Não é sistema a seguir o que só tem estado a aplicar: a concessão de sopas e subsídios para as épocas de crise, que se repetem numa regularidade já bem conhecida. São verbas enormes que assim se despendem e sempre, sempre, insuficientes, porque atacando os efeitos não remedeiam por forma alguma as causas que lhes dão origem.

Vozes: - Muito bem!

ectamente ligada com a do trabalho é a da insuficiência dos salários.

Vimos este ano, num apreciável acto de boa vontade do Governo, aumentado o abono de família e atenuadas, portanto, as carências da economia familiar.

Mas é tão baixo o nível de vida da classe média que não podemos contentar-nos com as tabelas estabelecidas e ficamos a esperar os aumentos necessários na primeira oportunidade.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Há ainda que recordar que ficam de fora do aproveitamento desta regalia toda a classe rural e milhares de chefes de família que não trabalham por conta de outrem! Como acudir-lhes?

Ainda dentro do sector do desemprego e da insuficiência de salário cabe, embora pareça paradoxal, o trabalho da mulher fora do lar. A mulher que é forçada, com risco da sua saúde e até da sua própria vida de família, a ir procurar fora o salário complementar para as despesas de cada dia.

Num lar abandonado durante o dia pela mãe de família, chamada para o exterior pela profissão, a vida de família não existe. Deixa de ser um lar, para ser apenas um abrigo onde o chefe de família, depois do seu trabalho, procura em vão o reconforto e o estimulante que dão sentido à sua actividade e à sua vocação de chefe de família.

As crianças são aí empecilhos. Crescem aos empurrões, aos safanões, sem lhes ser dada a educação a que têm direito.

Diz a nunca envelhecida Quadragésimo An no:

É em casa, em primeiro lugar, ou nas suas dependências e nas ocupações domésticas o trabalho das mães de família. É preciso, pois, a todo o custo, evitar que as mães de família, por causa da modicidade do salário paterno, sejam constrangidas a procurar fora do lar uma ocupação remunerada, desprezando os deveres especiais que lhes incumbem, mormente o da educação dos filhos.

Prejudicial à família, o trabalho da mãe fora do lar é-o também para ela própria. Deverá proibir-se então o trabalho da mulher casada?

A interdição não seria uma solução Feliz, até porque depressa criaria outros problemas e abusos. «O sistema do constrangimento não conduzirá nunca à eternidade».

Uma sensata regulamentação do trabalho da mulher ?? seria agora ocasião para fazer algumas considerações acerca do trabalho nocturno, que Mons. Santos Carreto abordou tão proficientemente, não se dispensando de me lembrar os compromissos que, por ocasião de uma reunião de operárias na Covilhã, assumi perante as mesmas operárias, dos quais não me distrai, desejando, no entanto, trazê-los a lume noutra ocasião ??, mas, dizia, uma sensata revisão da regulamentação do trabalho feminino e a aplicação do salário familiar integral parecem-nos os elementos essenciais para uma solução adequada. Residindo a principal causa do trabalho da mulher casada na insuficiência dos recursos do casal, é pela adaptação das remunerações aos encargos da família que se deve estimular a presença da esposa no lar.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Lembrados estes dois problemas ?? é nosso papel trazer a lume alguns assuntos que de vez em quando nos parece dormirem na cinza das próprias labaredas que se atearam em seu louvor, mas a que falta de continuidade, e não sei que mais artes, tiraram o calor e a chama --, resta dar uma nota sobre o problema da habitação e da assistência médica e medicamentosa.

O primeiro tem sido e continua a ser instantemente posto por todos os que sentem o drama das famílias, que não têm onde abrigar-se.

Já aqui tive ocasião de pôr o assunto relativamente à família, à qual dar habitação é garantir vida moral, espiritual, sanitária e até possibilidades de recuperação económica.

Ainda há poucos dias alguém escrevia num dos jornais da capital: «O problema, da habitação tornou-se uma autentica questão de salvação nacional», e acrescentava, louvando tudo o que se tem feito, que, tomando o número de famílias constituídas em Lisboa e Porto entre 1940 e 1950 e comparando-o com o ritmo da construção no mesmo período, se verifica que a situação se mantém estacionária.

De tal maneira me inquieta este problema que sinto vontade de voltar a ele com a alma toda de quem quer mais do que o que pode. Desejo, no entanto, fazer daqui um apelo ao Governo, que não pode, porque talvez não deva, fazer tudo neste campo: ajude largamente, mas ajude para ajudar mesmo, todas as iniciativas particulares que, pelos mais diversos meios, procuram resolver o problema da habitação.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Resta-me falar da assistência médica e medicamentosa.

Ouve-se dizer a cada passo, e com justificadíssima razão: «Não se pode estar doente». E é verdade que se não pode adoecer, porque se não pode arcar com as despesas da assistência medicamentosa e porque as entradas nos hospitais de especialidade e sanatórios não se fazem ainda com facilidade.

Ninguém queira sentir a angústia de, por falta de recursos, não poder comprar o remédio de salvação para o marido, para o filho, para o pai ou para a mãe. E casos destes sofrem-nos cada dia centenas e centenas de famílias. E sente-os a classe média mais do que ninguém.