Tenho receio, Sr. Presidente, por isso, de que as minhas palavras não estejam à altura do homem a quem pretendem referir-se. Nunca o estariam, mesmo que tivesse gasto longa vigília a procurar nos arcanos das minhas reminiscências o que esse homem foi durante a sua vida de professor e, se assim posso dizer, de político; direi talvez melhor: a sua vida de professor e de homem que ocupou posições políticas.

Fui discípulo desse grande mestre, depois seu colega na Universidade, depois trabalhei sob a sua presidência nesta Assembleia.

Não vou rememorar o que elo era como professor, nem sei que alguém pudesse encontrar uma palavra original pura o definir como tal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por tal forma o nome dele, a personalidade dele, enche a alma das gerações que a gente só desgosta ao fazer um esforço no sentido de traduzir, numa palavra rápida, o que ele foi, e só acha o eco elevado, intraduzível, dessa alma das gerações. Intraduzível esse eco, mas tenho a certeza do que ú a expressão mais forte de glória do meu velho mestre, do meu velho amigo.

Não sei que haja a respeito dele uma dissonância na alma de ninguém, e muito menos na dos que tiveram a felicidade de receber a luz das suas lições.

Não sei se alguma vez alguém teve um movimento interior menos cumprimentador para o grande homem que foi o Dr. José Alberto dos líeis. Suponho que ninguém poderá sabô-lo, porque esse movimento havia de chocar tanto o sentimento geral que não chegaria a exteriorizar-se ou, se se exteriorizasse, seria por tal modo marcado de repulsa, e castigado que nunca mais esqueceria.

Há homens que se marcam por grandes coisas, por actos de excepção, e a gente pode extrair desses actos matéria suficiente para pôr em evidência n sua personalidade. Procurem VV. Ex.ªs, procurem todos os que conheceram o Dr. Alberto dos Reis, se são capazes de encontrar um momento desses na sua vida. Não o encontrarão.

A excepção nesse homem está na regularidade, na normalidade da. sua vida interna. Foi sempre igual, desde que apareceu para a vida até que morreu. Sempre o mesmo espírito claro, superiormente inteligente, superiormente justo e bondoso. A sua justiça era a equidade!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

não é só meu, mas, como V. Ex.ª disse há pouco, um pedido

que é de todos os que me ouvem, porque todos guardam na alma a mesma respeitosa veneração. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Em conformidade com o sentir unânime da Assembleia e do acordo com o pedido do Sr. Deputado Mário de Figueiredo, ficará exarado na acta um voto do profundo pesar pelo falecimento do Sr. Dr. José Alberto dos Reis, que foi muito ilustre Presidente desta Assembleia.

O Sr. Bustorff da Silva: - Sr. Presidente: as minhas homenagens a V. Ex.ª

Quando a norte nos cruza o caminho e arrebata alguém a quem nos sentimos ligados por laços de sangue, de carinhosa amizade ou de simples camaradagem, sentimo-nos tomados de um desespero acabrunhado, tocados por um ar frio que nos envolve o corpo e a alma e por um sentimento de desespero quo apenas mitiga a recordação r a saudade dos anos passados.

Fui esse mesmo transe, Sr. Presidente, que por mim passou no momento em que desapareceu do número dos vivos a figura, a todos os títulos primorosa, do Dr. Arraiado Monteiro. Mais velho do que esse desditoso português uns dois nu três anos, não fui seu condiscípulo, mas sim seu contemporâneo na Universidade. E recordei, como recordo agora, o moço quo há trinta e muitos anos cursava a Universidade, dotado de qualidades de inteligência, de uma vivacidade de espírito, de um culto das atitudes verticais e de uma educação a tal ponto elevada que fazia de todos os seus mestres, de todos os seus camaradas, um amigo, o que para os próprios condiscípulos constituiu um exemplo que os transformava nos seus mais sinceros e incondicionais admiradores.

A ninguém causou, por consequência, estranheza e triunfal e transcendente posição e que por justificados títulos, se elevou na rápida passagem que fez pelo jornalismo nacional.

E, como lógica evolução de uma inteligência e aprumo que a, todos os títulos se impunha, o doutoramento de Armindo Monteiro constituiu o natural e bem merecido termo de uma carreira escolar distinta.

Ascendeu depois Armindo Monteiro ao professorado universitário, onde só destacou pelas suas altíssimas qualidades de mestre o de amigo de todos os seus discípulos. De professor universitário, o Dr. Armindo Monteiro transitou, natural, justificadamente, para as mais altas situações políticas deste pais.

Colaborador do Sr. Dr. Oliveira Salazar no tempo em que as finanças portuguesas obrigavam a um trabalho exaustivo, depois ainda Ministro das Colónias, com a reforma administrativa e com a sábia orientação dada ao problema das transferências de Angola, Armindo Monteiro soube marcar uma situação que o tornou credor de gratidão de todos aqueles que amam e pretendem a exaltação da terra portuguesa. E quantos mais anos passam, quanto mais nos afastamos da recordação dessas horas de ascensão e de luta, mais avulta na admiração, mais avulta no culto de todos nós, o reconhecimento e, mais do que reconhecimento, o agradecimento sincero pelo sacrifício enorme que esse grande português fez em prol da nossa terra.

Passaram anos. A guerra abraçou o mundo com todas as suas brutalidade?; Londres foi vitima do blitz e quantos ali habitavam passaram a ser alvo diário do sucessivos bombardeamentos pelas conhecidas bombas V1 e V2. Interesses da nossa terra forçaram-me a partir do avião, nessa altura, para Inglaterra, com o objectivo de me avistar com o Embaixador de Portugal naquele país. Esse alto posto era então desempenhado por Armindo Monteiro.