Tem-se, por vezes, patriòticamente clamado que a siderurgia deve ser exclusivamente nossa, pelo que se impõe a solução eléctrica, tanto mais que a compra do coque fica sujeita aos conluios dos mercados internacionais.

Chega a enternecer este patriotismo. Mas a verdade é que queremos para Portugal impossíveis. Por toda a parte a siderurgia exige importações: a Alemanha importa minério, a Trança carvão, a Bélgica minério, a Inglaterra minérios e sucata, os Estados Unidos minério, a Itália minério e carvão, a Noruega carvão, a Suécia

2 000 000 t de coque por ano.

Podia-se, mesmo por acaso, ir para uma total solução eléctrica? Eu não possuo formação técnica para me pronunciar. Mas recordo que, consultada a

Direcção-Geral dos Serviços Eléctricos, esta respondeu: «Não é possível garantir a partir de 1058 o regular fornecimento dos 400 000 000 kWh/ano com destino à siderurgia».

Ainda agora, na reunião para o estudo dos aproveitamentos eléctricos, na Ordem dos Engenheiros, se concluiu que, mesmo com a terminação das obras de Picote e a construção das barragens de Miranda e Bem-posta, até 1963, se este ano for tão seco como o de 194S-1949, faltarão para o abastecimento do Puís, sem contar com a siderurgia, 350 000 000 kwh.

Para sossegar os patriotas alarmadas devo lembrar que o coque nos está assegurado, por largos anos, pois as casas fornecedoras do equipamento fabril para a siderurgia comprometem-se a enviá-lo ao preço do mercado internacional, podendo esta reter na importância a pagar pela maquinaria, a título de indemnização, 50 por cento da verba equivalente no que se teria de pagar pelas toneladas de carvão não enviadas, larga margem para se poder adquirir em qualquer outra parte, mesmo com qualquer agravamento acidental de preço.

Por certo, nau se julgará que vamos com esta parte preliminar da 1.ª fase da siderurgia nacional - 150 000 t de produção, quantidade minúscula perante a produção mundial de 200 000 000 t siderurgia e as indústrias químicas são os exemplos típicos de indústrias que exigem um número diminuto de operários em relação aos grandes capitais investidos. Basta recordar, por exemplo, que tem sido calculada para a indústria de tecelagem um operário aproximadamente por cada 21.000$ de investimento; a siderurgia só exige um homem por cada mil e tantos coutos empatados. Terá a siderurgia, portanto, nesta 1.ª fase de fazer uma mobilização só de 1200 a 1300 operários.

Não é com isto que se vai resolver o problema demográfico do Norte - que precisa de outras perspectivas, de outras soluções muito mais largas. Este aspecto é tanto mais para ponderar quanto é certo que na fase inicial, pelo menos, muitos operários especializados teriam forçosamente de ser levados para ali, do Sul, isto é, da região onde estão instaladas as maiores actividades metalúrgicas.

Resta felicitar-me por ter com o que disse conseguido que o Sr. Deputado Daniel Barbosa pedisse a palavra.

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.