instalação de uma siderurgia, depois de esta instalada, é ele que normalmente se desenvolvi: à sua volta, com vista a obter os mais baixos custos de produção para a indústria metalomecânica que o representa. Quer dizer: um grande centro de consumo na volta de uma siderurgia é quase sempre muito mais uma consequência da localização dessa siderurgia do que uma causa dela.

E assim há-de ser em Portugal. Na verdade como todos VV. Ex.ª s sabem, os nossos consumos específicos de ferro e aço são demasiadamente baixos para sobre eles podermos apoiar o desenvolvimento económico do País que todos ambicionamos; são tão baixos que me atreve a dizer mesmo que quase mio valeria a pena pensar tanto na siderurgia nacional se eles não houvessem de evoluir rapidamente num futuro próximo.

A volta da nossa siderurgia, portanto, se hão-de criar grandes centros de consumo e por ela fornecidos e fomentados, quer esteja instalada no Norte, no Centro ou no Sul.

O que interessa, portanto, é determinar a sua localização óptima, e esta tem de ser encontrada sem paixões nem razões subjectivas, antes em atenção a razões de ordem técnico-económico-sociais, que são determinantes dessa localização, na certeza de que daqui a uns anos -e muitos não serão decerto - ter-se-á criado um volumoso centro de consumo à sua volta, capaz de induzir também em erro quem depois sobre o assunto se debruce sem a cautela de o pesquisar desde o começo.

Sr. Presidente: muitos mais pontos do discurso do Sr. Deputado Mário de Albuquerque me imprensionaram profundamente, mas, porque são pontos ligados aos elementos que do Governo solicitei, ficarei aguardando o seu - envio para que, com base neles, poder formular oportunamente e a minha opinião; entretanto, seja-me lícito dizer S. Ex.ª quanto me chocou, pelo que ela tem de surpresa e pelo alarme de que ela se reveste, a afirmação de que o processo da

electrometalurgia poderia estar totalmente irradiado das soluções possíveis, pela falta confessada da energia eléctrica indispensável ao processo de fabrico mais consentâneo com o interesse e com a segurança nacionais.

Antes de terminar, Sr. Presidente e Srs. Deputados, desejaria unicamente deixar um apontamento, também em relação ao que se poderia induzir das palavras do Sr. Deputado Mário de Albuquerque, relativamente a insuficiências dentro de meio século do actual porto de Leixões.

O Sr. Deputado Cerveira Pinto, com a autoridade que tem indiscutivelmente no assunto, já prestou valiosos esclarecimentos sobre o caso; eu quereria, contudo, juntar às considerações deste Sr. Deputado a minha convicção de que meio século é de certo prazo muito longo ,para pesar demasiadamente nas nossas preocupações, em face da rapidez que caracteriza hoje em dia à evolução da técnica, da ciência aplicada, no que respeita aos transportes e à produção industrial e de energia.

E tanto é assim que se procura exactamente cobrir os riscos consequentes desta rapidez, quer tomando em linha de conta nas despesas correntes de uma indústria as verbas indispensáveis para a actualização constante da técnica empregada, quer procurando fazer amortizações em prazos muito curtos também.

Mas admito que no caso da siderurgia essa preocupação possa existir até pelo facto de que, dado o elevado montante do investimento em causa, a amortização muito rápida poderia onerar demasiadamente o produto, e então o caso de Leixões poderia ser preocupante.

O relatório a que o Sr. Deputado Mário de Albuquerque faz referência foi um dos elementos-base do Plano de Fomento, que aqui discutimos em 1953; não me posso recordar, portanto, das palavras exactas com que o problema se ,punha no relatório em questão, mas avivou-se-me memória pelo que ouvi quanto à ideia: se o desenvolvimento industrial do País continuasse no ritmo em que se encontrava, a parte que caberia ao Norte - e já nesta se incluía a siderurgia - impunha o aproveitamento judicioso de toda a área nome do maior prestigio na engenharia portuguesa e uma das nossas mais brilhantes autoridades em questões

portuárias - ...

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O Orador: - ... foi de que seria do maior alcance ir pensando que num futuro mais ou menos próximo se viria a impor nina conjugação coordenada entre o porto de Leixões e outro das suas proximidades, como o de Aveiro, por exemplo.

Tratava-se portanto, de uma preocupação com vista a assegurar uma eficiência, e não de demonstrar uma impossibilidade.

Não sejam, assim, razoes invocadas relativamente ao porto de Leixões a comprometer a localização da siderurgia no Norte do País, se esta for a que maior interesse venha a ter, repito, para o interesse da Nação.

Sem prejuízo da convicção em que me encontro quanto à melhor localização da siderurgia, termino, Sr. Presidente, fazendo votos por que realmente tão magno e delicado problema seja resolvido dentro de uma estrita objectividade, sem simpatias nem paixões antes na certeza de que a indústria siderúrgica, sendo a indústria-base de rodas as nossas indústrias, não pode ficar sujeita a sentimentalismo -; de política local ou a soluções regionais cujo interesse se não possa demonstrar com aquela rigorosa objectividade que é indispensável para que ela se acredite junto não só desta Câmara mas junto de todos os portugueses.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mário de Albuquerque: - Peço a palavra. Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário de Albuquerque: eu não queria impedir V. Ex.ª de usar da palavra, mas o tempo ...