de homem de estado, é necessário ter vivido como eu vivi, bem novo e cheio de fé, aqueles tempos; ter. assistido àquela, luta e adquirido a experiência que a minha vida destes últimos quarenta anos de labuta constante me consentiu. Porque depois daqueles tempos, continuando na luta, fui Deputado no tempo de Sidónio e no da demagogia de 21 a 20 e trabalhei nos movimentos militares de Monsanto, de Gomes da Costa e depois no de 28 de Maio. E se agora venho tomar a palavra é porque fui testemunha viva de todos estes acontecimentos que encheram a minha vida, nos quais me envolvi e donde tantas feridas físicas, materiais e morais me vieram, e porque desejo fazer-vos parte desta, experiência dolorosa, da qual Salazar conseguiu livrar-nos.

Vozes: - Muito bem!

maçónico republicano, que do fim do século XVIII ao começo do XIX, com as agitações aia Península e nas colónias americanas, deu cabo da nossa hegemonia atlântica, ao mesmo tempo que arruinava a Espanha com aquela série de sucessivas revoluções na Europa- e na América- que fizeram desaparecer a importância ibérica, no Mundo, feria também o Empório Português, destacando-lhe o Brasil.

Mas ainda mantínhamos um largo poderio em África. A estirpação que nos fizeram do Congo e de muitos lugares das costas ocidental ,e oriental da África, onde tantos interessas tínhamos mantido; o Tratado de Berlim, com a penda das zonas cedidas à Alemanha e à Inglaterra; mais tarde a nova invasão do Niassa e do Tanganica tinham reduzido de muito aquilo que nós, em bom direito, considerávamos nosso. Isto passara-se durante os reinados de D. João VI, de D. Maria II, de D. Pedro V e de el-rei D. Luís, que, apesar de esforços heróicos, não tinham conseguido que - enfraquecidos pela invasão france sa, pela guerra peninsular e pelas graves e longas lutas liberais - pudéssemos salvar serião uma parte.

El-rei D. Carlos logo nos primeiros anos do seu reinado foi também surpreendido pelo ultimato de 1893.

Naturalmente para salvar o resto, aquilo que ainda temos, teve do tomar enérgicas medidas, e a primeira foi a obra de ocupação da nossa África pelas duas costas, onde os nossos heróis africanas actuaram com uma energia, rapidez e acerto que surpreendeu quantos estavam à espera de ver facilmente ruir o resto do nosso poderio africano.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Os Zulos foram vencidos, apesar de auxílios estranhos, e o Sul de Angola foi ocupado; Enes, Mouzinho, Aires e Coutinho, numa costa, e Paiva Couceiro, João de Almeida, Freire de Andrade e tantos outros, que não cito para me não alongar, são os nomes dos nossos grandes africanos que fizeram frente ao perigo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas a cobiça, não afrouxava: Angola e Moçambique eram consideradas ainda muito grandes para um país pequeno e pobre ter o direito de as administrar e desenvolver.

E então o País viu-se estranhamente apertado economicamente, ao mesmo tempo que a tranquilidade interna era sacudida e complicada por uma surda e vigorosa campanha- de descrédito da monarquia.

Foi então que toda a sanha se concentrou contra o grande incompreendido e por isso desgraçado rei D. Carlos, porque, intelectualmente, patriòticamente e mesmo fisicamente de figura imponente, era o verdadeiro anteparo e a defesa da nossa pátria.

E para o poder destruir recorreu-se a uma miserável e caluniosa campanha de difamação, em que se não pouparam o rei, a rainha, a monarquia e os homens políticos que a serviam.

E esta campanha, que, em nome da liberdade de opiniões, deixaram criar e crescer, infectou e perverteu de tal modo a opinião pública que foi possível surgissem, tidos como salvadores, aqueles alucinados que puderam, perante a Nação atónita, mais que revoltada, perpetrar o regicídio de um dos nossos maiores reis.

E tão pervertida estava a vida política da Nação que os próprios políticos -pior, os próprios chefies políticos - se não aperceberam da voragem em que a Nação ruía. Foi contra esta decomposição nacional que el-rei D. Carlos, cônscio do perigo gravíssimo, se decidiu actuar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Afastados do Governo os políticos demasiado ligados às intrigas partidárias e por isso não livres de actuar, chamou ao poder João Franco, que se tinha já dantes revelado um homem enérgico e são, inteligente e audaz, livre de compromissos políticos, que por isso pareceu o único capaz de pôr maio à enorme obra de regeneração de que o País em tal momento necessitava.

Foi assim que João Franco subiu ao poder.

Mas sanear um país no estado de desordem em que o nosso estava, agravado ainda com a malevolência dos que nas queriam ver perdidos para nos forçar a entrega, depois de reduzidos à pobreza; apaziguar os adversárias, convencer os indiferentes, vencer a propaganda republicana, animada e talvez subvencionada por quem tinha interesse na ruína, foi obra titânica e tão difícil que em tal momento não conseguiu vingar.

El-rei D. Carlos e João Franco actuaram numa época eivada daquelas ideias liberais, filhas das teorias da Revolução Francesa, consequentemente, num meio que os não podia compreender.

Tentaram livrar-se delas valendo-se das modernas concepções filosóficas e políticas de onde surgiram depois os governos autocráticos de Mussolini e de Hitler, mas no tempo de João Franco a experiência da primeira grande guerra não tinha frutificado e não tinha ainda amadurecido a psicologia dos povos modernas, porque ainda não tinham surgido aquelas doutrinas que entre nós os integra listas difundiram. Incompreendidos, todos se lhes puseram contra, os acoimaram de tiranos e os fizeram soçobrar.