revoltados em nome da ardam, rebeldes em nome da Pátria, veio a derrota.

Com a derrota a condução às prisões: primeiro a Penitenciária, depois a fragata D. Fernando, presidio de Santarém, Forte da Graça, em Eivas, presidio Trafaria e Torre de S. Julião da Barra. E há aqui uma nota singela n salientar nesta pequena história vivida: quando os oficiais derrotados foram conduzidos, à frente dos seus soldados, à Cadeia- Penitenciária de Lisboa, o Governo de então, forte tia sua vitória, teve - honra lhe seja! - um gesto de nobreza. Entendeu que esses soldados, que haviam simplesmente cumprido ordens dos oficiais seus superiores, não deviam sofrer castigo. Isto porque esses oficiais, logo na primeira hora, souberam definir responsabilidades, souberam dizer que elos eram os únicos culpados do sucedido. Foi comunicado aos soldados, no pátio da Penitenciária, que o Governo da República tivera tido esse gesto generoso.

Em liberdade, os soldados foram conduzidos imediatamente para os antigos aquartelamentos.

Mas antes assistiu-se a esta coisa singular: os soldados, em vez de darem vivas ao Governo da República, que os libertara, voltaram-se para as janelas da Penitenciária e deram vivas aos seus oficiais.

Dois gestos bem portugueses: um, do Governo, que perdoava; outro, o daqueles soldados orgulhosos, que, acima de tudo, queriam significar que continuavam solidários com os homens que até então os tinham comandado.

Quase uni uno depois, eles vieram ainda demonstrar essa solidariedade, seguindo os mesmos oficiais noutro movimento: o 28 de Maio de 1026.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seguem-se as prisões e, naturalmente, o julgamento. Mas entre as prisões e o julgamento houve algo que exprimia os costumes jurídicos desse tempo: a demissão, anterior a formação de culpa, de alguns dos oficiais reputados mais responsáveis. Respeito pela justiça, respeito pela democracia, do qual já haviam sido dados exemplos na repressão dos movimentos monárquicos, na repressão de quaisquer revoltas que se dessem contra a tirania democrática.

Mau exemplo, que as vezes tem sido seguido por outros; mau exemplo, que não devia ser seguido por ninguém.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Julgamento - Sala do Risco. Um júri de cinco generais austeros, serenos e impassíveis, de tal modo que não era possível adivinhar-se a decisão que iam tomar.

Trinta dias de debate, e o Pais aguardava ansiosamente o que ia sair desse julgamento. Porventura, seria elo somente o julgamento dos homens que estavam a responder -oficiais, sargentos e civis do 18 de Abril? Ou seria mais do que isso, muito mais que isso- o julgamento de uma política, o julgamento até do próprio regime, que não tinha sabido corresponder às esperanças que o povo havia posto nele ?

Foi uma e outra coisa. E os cinco austeros generais do júri permaneceram calmos e impassíveis perante o borbulhar das multidões, perante os escritos apaixonados dos jornais do Governo de então e perante o que diziam certos dirigentes, grandes figuras políticas dessa época, como o (Pintor» e o «Ai ó linda».

Os cinco generais do júri, por unanimidade, absolveram os réus. A absolvição dos réus era justa, porque eles tinham sabido assumir responsabilidades, porque

tinham ido ali, não como réis, mas como apóstolos, porque não tinham procurado desculpas nem inventado romances.

Com essa absolvição, afinal, o júri condenava o Governo. Condenava -vamos com Deus!- um regime que não tinha sabido ser República,.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas ao falarmos desse julgamento não teremos de colocar acima dos próprios generais do júri um outro general? Recordemo-lo: o promotor de justiça, aquele que devia ser o acusador.

Ali! Que momento de beleza sublime quando vimos erguer-se da sua cadeira esse oficial general para começar o debate, aquilo que se presumia dever ser a acusação.

Ergue-se uma figura gentil, um homem magro, quo parece velho mas tem dentro da alma a coragem e o carácter da mocidade, que parece pela linguagem um diplomata mas sabe ser duro quando é preciso ser duro, sabe ser valente quando õ preciso ser valente, sabe, dar exemplo da energia a um país inteiro quando esse pais de tal exemplo necessita.

Vozes: - Muito bom!

O Orador:-Ergue-se o acusador público, olha para o júri, olha para a assistência, olha para os réus. põe as mãos em cima da secretária e começa assim:

Quando, num julgamento como este, se vir no banco dos réus militares tão distintos, a explicação só podo ser uma: a Pátria está doente.

Para quo citar o nome deste homem, para que continuar a reprodução do sen discurso, se esse nome a temos todos dentro do coração?!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Esse discurso foi o princípio de uma carreira política - não a do autor, quo já havia começado a sua havia muitos anos -, rias a carreira política do regime do 28 de Maio, iniciada naquele dia naquela sala. não só com a condenação de um regime aviltante, mas também com as palavras de esperança de quo a doença algum dia viria a ser curada.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-E por coincidência que está nas coisas de Deus, o que, como está ias coisas Deus, não pode ser simples coincidência, esse general, promotor de justiça no 18 de Abril, morreu, fez ontem anos, como Chefe do Estado Português.

Honremos a memória do marechal Oscar Carmona, o único nome que cito, por ser o nome que todos veneramos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - A ordem do dia é a efectivação do aviso prévio do Sr. Depurado Cerveira Pinto sobre a pesca fluvial.