O ouro de filão aparece em quantidades prometedoras no Alto Ligonha, ao norte da Zambézia, e o ouro de aluvião encontra-se em muitos rios de Moçambique. Consta que o seu teor é motivo para alimentar esperanças.

Seja qual for o futuro da economia moçambicana que muitos possam prever, há também quem julgue que presentemente a província de Moçambique atravessa um período da sua vida económica com aspecto de crise.

Houve até quem a denominasse crise de crescimento, devido ao impulso que recebeu nos últimos anos, com muitas construções, onde se investiu e imobilizou avultado capital, que se diz veio depois fazer falta ao giro diário da vida normal da província.

E ainda a outro facto se atribui: à falta de numerário em giro, que se diz ter-se sentido em Moçambique depois dos insólitos acontecimentos provocados pelo Governo da União Indiana.

Como sabemos, o comércio da província de Moçambique, e sobretudo o comércio no mato, desde sempre tem estado nas mãos de indianos naturais da União Indiana e conhecidos na província pelo nome de "monhés".

Quando o Governo da União Indiana revelou a sua audaciosa pretensão de anexar o território e a população do nosso Estado da índia, os comerciantes "monhés", receosos do que poderia suceder, resolveram retirar do giro interno da província de Moçambique, guardando e transferindo de qualquer maneira, todo o numerário disponível.

Consta que bastante dinheiro chegou a ser remetido para a União Indiana até por encomendas postais.

E o temor de represálias nossas, como resposta à violenta agressão do Governo Indiano e ao seu bloqueio económico contra o nosso Estado da Índia, levou os comerciantes monhés a pretenderem desfazer-se das suas mercadorias por todo o preço.

Como desta atitude resultasse o aviltamento do custo dos géneros, consta que lhes foi aconselhado e impedido levarem por diante esta atitude, o que somente os beneficiou.

Não se pode saber ao certo qual teria sido a totalidade do numerário retirado da circulação pêlos comerciantes da União Indiana, mas os mais entendidos e conhecedores deste assunto avaliam-na em cerca de l milhão de contos.

Ora, Sr. Presidente, a ser verdade ter-se retirado da circulação de Moçambique importância tão elevada, certamente que o facto deveria ter afectado a economia da província.

Porém, como para grandes males há grandes remédios, veio a intervenção do Governo acudir à situação com o investimento de avultadas quantias nas obras de fomento e povoamento; e, secundando o Estado, surge prontamente o Banco Nacional Ultramarino, enviando a Moçambique nesta ocasião oportuna o seu vice-governador, que ali tomou medidas de auxílio à economia da província, com a diminuição da taxa de juros e da taxa de descontos e com novos facilidades para a abertura de créditos ao comércio, à agricultura e à indústria moçambicanos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos de reconhecer, com este e outros exemplos, alguns dos quais ainda hei-de ter oportunidade de apresentar no decorrer da análise às contas públicas das restante" províncias ultramarinas, que u metrópole tem acorrido sempre em auxílio daquelas províncias, mormente nas ocasiões julgadas mais difíceis à vida das populações de além-mar.

A unidade nacional é uma verdade, existe, e os seus sintomas observam-se dia a dia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E a nossa alma no ultramar cada vez mais se engrandece, mercê da acção do Estado, das actividades particulares e das nessas missões católicas. E o colono sabe ocupar o lugar que lhe compete na vida nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: quando me referi ao comércio do mato da província de Moçambique, dizendo que sempre estivera nas mãos dos comerciantes da União Indiana, eu deveria ter esclarecido que presentemente o comerciante europeu se tem ido apoderando do comércio do mato, e nalguns caos pelo conhecido sistema das cantinas, onde de tudo se vende.

O cantineiro está a substituir vantajosamente o monhé.

Oxalá, Sr. Presidente, que o Europeu e o Luso-Indiano continuem a progredir pelo interior da província de Moçambique com a nacionalização do seu comércio.

Com muito agrado registo este sintoma, que julgo merecedor de ser estimulado pelas respectivas autoridades.

Desdobrando agora as importâncias totais das receitas e das despesas em parcelas, segundo a sua classificação em ordinárias e extraordinárias, obtemos o seguinte mapa:

Receitas entradas:

Daqui se vê que o montante das despegas pagas, quer de natureza ordinária, quer extraordinária, não atingiu o das receitas do mesmo nome, havendo, portanto, saldo positivo em cada uma destas parcelas.

Na conta se vê também que as receitas extraordinárias utilizadas durante este exercício saíram dos saldos dos anos económicos findos.

Destes saldos retirou-se a importância de rup. 5.591:884-15-01 para inscrição no orçamento geral da provinda e para contrapartida dos créditos abertos posteriormente, que teve o seguinte destino:

Reverteu à conta do saldo dos exercícios

findos por não ter sido utilizada ....... 1.987:286-10-10