grave problema eborense. É que toda a minha actuação, quer nesta Assembleia, em intervenções várias, quer pessoalmente junto das estações oficiais, não teve carácter pessoal.

Actuei, sim, como presidente do Grupo Pró-Évora, orientado pelo espirito e responsabilidades dessa antiga agremiação cultural eborense, que, embora representada por outras pessoas, teve interferência decisiva já na primeira fase, quando da expropriação e compra pelo Estado do Convento dos Lóios, anexo à Biblioteca Pública de Évora, para se conquistar o espaço para a futura instalação do núcleo do visconde da Esperança. Não fiz mais do que fazer renascer e activar uma questão que vinha sendo tratada desde a origem pelo Grupo Pró-Évora.

O presidente da direcção, que eu sou há muitos anos, utilizou o Deputado, que eu também tenho sido, para mais eficaz defesa de um interesse cultural eborense.

Logo após a subida ao Poder do actual ilustre Ministro das Finanças, renasceu em mim a esperança de que talvez encontrasse eco no espirito culto e compreensivo de S. Ex.a, que conhecia o assunto até de conversas

particulares havidas nesta sala, quando da sua situação e Deputado.

E não me iludi.

Fiz então nova intervenção, em 18 de Janeiro de 1952, e logo a seguir verifiquei pessoalmente que existia a melhor receptividade da parte do Sr. Ministro das Finanças.

Assim, provocados os contactos entre os herdeiros e o Ministro, a questão avançou até à compra por parte do Estado.

Não devo, não vale a pena ressuscitar aspectos desagradáveis do problema, que durante cinco anos se arrastou, mudou de rumo e até originou intervenções nesta Assembleia, animadas de certo espírito polémico.

De resto, a Assembleia tomou conhecimento dos principais passos do processo.

E, como diz o provérbio francos: tout est bien Qui finira bien, neste momento de encerramento desse processo há que passar a clássica esponja sobre o que de desagradável e injusto se passou.

Assim, o núcleo de cimelios, isto é, a nata dessa famosa biblioteca, que tinha há dois anos e meio sido carreado para Lisboa, regressou à base no sábado de Aleluia, apenas diminuído nalguns exemplares sem maior interesse para a rica biblioteca, que já possui, de quase todos eles, duplicados.

Também é de pouca importância a colecção camoniana, que foi, atribuída a outros serviços, porquanto a Biblioteca de Évora é já rica nesse sector.

Triunfou o bom senso e a justiça, e, mais do que a vitória de uma importante causa eborense, ficou reforçada uma política, a política do respeito pêlos patrimónios locai?, a política da valorização desses patrimónios, com larga projecção no grande turismo, do turismo da cultura e da arte.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Portanto, liquidado e encerrado este processo, resta-me agradecer a V. Ex.a, Sr. Presidente, e a W. Exa., Srs. Deputados, a paciência e interesse com que acompanharam e tacitamente apoiaram as minhas impertinentes intervenções.

Devo agradecimentos ao, Sr. Ministro das Finanças por ter promovido a compra do núcleo do visconde da Esperança e por ter, na última fase, concedido as necessárias facilidades pura a incorporação desse núcleo na Biblioteca Pública de Évora.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Também são devidos agradecimentos ao Sr. Ministro da Educação pelas facilidades que agora surgiram da parte do seu Ministério para se efectivar a recepção.

Vozes: -Muito bem !

O Orador:-Não ficaria quite com a minha consciência se não salientasse, neste momento, a rainha gratidão para com o ilustre director da Fazenda Pública, a quem Évora ficou devendo um alto serviço de franca e de leal cooperação, e para com o Ex.mo Governador Civil de Évora, pondo tio serviço da causa a sua influência e prestígio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Reservei para o fim, pura maior destaque, os agradecimentos ao Governo e, em especial, ao Br. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Sempre tive convicção arreigada de que justiça seria feita a Évora, se o Sr. Presidente do Conselho pudesse no maré nalgum dos seus afazeres prestar atenção ao desenvolvimento deste processo.

Estava no exacto estado de espirito do homem simples, a quem algumas vezes tenho ouvido dizer, quando ao lamentar-se de qualquer injustiça: «Se o Sr. Doutor Salazar soubesse disto, não teria sido vítima desta prepotência».

E realmente neste caso da Manizola não foi o Sr. Presidente do Conselho o símbolo da justiça, mas a própria justiça que interveio e decidiu.

Vozes: -Muito bem!

O Orador:-Não tenho palavras para lhe manifestar a minha gratidão, a gratidão da cidade de Évora, senão fazendo votos ardentes por que Deus lhe conceda longa vida para bem de Portugal.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: -Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão a proposta de lei sobre a execução de obras de pequena distribuição de energia eléctrica.

Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Vaz.

O Sr. Manuel Vaz: -Sr. Presidente: tudo o que só faça no sentido de melhorar as condições de vida no campo e suas povoações, dando-lhes mais trabalho, bem-estar e conforto, nunca será de mais.

Trata-se do cumprimento de um dever patriótico, que é simultaneamente uma obrigação social.

Patriótico porque é precisamente à nossa ruralidade que o País confia a defesa da integridade nacional, exigindo-lhe a entrega dos seus filhos, que conservam no arcaboiço forte dos seus peitos a chama ardente de amor da Pátria e nos seus corpos o vigor físico indispensável à realização de tão nobres destinos.

São esses filhos do campo os que, em maior número, arcam com essa gloriosa tarefa.