refiro apenas à classe pobre e miserável - , vive com capitações mensais baixíssimas e vive, o que é mais grave ainda, na angústia de não poder resolver alguns dos seus problemas mais urgentes: pagamento de renda de casa, assistência medicamentosa e educação ou, melhor, preparação dos filhos para a vida.

Vozes : - Muito bem !

Vozes : - Muito bem, muito bem !

A Oradora: - Sr. Presidente: quando tenho de trazer a público certos aspectos da vida social tenho muitas vezes a sensação do vazio que podem ter as minhas palavras, e tortura-me a ideia de que elas sejam só palavras: eu quereria traduzir a realidade viva daqueles que sofrem no silêncio da luta pela vida, ignorados alguns, outros demasiadamente conhecidos pela sua situação difícil. É que, Sr. Presidente, aqueles de nós que não tomam contacto directo com os problemas sociais, pela acção ou por os terem experimentado, facilmente minimizam os males e fleumaticamente alinham soluções.

Não há que sofismar: a natureza é assim. Nesta matéria só se avalia, só se mede o sofrimento quando se vive com ele. O resto é ... puro academismo, para lhe não chamar outra coisa . . .

Vozes : - Muito bem !

A Oradora: - Apesar de lidar já há tantos anos com problemas sociais da doença, da fome, da miséria, sinceramente confesso que sinto haver um abismo entre escrever um trabalho sobre o papel e deixar que a dor se inscreva, se imprima na nossa carne, se instale na nossa vida. Para ter o direito de falar dessas graves situações é preciso ter sofrido também. Só pelo coração me atrevo a pôr o problema, pois, apesar de tudo, falta-me o melhor título do autoridade.

Não apoiados.

O problema da situação material é fundamental na vida da família: para a sua estabilidade, para a sua morigeração, para, numa palavra, a sua realização. Nem só anjo, nem só animal - e Pascal lembra-nos o perigo que há em querer fazer o anjo sem contar com o animal. O homem, no cumprimento do seu destino espiritual, está submetido às exigências do seu destino temporal.

É no mundo da matéria que ele tem de, à custa de incessantes e penosos esforços, encontrar os meios necessários à sua subsistência, ao exercício das suas faculdades, à realização do seu destino temporal. As necessidades materiais são comandadas pela natureza do homem, considerado na sua totalidade.

As primeiras necessidades do homem têm como objectivo prover ao seu sustento e ao de sua família, pois que, repito, «a natureza impõe ao pai de família o dever sagrado de alimentar e educar os seus filhos».

E vivem ainda tantas famílias sem terem o mínimo de recursos para satisfazerem as suas necessidades vitais, quanto mais para terem um mínimo de virtude e poderem realizar-se integralmente! . . .

Vozes: - Muito bem!

eficazmente, e peço também um mínimo de inquietação em todos os que têm responsabilidades na resolução deste estado de coisas.

O sentir os problemas, Sr. Presidente, é meio caminho andado para a sua solução. Quando se lhes não pode tocar com as mãos ou olhá-los com os olhos, que se lhes toque ao menos com o coração, e logo se descobre como acudir-lhes.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: -Vejamos agora, sumariamente, alguns problemas que afligem as famílias em geral, como se procura assistir-lhes e como se deveria fazê-lo.

É pelo trabalho, meio universal de prover às necessidades da vida, que o homem tem de angariar o seu sustento. Não têm os chefes de família outra maneira de o fazer. Mas, infelizmente, apesar de o Comissariado do Desemprego pagar para desempregados, na aplicação de meios directos - desempregados admitidos em centros de reeducação e aperfeiçoamento profissional, desempregados admitidos na fiscalização das obras comparticipadas, desempregados admitidos em centros oficinais de trabalho a cargo do Comissariado, etc. -, uma média de 27 000 contos anuais (sem falar nos meios indirectos de comparticipações concedidas nos encargos de mão-de-obra, que andam à volta de uma média anual de 160 000 contos), apesar disso e dos 5:005.000$ que o Instituto de Assistência à Família distribui anualmente pelos desempregados, apesar disso, a crise de desemprego ainda se faz sentir fortemente.

Não creio que estas crises sejam motivadas só pela falta de trabalho, mas, sobretudo, pela falta de preparação profissional. Outros factores agravam por vezes profunda e intensissimamente certas regiões. É o caso de Setúbal, de toda a costa algarvia, de toda a orla marítima do País, regiões que vivem de uma só actividade industrial, sujeita à flutuação imprevisível de uma matéria-prima como é a do peixe. Aqui só a criação de uma indústria subsidiária poderia resolver eficientemente o problema.