encarecimento constante derivado da ração de conservação que lhe damos.

Não creio que sejamos tão ricos que nos possamos manter neste caminho, nem que não possamos jogar com as nossas possibilidades, quanto a fundos de compensação, no fomentar da produção interna, quando tão pródigos somos para as economias estranhas.

Diz-se, Sr. Presidente, que são caros os nossos preços de carne. Para se poder avaliar da certeza desta afirmação seria necessário saber a que termo de comparação ela se reporta.

Será ao exagero de lucro na nossa produção?

Ao seu preço em relação ao dos outros países?

Ao preço em relação ao poder de compra geral ou de alguns sectores do nosso composto nacional?

Compreendo que mais completo seria este aviso prévio se nele pudesse incluir um estudo, tão vasto quanto possível, sobre custos de produção.

Já atrás me referi a que o não temos feito e que, assim, nos temos de referir a índices de transformação. E já vimos o que se pa ssa na realidade quanto ao gado bovino. É este, porém, o sistema mundialmente aceite.

Quanto ao suíno, o que melhor transforma, não tem o nosso sido seleccionado por um melhor aproveitamento das forragens, e assim se pode fixar em cerca de 6 unidades quando soma crescimento e reposição, para ir até 10 e mais na engorda. Mas precisa de forragens mais caras.

Teremos assim uma base para cálculos do custo de produção. O seu preço, até há pouco, era de 13$40, em média. Foi-o antes bastante inferior, chegando a 8$ o quilograma, e assim se retraiu a sua produção, levando-nos à situação de carência em que nos encontramos. Vejamos agora os preços pagos à produção praticados noutros países:

França:

Boi extra (peso vivo) .................. 20$72

Boi de 1.ª (peso vivo) ................. 17$22

28$00

a

Suíno extra, em carcaça ................ 20$90

Suíno corrente ......................... 15$50

Bois (peso vivo) ....................... 20$90

Novilhos,(peso vivo) ................... 21$00

Vacas (peso vivo) ...................... 13$50

Aponto em separado os preços destes dois mercados porque eles nos dão um exemplo da diferença de valor em função da qualidade da carne.

Vejamos, porém, a nossa posição em relação ao conjunto da Europa pelo relatório da F. A. O. referente a 1954-1956, rectificando nele o preço que ali vem indicado como sendo o nosso, pois que este vem referido a peso morto, e não ao peso vivo, considerado quanto aos outros.

Preços em dólares e por 100 kg:

Áustria .......................... 32,69

Turquia ............................ 34,47

Notemos que França se encontra, em grave crise da sua produção suína.

Também aqui, em relação a estes, se não podem considerar altos os nossos preços, tanto mais que, só temos a favor (ou contra, no aspecto económico e social) uma mão-de-obra mais barata, temos, em contrapartida, um índice de produtividade bem menor, e, portanto, mais curas condições de produção, acrescido ainda de um maior valor da terra e falta de preparação dos nossos gados para o melhor índice de transformação.

Besta-nos, pois, ter de considerar que os nossos preços só serão altos em relação com o poder de compra de alguns sectores do nosso conjunto nacional. É, pois, na sua subida que temos de trabalhar, visto que não é partindo do preço determinado ao consumo para o custo de produção que poderemos atingir o que se pretende nem se melhorará o nível de vida interno, gastando os nossos fundos de compensação, premiando a produção externa.

Sr. Presidente: julgo ter desenvolvido suficienteme nte o assunto para que se possam localizar causas e defeitos que estarão na razão do nosso problema de carnes.

Temos de o resolver, e julgo que o podemos fazer, com a certeza de que a nossa suficiência em carne será da mesma forma, como quanto ao pão, a fronteira que melhor nos defenderá, como o afirmou o Sr. Presidente do Conselho.

Temos de produzir mais e melhor e desperdiçar meios.

Veremos então que não estamos muito longe de nos bastarmos.

Temos, como o afirmei no princípio, de debruçar-nos sobre o problema, pondo de parte ideias preconcebidas, falsos fatalismos, egoísmos de posição e ainda falsos conceitos.

É frequente ouvir-se nos nossos centros de opinião pública que se pode perder nos gados porque se ganha nas searas, perder nestas porque se ganha naqueles, perder em ambos porque se ganha no vinho, no azeite ou na cortiça.

Tem tido algumas vezes esta ideia preconcebida a sanção oficial, traduzida nos termos da nossa economia dirigida.

Daí tem vindo muita vez a razão da nossa descompensação e perda da interdependência das nossas produções, provocando problemas de saturação e de deficiência.

Também não acredito na fatalidade da nossa impossibilidade de resolvermos estes problemas, que estão na base da suficiência nacional, quando lhe dermos a consideração de imperiais, quando jogarmos, pois, com todas os nossas possibilidades nesse âmbito.

Também não poderemos considerar egoísmo de posição. A produção não pode impor ao consumo a obrigação de este consumir o que aquela quiser produzir. Nem este impor àquela que produza em perda.

A produção tem de adaptar-se às tendências do consumo. Não há dúvida de que aqui, em paralelo com o que se passa no resto do mundo, a guerra, com as alterações que provocou em modos de vida, muito modificou das antigas preferências.

Hoje, não só se pretende carne, mas a de melhor categoria. Criou-se um mercado de qualidade.