É fácil verificar, assim, que a quota trazida ao consumo público pelo bovino adolescente não modifica o quadro geral, antes se lhe sobrepõe, e que, quanto ao abastecimento de carne desta espécie, se pode desde já, confirmando o que a prática demonstra e a venda efectiva nas feiras confirma, dividir o ano em períodos de abastecimento regular, de carência e de sobra, partindo do conceito do consumo efectivo, e não do teoricamente desejável.

Mas, mesmo nos períodos de maior abate, há sempre consumo para, as peças mais apetecidas, ficando nos talhos as outras, impedindo que nova rês lhe seja distribuída, peças que são muitas vezes vendidas abaixo do seu preço de tabela, sem louvor ou desconto nos auto, pela venda das outras acima dela.

Não louvo a acção, mas reconheço-a e não hesito em a filiar na má equivalência do valor respectivo. Para que se não diga que a carne subiu, em tendência do equilíbrio se promoveu muita vez à categoria ou classificação superior, e, portanto, em preço, o que menos vale e menos procura tem agravando, assim o mal.

Os quadros de distribuição pelo ano a que atrás me referi são ainda influenciados na sua expressão pela vinda do gado dos Açores, que nos entrega um contigente bem apreciável, sobretudo quando se compara com os de Angola e Moçambique, que bem reduzidos têm sido ultimamente e bem longe estão da comparticipação que nos podem e devem vir trazer para a resolução do nosso problema.

Mas, se não é possível assim a distância localizar as entregas dos Açores e separá-las do conjunto, para melhor apreciação do fenómeno continental, convirá, contudo, focar aqui, pela sua importância, e possibilidades, que podem evidentemente vir a ser muito maiores quando, pelo incentivo do preço da carne, não sacrifique tanto gado adolescente, melhore a qualidade da carne e se facilite a sua vinda pela instalação de matadouros e frigoríficos convenientes, o que sei estar em andamento.

Dos Açores vieram as seguintes quantidades:

"Ver tabela na Imagem"

e não há muito os Açores nos acudiram com larga contribuição - 1500 bois em Dezembro.

Angola, ao contrário dos Açores, vai diminuindo a sua ajuda e há dois anos que está ausente ou quase.

De lá vieram as seguintes quantidades:

Em 1950, 4689 cabeças, com 643 500 kg.

Em 1951, 2291 cabeças, com 411 500 kg.

Em 1952, 1644 cabeças, com 315 000 kg.

O Sr. André Navarro: - V. Ex.ª dá-me licença? Pode V. Ex.ª informar-me se a diminuição do fornecimento de carne de Angola à metrópole é consequência da própria diminuição da produção ou do aumento do consumo interno?

O Orador: - Tenho a impressão de que, quanto a Moçambique, se pode atribuir essa diminuição a um aumento do consumo interno.

Quanto a Angola, houve, efectivamente, um surto epidémico, que se mantém e que fez diminuir a produção, mas praticamente não teve qualquer influência nela.

Em 1953 foi comunicada a suspensão dos embarques, em virtude da existência de um foco de febre aftosa.

Só em Junho de 1954 foi temporariamente consentida nova vinda, de bois dali, pelo embarque de 699, mas já em Setembro do mesmo ano foi de novo suspensa, e essa situação mantinha-se em Julho de 1955, com o mesmo fundamento.

O Sr. Abrantes Tavares: - Quanto aos embarques de gado de Angola para o continente, eles não podem dar uma contribuição substancial, porque o gado é transportado vivo nos navios, gado esse que tem de vir da zona sul do Angola, e isto implica um grande encarecimento.

Por outro lado, a criação em Angola, feita por europeus é pequena. O maior número pertence aos indígenas, sobretudo aos da zona sul, mas esses não criam para vender, pois o boi representa para eles um índice de riqueza, só o vendendo em ocasiões de seca ou para pagarem impostos.

Quando lá se criar um matadouro para o aproveitamento de peças de carne limpa, evidentemente isso levará a uma melhoria de situação.

Por outro lado, acresce a circunstância de que nenhuma companhia vai meter bois dentro de navios novos; esse transporte tem de fazer-se em navios velhos, que, consequentemente gastam muito tempo na viagem.

O Orador: - De Moçambique recebemos também as seguintes quantidades de carne congelada:

Não tem sido importante, como se vê, a contribuição dada pelas nossas províncias de África ao problema das carnes.

Tenhamos esperança de que o seu necessário desenvolvimento, uma campanha séria de sanidade pecuária e a instalação em Angola dos indispensáveis apetrechamentos de frigorificação nos tragam em breve dali a colaboração que em unidade imperial temos todas as razões para esperar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas a quota, que o gado bovino traz ao abastecimento público, dentro da preocupação que por enquanto tem de haver, dentro da nossa realidade, de conseguir o necessário, aproveitando todas as fontes de produção, não pode ser observada isoladamente.

Teremos de ver assim o que a outras espécies de talho podemos ir buscar e a sua distribuição no tempo, para verificar a sua concorrência nos defeitos do problema geral ou quota na solução das faltas.

O Sr. Abrantes Tavares: - Sabemos que a afluência de gado ao matadouro de Lisboa se dá na 2.ª quinzena de Maio. Simplesmente, Lisboa não tem um matadouro frigorifico onde pudesse guardar a carne para os meses seguintes, quando não existe a afluência da oferta.

Segundo um estudo do Dr. Geraldes - e que V. Ex.ª certamente conhece -, classificam-se as crises em anuais, depois uma crise na época em que se consome mais peixe e quando começa o Inverno tem de se recorrer às regiões da Beira e Aveiro.

Mas há também as crises de quatro em quatro anos. Quando estamos, no máximo da oferta, baixa o preço e começam-se a matar vitelas; quatro anos depois estamos numa oferta mínima; quatro anos depois voltamos ao mesmo estado.