seus olhos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- É certo que o assunto, como as colheitas, não ficou nem podia ficar esgotado neste debate, em que intervieram vinte e seis oradores, número porventura nunca atingido na generalização de um aviso prévio; mas eu nada devia acrescentar e nem sequer tanto devia ter dito, como franco atirador que sou; na lavoura não passo de um arremedo e consagro à ciência dos técnicos e especialmente dos enólogos - que certamente escandalizei - o respeito e o acatamento quo nesta hora muito me apraz confirmar e novamente torno extensivo aos serviços, não olvidando, não tendo o direito de olvidar, nestes e naqueles, relações de velha estima selada através do tempo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Podia mesmo dispensar-me de subir novamente à tribuna, só um dever imperativo a isto não me, obrigasse.

É o de manifestar a todos os oradores a gratidão, a minha profunda gratidão pelas palavras generosas e cativantes que tiveram a bondade de dirigir-me a propósito desta iniciativa e dos termos em que abri um debate que, afinal, teve a caracterizá-lo simplesmente u sinceridade, o desinteresse total e o desejo, o ardente desejo de servir.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:- Todos, todos, meus colegas, meus amigos, bem hajam!

Deve haver - sei que há - lavradores que vêem através do prisma do seu egoísmo, mas esses não estão presentes; técnicos altaneiros que não submetem o dogma da sua doutrina e a infalibilidade dos seus cálculos e previsões ao desmentido da realidade, mas esses não os vemos aqui; e sociedades e pessoas sem escrúpulos,

que opõem o veto da sua ganância mercantil a denúncia os seus crimes, mas estas andam lá na rua em liberdade, chafurdando na mistela, enquanto uma devassa firme e persistente não puder arrancar u máscara do seu impudor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Li algures e fixei este pensamento, que é uma advertência:

Aquilo que se cala pode vir ainda a dizer-se; mas aquilo que se disse já não pode calar-se.

Podia, assim, vir a dizer ainda o que calei, e era muito, apesar da extensão do meu arrazoado; mas o que ouvi excedeu em mérito e efeito o que eu podia acrescentar, e isto é o que importa.

E ao que disse, o portanto já não posso calar, o que deu valor foram o mérito e a autoridade de ter sido em grande parte confirmado. E até nos pormenores em que levemente divergimos podia aceitar algumas rectificações que contrariaram as premissas e conclusões que formulei através do meu aviso prévio, partindo de raciocínio oposto, embora - como o foi - documentado em autoridades insuspeitas ou no critério prático dos representantes das regiões vinícolas, ultimamente evidenciado em expressivas reuniões magnas, que, em uníssono, exprimiram bem a gravidade do momento e os anseios da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Houve também ali divergências e discussão ?

Sem dúvida. Mas da discussão nasceu a luz que iluminou os espíritos e os levou a conclusões objectivas e relevantes, que, como programa mínimo de execução imediata, foram levadas à presença do Governo.

Tenhamos confiança. Não duvido das boas intenções do Sr. Ministro da Economia, tantas vezes reveladas, e da eficiência do estudo e do esforço dos seus colaboradores, em conjunto com os representantes da lavoura, e esta certeza traz-nos a de que, além das indispensáveis medidas de emergência que o momento actual impõe, já iniciadas e a completar urgentemente, vão seguir-se outras, muitas outras, que, tendo por base a organização corporativa, concretizem objectivamente a estruturação de um sistema permanente de defesa do produto e do seu preço, pelo grande aumento do número das adegas cooperativas, pela larga e rigorosa defesa da genuinidade dos vinhos através de muito mais elevado número de brigadas junto de adegas, armazéns, retalhistas, hotéis e restaurantes, pela guerra ao intermediário sem escrúpulos, pelo sacrifício da quantidade à qualidade e consequente revisão do condicionamento do plantio e alteração do Decreto n.º 38 525, pela grande propaganda do vinho no continente, no ultramar e no estrangeiro pelos fundos de compensação, pela valorização dos outros produtos, pela redução dos fretes e dos encargos aduaneiros para o ultramar, pela revisão dos contingentes de exportação, pelo estudo de outra forma de acondicionamento dos vinhos exportados, pela grande restrição do fabrico e venda de bebidas não tradicionais aqui e no ultramar e tudo o mais que aqui se sugeriu, a que por brevidade me reporto. E isto precedido da medida drástica de proibição total do alargamento da área do plantio por tempo indeterminado ou fixo, seja qual for a região, o da inadmissão futura da legalização das plantações ilegais, pois as novas devem ser pura o simplesmente destruídas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E, exceptuando a normal retancha que evita a morte da vinha, as novas autorizações para reconstituição ou transferência (e esta só para encostas) deviam manter-se suspensas, pelo monos, enquanto não estivessem a actuar em pleno as grandes medidas com projecção no futuro - as grandes armas de combate contra as crises periódicas de sobreprodução.

Se, por vir colheita escassa que facilite uma solução momentânea, o Governo cruzar os braços, voltaremos à mesma situação, mas então muito mais agravada ou mesmo completamente insolúvel.

Vozes: - Muito bem!