O Sr. Cerveira Pinto: - Sr. Presidente: tantas vezes se ouve dizer no Porto que nada se tem feito a favor daquela cidade, que esta afirmação, à força de repetida, vai adquirindo foros de verdade incontroversa e começa a ser aceita pelo grande vulgo e até por pessoas responsáveis e de são e honesto critério.

A arguição é injusta.

Na verdade, a estrada marginal, o túnel da Ribeira, o Aeródromo das Pedras Rubras, a via rápida para Leixões, a viu norte, o Hospital Escolar, liceus, escolas técnicas, quartéis e outras grandes obras, uma grande parte das quais planearia ou mandada executar pelo então Ministros das Obras Públicos e hoje nosso ilustre colega - engenheiro Cancela de Abreu -, são realizações que ficam a atestar a era de progresso que Portugal inteiro tem vivido neste segundo quartel do século.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Dentre as grandes obras que -no Porto têm sido levadas a efeito não quis referir-me ao mostrengo que, a força de muitos milhares de contos e de muitíssimo mau gosto, se erigiu nos jardins do que foi o velho Palácio de Cristal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não quero pensar em coisas tristes e, por isso passo adiante.

Prestada justiça à obra realizada e aos seus realizadores é porém, forçoso reconhecer e proclamar com desassombro que o que pelo Porto se tem feito está muito longe de satisfazer as legítimas aspirações da capital do Norte e fica a muito aquém do contributo que a sua laboriosa gente tem prestado à grandeza do Portugal renovado.

Sem tomar já para termo de comparação o que se fez em Lisboa, temos de concordar todos com a evidência desta verdade: o Porto, no que concerne a realizações levadas a efeito pelo Estado, ou com a sua participação, está em manifesta inferioridade relativamente a outras cidades do País bem mais pequenas e com bem menos importância no agregado nacional.

Mas eu não pedi a palavra, Sr. Presidente, para entoar endechas -magoadas ao que tem sido o triste fado da cidade do Porto, a que liguei a minha vida e que tenho a honra de representar nesta Casa. Não. Pedi a palavra para, de acordo com os meus -colegas daquele círculo, me congratular com os novos horizontes que. em matéria de progresso material e moral (e moral, digo bem, porque o problema das "ilhas" do Porto encerra uma questão de gravíssima moralidade), se vão rasgar e estão a ser activamente rasgados para a capital do Norte do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Ministro das Obras Públicas, ao anunciar, em notável discurso, a construção da obra de excepcional envergadura que é a ponte da Arrábida, com os seus imponentes acessos rodoviários e a realização de outros empreendimentos de importância transcendente para o Porto, mostrou-se conhecedor profundo -das necessidades e aspirações desta grande cidade e o que é mais revelou a sua forte vontade de lhes dar inteira e cabal satisfação.

Salazar trouxe para o Governo da Nação o homem de que o velho burgo portucalense necessitava.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nele o Porto espera, e confia.

Como Deputado pelo círculo que tem o Porto por cabeça quero, juntamente com os meus colegas de lista, apresentar ao eminente, estadista que e o Sr. Engenheiro Arantes e Oliveira os vivos sentimentos de gratidão, de fé e de confiança de todos os que vivem e trabalham na mui nobre sempre leal e invicta cidade.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador foi muito cumprimentado.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Somos, os Portuenses, por natureza pouco dados a outras atitudes que não sejam as de dizer francamente o que pensamos e de pretender que nos dêem aquilo de que estamos convencidos não nos faltar razão de sobra para o poder pedir; integrada, com muitos e honrosos pergaminhos que o atestam, na defesa da prosperidade e da segurança nacionais, deseja a cidade do Porto unicamente, que a cuidem, não com favores que não pede, mas com aquela justiça a que indiscutivelmente tem jus.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas deseja-o dentro da compreensão que mostrou sempre de não querer sacrifícios de ninguém para obter vantagens que a outros poisam pesar; trabalhadora e modesta, encontra na altivez da sua própria sobriedade, na força da sua dedicação ao bem comum, o ânimo que porventura precise para abdicar voluntariamente de regalias quando elas possam lesar os interesses nacionais.

Por isto mesmo, tem força moral bastante para não aceitar, sem reacção ou sem protesto, tudo quanto possa constituir menos interesse por aquilo que beneficiando-a, beneficie a Nação; por isso mesmo, não podia esconder a sua mágoa e a sua crítica perante o estado e andamento de certas obras em curso, ou -em projecto, que têm o maior interesse para a cidade: não o liras de luxo ou de enfeite, que as circunstâncias porventura permitissem protelar, mas obras indispensáveis que o Porto sentia ver encaradas sem aquele entusiasmo tantas vezes demonstrado noutras obras importantes da metrópole e do ultramar.

Pela parte, que me toca também não fugi, nesta Câmara, a tais críticas, na esperança de que o Governo, pelo Ministério responsável, fizesse sair o Porto daquele estagno doentio em que parecia destino!- se sentiam soçobrar entusiasmos e acção.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - As declarações prestadas entretanto pelo Sr. Ministro das Obras públicas na sua memorável visita ao Porto, em Setembro deste ano, vieram