Mas é preciso que a sua opção seja motivada por uma inteira liberdade de escolha, independente de circunstâncias que a limitem.

E é forçoso reconhecer que essa liberdade não é completa, enquanto só for possível às famílias e à Igreja fundar escolas cujos encargos as tornam acessíveis só às classes privilegiadas, a menos que sejam cobertos por esmolas e alguns subsídios de assistência, por se destinarem à educarão das classes mais necessitadas.

As classes médias, e são essas n maioria das que frequentam o ensino secundário e técnico, em que o problema da educação integral atinge maior acuidade, essas não têm possibilidade duma escolha totalmente livre.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Há que lembrar que a educação é um verdadeiro sacerdócio, que as instituições da Igreja são depositários duma missão divina e duma experiência de séculos; por estes motivos, e pela natureza da vocação daqueles que a servem, estão em condições óptimas para formar a juventude adolescente e a dos meios moral o socialmente mais difíceis.

Para estas instituições, que já deram provas de rara competência, e para algumas outras que ofereçam garantias, é de justiça que se concedam subsídios que lhes permitam equiparar o custo das propinas escolares nos das instituições oficiais, que sejam oficializados os seus diplomas e que tenham liberdade de organizar cursos cuja oportunidade se reconheça.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora:-Sr. Presidente: as famílias, enquanto confiem os seus filhos às escolas oficiais, precisam ainda assim de ser ouvidas, consultadas, aconselhadas. Infelizmente estão no hábito de se dirigir às instituições para matricular os filhos, para saber as notas, para interceder pelas crianças. Há professores primários que desconhecem os pais dos alunos, ainda que isto pareça inverosímil. Das escolas secundárias e médias, cuja população escolar está em plena crise de adolescência e a acusar as primeiras tendências vocacionais, nem se fala. Culpa da escola? Da família? Possivelmente de uma e outra. Mas pode chamar-se a isto cooperar? Como pode a escola cumprir a sua missão educadora enquanto o aluno for para ela o indivíduo cujos antecedentes desconhece, cuja reacção familiar não acompanha, cuja orientação de vida se passa à margem da sua acção? E que dizer da atitude da família?

Porque não enveredar pela prática habitual das reuniões de pais de família, incluídos na vi da das instituições como uma obrigação? Os benefícios incalculáveis que adviriam da colaboração leal e directa dos educadores justificam plenamente a generalização desta prática, até hoje raramente usada.

Porque não pugnar também pela revivescência do espírito de discípulo, único que traduz uma colaboração activa entre o educador e o que vai fazer render o trabalho deste pelos seus próprios recursos? Este seria de alimentar também por meio de encontros entre professores e alunos, a proporcionar sobretudo nos últimos anos idos cursos secundários e médios, e indispensàvelmente nos cursos superiores.

Sr. Presidente: seria impossível analisar no tempo em que me é permitido usar da, palavra pelas disposições do Regimento todo o problema da educação, ou sequer todo o problema escolar. Por isso é meu intuito pôr em relevo apenas um ponto, que me parece de tal importância que justifica a atenção especial que lhe

presto, e que eu peço seja tido em consideração por a queles que têm o poder e a competência para lhe dar solução.

Falei há pouco da campanha contra o analfabetismo. Tacitamente vem a propósito falar da escola primária, a quem está especialmente confiada, e que tão importante está a tornar-se na vida nacional, por ser frequentada pela quase totalidade da população do País.

Permita-me V. Exa., Sr. Presidente, uma brevíssima indicação numérica, que poderá elucidar esta Assembleia:

(ver tabela na imagem)

salas revogar em definitivo o regime de desdobramento -, será suficiente a escola primária para que corresponda a um ponto final na vida escolar da maioria dos portugueses?

Dos futuros homens? Das futuras mulheres?

Transmite ela porventura os conhecimentos essenciais para a vida? Forma ela o carácter de tal maneira que a criança possa resistir a todos os perigos da vida social, da rua, para muitos?

Estará a criança ao sair da escola em condições de produzir trabalho útil: pela idade, pela preparação adquirida?

Eu deixo a pergunta em aberto.

Vejamos qual a população que constitui os 70 por cento (número aproximado) das crianças que depois do exame de 1.º ou 2.º grau não voltará à escola.

É a grande massa da população rural; daqueles que, uma vez deixada a escola, vão entregar-se, aos trabalhos acessórios da vida agrícola, leves uns, como guardar as ovelhas, fazer recados, etc., desproporcionados com as forças físicas da criança outros; na maioria de fraquíssimo poder educativo.

É também aquela população infantil das aldeias e vilas, não forçosamente ligada à vida agrícola, oriunda de famílias médias, como as dos pequenos lavradores e comerciantes, que, pela permanência na província, está forçosamente desviada das escolas secundárias e médias.

A outra classe, que só conhece a escola primária, é a população mais pobre, melhor diria, mais desorgani-