Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Urgel Horta.

na data do 13.° aniversário do seu falecimento.

Cumpro obrigação imposta ao meu espírito, radicado fortemente ao mandato que a Nação me confiou, rememorando essa alta figura de português, que tanto amou e dignificou a sua terra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador : - Sr. Presidente : no coração da cidade, no Largo do Carvalhido, praça demasiadamente pequena para guardar, através dos tempos, monumento de simbolismo tão precioso e tão eloquente, ergue-se e descerrou-se hoje a estatua do grande bispo, obra do ilustre estatuário portuense Henrique Moreira, trabalhada com desvelado amor e perfeito conhecimento da personalidade do homem que o bronze eternizará.

O Porto, que ele tanto amou, representado por todas as suas classes, desde as mais ilustres às mais modestas, com a presença de S. E. o Sr. Cardeal Patriarca e das autoridades do distrito, associou-se devotadamente, com o mais sentido respeito, no integral cumprimento de uma divida, à bem merecida consagração do saudoso e venerando bispo, que no desempenho do seu magnifico sacerdócio trabalhou ardorosamente pela glória da Igreja - trabalho e luta, alimento de uma vida inteiramente dedicada a Deus e dedicada à Pátria.

Honrando a memória de tão fecunda e bondosa personalidade, o Porto, cidade da Virgem, brioso nas suas atitudes, espontâneo nos seus gestos, mostrou mais uma vez, e sempre, que sabe querer, que tem direito a querer, e que sabe mostrar o seu reconhecimento àqueles que, pelas suas virtudes, se mostram inteiramente dignos da sua gratidão e da sua admiração.

Vozes : - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: D. António de Castro Meireles foi individualidade de uma actividade mental extraordinária no delicado aperfeiçoamento do seu espírito, na propaganda da Fé e no culto da Ciência, orientadora da Humanidade aberta pela Igreja.

Desde o alvor da sua mocidade revelou-se na posse das mais exuberantes qualidades de trabalho, inteligência e bondade, claramente demonstradas na sua elevada formação doutrinária, na sua obra educativa e evangelizadora, nos actos de justiça e caridade que enobreceram a sua vida inteiramente dedicada ao apostolado católico.

Com distinção realizou todo o seu curso teológico e com as mais altas classificações se doutorou em Direito e Teologia na velha Universidade de Coimbra, constantemente remoçada pela criação dos mais altos valores da intelectualidade portuguesa.

Deputado da Nação em pleno vigor da sua actividade física e mental, a Santa Sé elevou-o à alta dignidade de bispo para Angra do Heroísmo, promovendo-o, decorridos alguns anos, a bispo da diocese do Porto.

Homem de leis, orador eloquente e brilhante, Deputado pela Nação, professor e educador, bispo de alta estirpe e da maior envergadura, marcou com extrema galhardia e desassombro a sua alta personalidade em todas as funções que apaixonadamente serviu e desempenhou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como professor o educador, pós todo o saber nessa nobre missão, formando caracteres, cinzelando inteligências, modelando almas, dentro dos princípios em que assentava tão sólida formação moral e espiritual, detentora dos mais nobres e enriquecidos tesouros cristãos.

Eloquência viva, dominadora, aliada a uma serenidade de espírito, revelando toda a sua cultura humanística o filosófica, a sua voz foi ouvida o escutada dos mais altos púlpitos das velhas catedrais, em orações fervorosas, encerrando labaredas de fé trasbordante de amor e de bondade, na exaltação das virtudes eternas do Evangelho.

Como bispo, bispo de Deus, foi dos maiores - e tantos foram eles dentro da diocese do Porto.

«Na coragem, no desassombro, na lealdade, na clareza foi bom um lutador medieval. Era grande de mais para poder medir-se com pigmeus serpentinas; nobre de mais para poder usar as armas dos seus adversários; leal de mais para poder suportar na sombra a urdidura de uma citada», assim o afirmava, com toda a verdade, nas exéquias do seu falecimento, o actual e ilustro bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.

D. António de Castro Meireles foi sumamente grande, intensamente querido. Soube como nenhum outro, em tempos difíceis, fazer ouvir a palavra da Igreja, que é palavra de ordem, palavra de justiça, palavra de caridade, para bem de todos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Aqui, na Assembleia Nacional, ocupou com a maior dignidade e nobreza a sua cadeira de Deputado. Eleito pelo circulo no qual V. Ex.ª, Sr. Presidente, tinha já bem marcada a sua influência e havia firmado a sua reputação política, que o levou, com todo o merecimento, às mais altas situações hierárquicas da Nação, D. António de Castro Meireles desempenhou nesta Camará papel de notável responsabilidade. Sozinho, alheio às lutas partidárias que dividiam os homens, vendo nas suas querelas fonte de desagregação e anarquia, vivendo uma época dominada por um agnosticismo e um materialismo satânicos, o venerando bispo do Porto lutou, defendendo intimoratamente os direitos da Igreja e da pessoa humana, tornando-se lídimo precursor dos dias de libertação da fé e da crença em Deus.

Nesta tribuna, proclamando a verdade, foi a voz da Igreja, exortando os Portugueses à concórdia, à união, à paz, ao respeito pela omnipotência divina, tão pródiga em bênçãos lançadas sobre a terra português.

Os seus discursos -verbo caudaloso da mais pura doutrina, cheios de vibração, transbordando cintilações deslumbrantes, afirmações talentosas do seu querer e do seu sentir, torrente de conceitos donde brotava bondade