dir cultura, mas a cultura não é estritamente ciência, nem uma e outra em si mesmas são apanágio das profissões que por via universitária se obtém. Do homem médio terá a Universidade de fazer um bom profissional -há aspectos da ciência que são pura técnica cientifica-, destinando o qualificado, o superior, para a ciência e para a investigação.

O melhor valor potencial do homem é querer e realizar, isto é, pôr problemas, trabalhar para os resolver e chegar ou não chegar até a soluções; mas se há grandes mestres que são investigadores e criadores, há notáveis investigadores que não poderão nunca ser grandes mestres - embora não neguemos a simultaneidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ora a nossa pedagogia universitária está sofrendo de um angustioso mal: a falta de sistematizadores do saber ou do talento das suas grandes sínteses.

Abstive-me de apreciar, mesmo nas suas linhas gerais, o problema das imperfeições orgânicas do novo Hospital Escolar, expostas, então, pelo Sr. Deputado Cid dos Santos.

Julgo, porém, que no domínio do ensino médico alguma coisa de grande se fez neste país, propiciando a mestres e alunos magnificas condições de trabalho, de estudo sério e de ensino útil.

Põe-se hoje o problema da sua manutenção.

É de prever que ainda neste aspecto se progrida.

O Hospital de Santa Marta teve em 1901 a dotação de 13 149 contos e pouco depois essa dotação subiu para 13 776 contos.

Se o Estado gastou anualmente e por cama, ainda quanto ao mesmo Hospital, mais de 31 contos, quanto não seria necessário sem a unificação administrativa?

Uma quantia prevista e tida por superior aos subsídios de cooperação concedidos

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Está a Faculdade de Medicina de Lisboa de parabéns.

A Universidade, no seu conjunto, continua, porém, a ser uma instituição triste e opaca. A cultura moral e social não tem extensão nem intensidade e, por isso, não aproveita à prática das correspondentes virtudes morais e sociais.

Entre as várias escolas não há coordenação nem regime de convivência, e antes total isolamento de umas em relação a outras.

Os métodos possíveis não estimulam aptidões, e antes em grande número de casos se estiolam capacidades.

Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa as aulas práticas de Botânica e Zoologia este o reduzidas de mais de 50 por cento.

Em Botânica, com cerca de trezentos alunos, dispõe-se apenas de trinta e cinco microscópios.

Na Zoologia, com o mesmo número de alunos, apenas treze, e na Mineralogia, com cerca de duzentos e cinquenta alunos, cinco.

Entre as diferentes Faculdades ou escolas superiores não existem correlações orgânicas que procurem desenvolver e fortalecer o espírito universitário - refiro-me em especial a Lisboa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -A orientação quase puramente cerebral das actividades escolares conduz à fadiga, pela extensão dos programas - os quais aliás nem consideram a separação dos cursos -, os profissionais e os de doutoramento (ser advogado não é ser jurista, como ser médico não é ser fisiólogo), e é quase nula, merco das distâncias espirituais, a vida de relação entre mestres e discípulos, perdendo-se assim o benéfico influxo educativo.

Desprovidos de qualquer actividade desportiva organizada, os nossos universitários estiolam no cinema e discutem futebol no café.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -As possibilidades não se apresentam ou realizam por si mesmas. A vida teremos nós de a preparar com vontade firme e clara reflexão. A Universidade tem de ser por isso uma organização homogénea na diversidade, em que cada um saiba o que se deve a si próprio em disciplina e objectivos certos. De contrário, as inexoráveis leis da mecânica histórica conduzirão ao inevitável: o maior número esmagará o menor, isto é, a multidão abafará o escol.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: -Vou encerrar a sessão.

A próxima será amanhã à hora regimental. A sua ordem do dia será constituída, em primeiro lugar, pela discussão das Contas Gerais do Estado e da Junta do Crédito Público e depois pela discussão, na generalidade, da proposta de lei relativa à Carta Orgânica do Ultramar.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 30 minutos.

Srs. Deputados que entraram, durante a sessão:

António Calheiros Lopes.

Joaquim Mendes do Amaral.

Jorge Botelho Moniz.

Manuel Maria Múrias Júnior.

Rui de Andrade.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Abel Maria Castro do Lacerda.

Adriano Duarte Silva.

Alberto Cruz.

Alexandre Aranha Furtado de Mendonça.

Amândio Rebelo de Figueiredo.

Antão Santos da Cunha.

António de Almeida Garrett.

António Camacho Teixeira de Sousa.

António Carlos Borges.

António Júdice Bustorff da Silva.

António Russell de Sousa.

António dos Santos Carreto.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Augusto Duarte Henriques Simões.

Carlos Mantero Belard.

Francisco Eusébio Fernandes Prieto.

Gaspar Inácio Ferreira.