48,9 camas por 100 000 habitantes;

l dispensário para 67 913 habitantes.

49,7 camas por 100 000 habitantes;

l dispensário para 95 741 habitantes.

Em resumo: depois de executado o plano em curso, fica o Norte com muito menor apetrechamento que o Centro e o Sul.

Em compensação, podemos ufanar-nos de taxas de mortalidade muito superiores. Assim, na área do Porto e arredores (média entre Matosinhos, Gaia, Porto, Valongo, Gondomar, Póvoa e Maia) encontramos 2,294 por mil, ou seja perto de quatro vezes mais do que a média para o continente e as ilhas (0,627).

Sr. Presidente: na desgraça somos infinitamente grandes, e para sermos pequenos pedimos ao Governo as providências necessárias, que, como sempre, nos não serão negadas.

Mas, (Sr. Presidente, debruçando-nos mais uma vez sobre o panorama da luta antituberculosa, não pode deixar de pôr-se em relevo o papel desempenhado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto, que sempre, tanto em grandeza de assistência como em qualidade de serviços técnicos, ocupou lugar destacado, mercê da competência e dedicação dos seus servidores - médicos e não médicos. E façamos agora um pouco de história.

Já em 1888, decorridos apenas seis anos sobre a sensacional descoberta do bacilo de Koch a benemérita instituição criava no seu seu Hospital de Santo António as primeiras enfermarias de isolamento para tuberculosos pulmonares. E desde então até há poucos anos foi a Santa Casa da Misericórdia que tomou sobre si o pesado encargo de hospitalizar os tuberculosos pobres do Porto, primeiro no seu Hospital Geral, mais tarde no Sanatório Rodrigues Semide, grande padrão assistêncial, orgulho da cidade.

Afigura-se-nos que, dentro da campanha antituberculosa, tão largamente desenvolvida em Portugal nos últimos anos, destacar a acção da Misericórdia do Porto e focar especialmente o coso do Sanatório Rodrigues Semide constitui verdadeiro acto de justiça e ao mesmo tempo de interesse público.

E não fica mal, Sr. Presidente, lembrar, entre muitos que generosamente contribuíram com o seu notável esforço para que o Sanatório Rodrigues Semide, no meio de tantas dificuldades, abrisse as suas portas e fosse a grande obra social que é, lembrar o falecido benemérito Sr. António C/alem, provedor nessa data, homem respeitado e venerado pelo Porto inteiro.

E ainda outro dos grandes, que dentro da Misericórdia , na obra do Sanatório e no auxílio valiosíssimo à campanha antituberculosa tem o seu nome impresso em letras de ouro nos seus anais, e hoje, como então, a sua generosidade está sempre pronta para favorecer os que sofrem: o Sr. Manuel Pinto de Azevedo, que, com os seus 83 anos, continua sendo uni prestante cidadão tripeiro.

Sr. Presidente: o Sanatório Rodrigues Semide, inaugurado em 1926, na zona alta da cidade, foi durante um quarto de século, e até à abertura, em 1950, do Sanatório D. Manuel II, situado em Gaia, a única peça válida, eficaz, e constantemente actualizada, do armamento antituberculoso da cidade do Porto. E a sua acção médico-social pode e deve considerar-se do mais largo alcance e maior valia para a população portuense.

Exactamente como em 1888, a iniciativa da Misericórdia marca um período novo em relação aos problemas do contágio da tuberculose; a sua decisão em abrir o Sanatório Semide, em 1926, descobre novas perspectivas no campo da luta antituberculosa no Porto. Do ponto de vista social, reacende-se o interesse público pela campanha contra a doença, interesse que não voltou a esmorecer. Sob o aspecto técnico, entra-se na tarefa meritória de aperfeiçoamento, nos estudos e processos terapêuticos da tuberculose, nunca mais se esmorecendo em tão progressiva tarefa.

De tais e tão grandes benefícios legitimamente se podem gloriar a Misericórdia e o seu Sanatório.

Independentemente de circunstâncias, ocasionais que, certamente, deveriam produzir inevitáveis reflexos e influências, como o advento da crisoterapia e s intensificação da propaganda mundial na luta antituberculose, o problema da tuberculose pulmonar na cidade pode dividir-se em dois períodos caminho n progressivas realizações que viriam a generalizar-se proveitosamente. Ali se iniciaram todas as variantes de colapsoterapia médica, desde o pneumotórax bilateral simultâneo ao pneumotórax ambulatório, desde o oleotórax ao pneu-moperitoneu, como ali se realizaram também as primeiras intervenções cirúrgicas na tuberculose. Foi no Semide que, há mais de vinte anos, se fez a primeira vacinação pelo H. C. G.

Na cidade do Porto pode o Sanatório considerar-se precursor de todos os progressos da acção antituberculosa, tomando lugar na vanguarda, quer em observações broncoscópicas quer em exames funcionais do pulmão, e desde a pneumólise intrapleural até à pequena e à grande cirurgia da tuberculose pulmonar.

Os princípios e o espírito que à orgânica e à vida do Sanatório lhe imprimiu o seu primeiro director clínico, o Dr. Santos Silva, foram-se radicando pelo tempo fora, mantendo sempre em viva tensão o mesmo anseio de renovação e actualização; o mesmo alto e hu manitário propósito de servir o melhor possível a população pobre da cidade, defendendo-a com o melhor dos recursos técnicos. E são os mesmos os princípios que hoje orientam e guiam o seu actual director clínico, o ilustre tuberculogista Dr. António de Araújo.

É bem valiosa e bem digna de registo a folha de serviços prestados pelo Sanatório Rodrigues Semide, cuja acção continua a desenvolver-se, no mesmo ritmo e com a mesma eficiência.

São muitos, muitos, os milhares de doentes que passaram pelo Sanatório e pelo seu dispensário anexo.