A Oradora: - Mas eu ainda discuto se deve ser esse mesmo pessoal a fazê-lo, porque esses inquéritos trazem sempre um sentido odioso, e julgo que é preciso libertar o serviço social desse inconveniente e coloca-lo de forma a mostrar que o serviço existe para bem do interessado e não apenas para averiguação duma necessidade de que vai depender a sua situação de porcionista.

Julgo que deve haver um campo de agentes auxiliares.

O Sr. Almeida Garrett: - Então para que servem as auxiliares sociais? E sem os dados dos inquéritos a acção social não tem indicações das famílias a atender.

A Oradora: - É que a doutrina de serviço social também se põe as auxiliares.

O Sr. Carlos Mendes: - Ninguém pensa como se há-de compensar o esforço extraordinário de raparigas que levam três anos a tirar o seu curso. Todos querem que elas dêem trabalho, mas ninguém pensa em pagar-lhes. V.Ex.ª melhor do que eu sabe que isto é verdade.

solução esta para já embora esta não seja a solução ideal, em criar junto de cada organização e os agentes necessários para tal fim. Isto a bem do respeito a atenção que são devidos ao assistido e dos próprios interesses da instituição.

Mas enquanto que o estado esta a organizar ou a caminho de organizar nos seus hospitais e serviços de inquéritos privativos apesar da urgência e da permanência das necessidades que tem de dar remédio grande numero de instituições no desconhecimento da utilidade e fins do serviço social, prendem apenas com a instalação deste servir interesses económicos imediatos.

Ora, é essa a mentalidade com que é preciso acabar, esclarecendo as instituições e o publico até onde for preciso.

Vozes: - Muito bem !

A Oradora: - Sr. Presidente este aspecto do inquérito, frio e burocrático, feito através do serviço social, e, o que é mais grave ainda, confundido com ele, é a morte do serviço social, o mesmo é dizer o descrédito do serviço social familiar entre nós. E eu como assistente social e com responsabilidades neste sector, leal e francamente não posso calar o meu desagrado por este estado de coisas. Serviço social familiar e assistência social igual a inquérito e a uma ficha informativa, positivamente não. Serviço social igual a cadastro dos pobres, como por tanta parte se exige, não. Esta expressão está mais do que ultrapassada. Serviço social equivalente apenas à solução material das dificuldades de, uma obra social ou pura se averiguar o número de pobres de uma cidade, vila ou aldeia, é hoje um erro sem desculpa para os responsáveis.

O inquérito não é um fim, é um meio, meio de que convém não abusar porque, além do mais, há que respeitar as famílias, o seu tempo, o seu pu dor, a sua dignidade e, até, a sua paciência.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - É, que, para o realizar perfeitamente e segundo a técnica e o espirito do serviço social, é necessário que ele nos dê não só a parte negativa de todas as necessidades, mas também a parte positiva, a de todos os valores morais, de todas as potencialidades da família, para que por elas e através dela, se faça a sua recuperação.

Um inquérito social deve dar-nos, portanto, um quadro real com luz e sombra, com primeiros e segundos planos, nunca para dai- apenas a pincelada duma necessidade, duma miséria, duma lacuna, e, muito menos deve servir com carácter exclusivo ou principal a economia das instituições. Apesar desta ânsia de inquéritos, há, no entanto, Sr. Presidente (o Mundo é assim!), quem critique a assistência, e muito especialmente a assistência à família, por ter ao seu serviço muitas agentes, cujos ordenados, diz-se, mais valera que fossem distribuídos em subsidiais. É primária a mentalidade de quem fala assim.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Não há dúvida de que dizer isto é desconhecer completamente toda a missão educativa que envolve o nosso conceito de assistência social e o sentido de reconstrução e levantamento que incumbe ao serviço social familiar.

O Sr. Cortês Pinto: - Quando se fala em verbas despendidas com os ordenados das agentes sociais, e se diz que esse dinheiro redunda em falta para os pobres, não pensam essas pessoas que uma das funções do serviço social é justamente colocar os elementos da família em condições de produzirem rendimento para a economia familiar.

Nestas condições, a nomeação de visitadoras e agentes sociais não só aperfeiçoa a obra da assistência à família, mas representa ela própria uma assistência realizada nas próprias famílias dos agentes.

Também a elas se torna necessária a compensação económica dos dinheiros gastos para colocar as filhas, com a esperança do auxílio futuro que elas lhe possam trazer ou, pelo menos, da independência económica que possam conquistar.

Com que direito vai o serviço social pedir a uma fábrica a admissão de mais um empregado quando esta fábrica sabe que os serviços sociais têm necessidade de empregados para os seus próprios serviços e deixam tan tas visitadoras necessitadas com curso e sem colocação? E tanto mais estranho quanto é certo que esses serviços redundam em beneficio do próprio serviço social.

Há realmente uma falta de visão. E que nomear para os serviços sociais os agentes necessários pura executar o seu trabalho é também e ainda fazer serviço social e familiar.

A Oradora: - Obrigado a V. Ex.ª, Sr. Dr., pela sua intervenção tão proveitosa, pois veio esclarecer um aspecto que eu não tinha focado.