sistemático ao padre. Nunca vi que os padres mo fizessem mal.

É certo que já por mais duma vez fui alvejado a tiro, debaixo de escolta, mas pêlos anticristos. É certo que já fui traído - eu e a minha família - na defesa de direitos morais iniludíveis, perante a justiça, em tribunais portugueses, mas por indivíduos sem escrúpulos religiosos de espécie alguma.

Não sou positivamente um familiar da Igreja; lia mesmo quem me considere um atou . . . E, no entanto, posso atestar que o dilema amarfanhante do "crê ou morres" só me fui posto até hoje pelos inimigos da Igreja.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mal conheço as regras do culto; não sei benzer-me; não sei ajoelhar; e, todavia, em parte alguma me sinto homem livre como diante do altar de Deus.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Surge agora uma questão delicada, que pode porventura colidir com a sensibilidade religiosa. Refiro-me à inspecção médica pré-nupcial, que neste aviso prévio me parece constituir matéria pertinente. Ouso preconizá-la, com as devidas reservas, claro está, mas com a consciência de que a eugenia também tem os seus direitos.

Consta-me de boa origem que o Ministério do Exército, patrioticamente e compenetrado do papel que lhe pertence na defesa do vigor da raça, exige aos dois nubentes, em todos os casamentos de militares, a apresentação de atestados em que se prove que não são portadores de doenças infecto-contagiosas, nomeadamente tuberculose.

O Sr. Santos Carreto: - V. Ex.ª dá-me licença?

Tratando-se de uma afirmação que me parece tão gravemente ligada ao problema familiar, desejava que Ex.ª me esclarecesse se esse atestado pré-nupcial exigido pelo Ministério do Exército é apenas a título informativo ou importa de facto um impedimento para o matrimónio?

O Orador: - Não conheço ainda nenhum caso de impedimento, por isso não posso informar V. Ex.ª

O Sr. Santos Carreto: - Devo dizer a V. Ex.ª que a Igreja nada tem a opor a uma cuidadosa inspecção médica autos do casamento, pois que a própria Igreja, desejando as famílias robustas, é a primeira a aconselhar aos nubentes doentes que adiem o casamento até ao restabelecimento da saúde. Se, porém, apesar do insistente conselho, os nubentes persistirem em fazer o seu casamento, nenhum impedimento poderá haver por parte da Igreja.

O Orador:-Suponho que a acção do Estado não irá além do pensamento da Igreja, determinando, quando muito, o adiamento do enlace matrimonial.

Seja-me permitido apresentar um caso concreto em que o Estado não teve necessidade de intervir.

Conheço um oficial do Exército que aos 25 anos contraiu uma tuberculose pulmonar. Estava para casar e não casou; e não casou de sua livre vontade. Curou-se ao fim de um ou dois anos; casou passados dez e teve e tem filhos robustos, o que provavelmente não teria sucedido se tivesse casado em plena crise.

O Sr. Santos Carreto: - fui prudente esse oficial e só merece louvores.

O Orador: - Foi honrado. O que não podemos ó confiar em que todos procedam da mesma forma.

Considerando que a saúde se transmite de geração em geração, iluminando as loiras cabeças dos pequeninos lutadores do porvir, acho esta medida perfeitamente legítima e operante, e pergunto apenas porque não se torna extensiva a todos os casamentos entre civis.

O Sr. Cortês Pinto: - V. Ex.ª não sabe se esse atestado é ou não operante. Ora eu entendo que se o Estado o exige é para ser operante e acho mesmo que ele pode e deve ser operante, sem contudo ser impeditivo.

O Orador:-Operante, na acepção de impeditivo, não deve ser.

O Sr. Cortês Pinto: - Pode ter uma acção sobre os nubentes, levando-os voluntariamente a desistir, pelo menos de momento, duma ligação que poderão fazer mais tarde, como aconteceu com o exemplo do oficial que V. Ex.ª citou. Aí está como o caminho traçado pelo atestado pode conduzir realmente a uma acção operante, útil e não impeditiva.

O Orador:-V. Ex.ª, nessas condições, aprovaria que essas medidas fossem extensivas aos casamentos civis?

O Sr. Cortês Pinto: - Certamente.

O Sr. Trigueiros Sampaio: - Até hoje só o Ministério do Exército é que tomou tais medidas.

O Orador: - Sim, senhor, e a meu ver salutares.

Mas continuando: seria talvez a melhor garantia para aqueles a quem algum dia havemos de transmitir o facho da nossa Revolução, na certeza de que hão-de empunhá-lo mãos fortes e valorosas.

Outro assunto que vem a propósito: o desemprego que se está verificando entre os chefes de família com mais de 30 anos de idade.