palavra que não explica o acontecimento.

O avião de Juscelino a no firmamento e foi o céu que o desviou e lhe apontou o rumo.

Não acredito nó acaso quando a vida tem destas exuberâncias sobrenaturais.

Não é acaso a fusão plena de Portugueses e Brasileiros na consciência do destino comum.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não é acaso o mesmo sentimento, a mesma língua, a mesma crença, a mesma ansiedade.

Foi obra do acaso o porfiar das quilhas no mar largo, a teimosia das velas, a constância dos nautas?

Se o acaso nos tivesse bafejado, não seríamos um povo cheio de valor histórico; seriamos, quando muito, um povo cheio de sorte, sem valor humano.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A sorte vale como mistério, não vale como razão.

O Presidente Juscelino, impelido pelos altos desígnios que presidem à evolução do crescimento brasileiro, não veio à Europa por acaso, nem por acaso principiou e acabou em Portugal a sua viagem de adaptação e valorização internacionais.

No Atlântico Sul o Brasil é a nossa presença, tingindo auroras cada voz mais ricas de luz.

Comungamos no fogo dessas auroras.

Brasil e Portugal, corações gémeos, que meteram de permeio o mar como medida e sentido da sua ligação inextinguível.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando se fala do Brasil, sentimo-nos brasileiros, e, quando se fala de Portugal, não há brasileiro que não respire o sopro de vontade e de graça que fez os milagres do nosso milagre.

Não se pode desejar ser brasileiro sem se ter desejado ser português, nem se pode sentir a condição de português sem amar a condição de brasileiro.

Dualismo de pátrias numa só pátria, maior na força e na razão. Sempre o mesmo ideal, a mesma chama, a mesma forja.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E a palavra de Junqueiro para Olavo Bilac.

Do lado de cá, o mesmo génio do punhado de marinheiros e cavadores que em dado momento fizeram de Portugal a maior pátria do Mundo, o mesmo povo dos «três lusíadas: os de Nuno Gonçalves, os de Camões, os de Santa Maria de Belém».

Do lado de lá, as seivas que se multiplicam, tal como no poema de Ronald de Carvalho, o Brasil das claridades, das cintilações, das policromias fantásticas, do «zenir» das asas, dos arroios que pulam sobre os «dourados gulosos», dos rios que «empurram o oceano», do cântico das moendas, do arfar das oficinas, do ar voluptuoso onde passam conversas em português, da «maresia dos portos», carreando vidas, carreando almas, esse Brasil de solo milionário, pela fertilidade espantosa, pelas minas sem conta, pelas reservas sem fim, esse Brasil da promessa de tantos berços, «de todos os seus berços, onde dorme, moreno, confiante, o homem de amanhã».

O homem de amanhã, português e brasileiro.

É por ele que lutamos e sofremos mais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esta jornada de esforço, de profissão de energia, de ousada e comovente preparação do futuro, que o Presidente eleito do Brasil realizou na Europa, começando em Portugal e acabando em Portugal, é a renovada prova de que as duas nações se confundem cada vez mais na expressão do seu valor e da sua grandeza.

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Como a Câmara sabe, o Sr. Presidente eleito da República Brasileira veio ontem a esta Casa apresentar os seus cumprimentos à Assembleia Nacional. Tive nesse momento ensejo de, em seu nome, agradecer esses cumprimentos e exprimir quanto essa visita nos honrava e quão grande contentamento nos dava.

O Sr. Deputado Armando Cândido acaba de fazer referência à visita do Sr. Presidente eleito do Brasil a Portugal e eu desejava aproveitar a oportunidade para, em nome da Câmara, renovar as nossas homenagens de ontem a S. Ex.ª e os votos de prosperidades pela pátria irmã.

Creio que correspondo aos desejos da Câmara fazendo com que na acta da sessão de hoje fique consignado esse voto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Mário de Figueiredo: - Requeira que o discurso de V. Ex.ª seja publicado no Diário das Sessões.

Vozes: - Muito bem, muito bem!