A Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo, que constitui uma secção da Escola Industrial e Comercial de Évora, esteve quase a fechar por falta de alunos, isto numa terra onde a cerâmica é uma das mais antigas indústrias. Aprende-se ali o ofício por arção rotineira das oficinas, mas foge-se da escola, que devia - e é essa a sua finalidade conduzir ao aperfeiçoamento e desenvolvimento da indústria local.

Há, pois, que modificar a mentalidade dos alunos, mas, para isso, as escolas técnicas devem perder a sua feição de liceus de via reduzida e ampliar e melhorar a sua posição verdadeira de preparar técnicos de craveira média para a indústria e para o comércio. Em seguida estes técnicos serão chamados para as fábricas e oficinas, de preferência aos aprendizes semi-analfabetos.

É evidente que tudo isto acarreta maior soma de encargos para o Estado, mas também é evidente que a obra utilíssima que esta em larga projecção não pode estagnar em meias soluções. De resto, estou certo de que o Sr. Ministro da Educação saberá encontrar as soluções graduais e progressivas que se impõem.

Por exemplo, porque não considerar o 1.º ciclo dos liceus preparação oficial para o» cursos especiais das escol a s técnicas; já este princípio está adoptado para entrada nas escolas de regentes agrícolas e escolas do magistério primário.

Valerá a pena a existência nas escolas técnicas de uni curso chamado preparatório, que outra coisa não é senão o 1.º ciclo dos liceus?

Julgo que valeria a pena estudar essa coordenação e evitarem-se duplicações caras para o Estado.

Essa coordenação, além de económica, traria aos espíritos obcecados com o exclusivismo da técnica a noção palpável de que a cultura geral ajuda a formação integral do homem.

Se se pretende aumentar a frequência das escolas industriais e comerciais à custa de uni desvio da população liceu, porque não se barateiam - já não falo na gratuitidade de certos países - as propinas atingir a maturidade e a relativa normalização. Não admira, pois, que o ensino técnico, de recente criação, se encontre ainda numa fase indecisa de organização.

Sabe-se que a agricultura é por ora, e oxalá que seja sempre, a mais vasta e poderosa actividade nacional. Olha-se em volta e, afora unia notável e brilhante escola superior de agronomia, divisa-se ao longe apenas a existência de três escolas de regentes agrícolas e outras, muito poucas, de ensino rudimentar, creio que anexas a reformatórios.

Será o exercício da agricultura, dessa agricultura que alimenta a Nação, mister tão simples e rudimentar que desnecessite de uma técnica adequada e se apoie e viva do empirismo e da rotina? Se assim não é, parece empírico que se criem escolas de várias modalidades com vista à cultura cerealífera, à horticultura e à pomicultura, como dizem que se pratica em países mais adiantados.

Já uma vez, a propósito do plano de hidráulica agrícola, lembrei desta tribuna a necessi emente industrializado, que em l de Outubro último tinha no ensino liceal oficial 540 000 estudantes e no ensino técnico oficial 331 000.

Sou o primeiro a desejar que haja em Portugal um ensino técnico médio eficiente e procurado pela grande massa de estudantes, que hão-de rejuvenescer a nossa indústria e comércio em pleno desenvolvimento. Mas também me permito afirmar que mal viria ao nível cultural da Nação se o ensino liceal fosse descurado, ou mesmo colocado era segundo plano.

Ainda não há muitos dias que o ilustre titular da pasta da Educação Nacional denunciou num brilhante discurso os perigos da excessiva técnica ou especialização generalizada, pois que o culto das humanidades ajuda a formação moral do homem.

Disse S. Ex.ª o Ministro, no seu recente discurso, quando da posse da 4.º Secção da Junta Nacional da Educação: «Sem uma cultura geral humanista não há profissional que valha».

Ora, sabe-se que essa cultura geral humanista se adquire especialmente nos liceus.