Assim voltamos aos diferenciais sobre forragem para produzir gordura. Teremos talvez do importar porcos e produtos, com prémios de exportação na origem e com sacrifício de fundos de compensação internos.

E mais não cabe, no âmbito deste aviso prévio, no estudo do que ao suíno podemos ir buscar para resolução da nossa, carência de carnes.

Mas não podemos deixar de tirar da situação que vivemos neste momento e no ano passado uma maior demonstra-lo de que temos um problema de carnes.

Comemos o ano passado carne de vaca de França, que dali saiu com prémio de exportação, com o prejuízo em nivelamento de preços de 7$30 em quilograma, que será maior se o Ministério das Finanças não dispensar o imposto alfandegário, o que parece não fará.

Estamos comendo manteiga da América, com prejuízo também de 10$ em quilograma, porque não foi dispensado o seu imposto de entrada. Encargos, pois, a suportar pelo Fundo de Abastecimento e pela economia geral, que os paga em taxas sobre outros produtos. E estes direitos alfandegários fazem-me lembrar a história dos grilos da Patagónia, que se comem uns aos outros.

O Sr. Melo Machado: - V. Ex.ª falou em diferenças de preços de forragens. A que forragens se refere? Ao milho? Se é sobre o milho colonial, essas diferenças não serão feitas sobre um preço que não é o real?

O Orador: - São problemas que se prendem uns com os outros, mas como temos ainda um grande desnivelamento entre os preços da carne e das forragens ...

O Sr. Melo Machado: - Se o desnível é feito sobro o preço do milho colonial, repito, então o favor não é nenhum.

O Orador: - Neste momento comemos carne do Brasil, com prejuízo também.

Manteiga e leite vivem da mesma forma, e em coincidência, entre nós igual regime das carnes: épocas de saturação; épocas de fome.

O problema continua em aberto e precisa de uma solução que ainda não tem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vejamos agora a nossa posição quanto à capitação, ao nível de preços e à formação de alguns destes entre nós.

Quanto à capitação de carne, localizava-a Rocha Faria, quanto ao decénio de 1937 a 1946 e em referência ao censo do 1940, em cerca de 7,5 kg por habitante ou 9,7 kg por unidade de consumo, partindo dos seguintes dados do consumido:

Toneladas

53 786

Os consumos verificados nos cinco anos considerados levam-nos, felizmente bastante para além desta capitação, de verdadeira miséria. É possível, contudo, que os anos de guerra incluídos no período que estudou tivessem decidida influência na capitação que nos indica e que, por outro lado, também apenas tivesse tomado em consideração as matanças controladas.

Não podemos, contudo, para observação da verdadeira posição quanto a bases de alimentação, deixar de tomar em consideração as capitações que em referência ao período de 1941 a 1948 nos indica quanto a peixe fresco e a bacalhau, que serão porventura superiores às dos outros países, e, por isso, tornem diferente ou menos deficitária a nossa base de alimentação em proteínas.

Assim, calcula Rocha Faria o consumo de peixe fresco em 82 000 t de parte edível e em 35 300 t o de bacalhau, o que corresponde a uma capitação:

Per capita - 16,300 kg.

Por unidades de consumo - 21.280 kg.

Vejamos agora a nossa capitação em carne, em face dos dados actuais:

(Ver quadro na imagem)

Por unidade de consumo l6 kg. o que bastante nos distancia da porção observada anteriormente por Rocha Faria.

Como, por outro lado, tudo nos leva a pensar que o consumo de peixe em fresco e o de bacalhau, mercê da renovação da nossa frota pesqueira e da facilidade de transportes, bastante deve ter aumentado também, é bem possível que, tomada no geral, não estejamos tão deficientes de proteínas como se possa pensar pela simples observação do nosso consumo de carne. O que poderemos ter é desigualdade no poder de consumo, por escasso poder de compra em muitos sectores.

Não quer dizer também que mais carne não devamos comer. É mesmo absolutamente necessário que essa finalidade se atinja.

Isolado, porém, e como simples ponto do observação ou de meta a atingir, fizemos as capitações de carne que nos parecem consideradas quanto a outros países:

Com capitação próxima e abaixo da nossa:

Até aos 15 kg - Turquia (15), Itália (14), Grécia, Egipto (9), Paquistão (5) Japão (3) e China (2).

Referem-se estas capitações aos anos de 1953 e 1954 e foram retiradas do relatório da F. A. O. de 1955. É verdade que nesse relatório se nos atribui a capitação