Para esta situação influi decididamente uma mudança de hábitos e condições de vida.

Afastada a mulher cada vez mais do lar, em complemento da economia deste, pretende-se hoje, pela economia de tempo, o que menos dele consuma na preparação.

Assim, comemos galinha em sopa vinda do estrangeiro e dos nossos gados queremos o bife ou o que se lhe compare em facilidades de preparação.

Isso explica uma deficiência cada vez mais acentuada das peças mais apetecidas, com sobra das outras.

Procura-se noutros mercados solução para esta situação pelo jogo de preços fortemente diferenciados e pela venda em produtos industrializados do que menos procura tem em fresco. À cabeça deste movimento estão a Inglaterra e a Alemanha, e em França há a nítida tendência de as vender já cozinhadas, pondo-as assim em concorrência com o melhor e o que menos tempo leva a preparar.

A gordura animal vai perdendo também cada vez mais o seu lugar nos grandes centros de consumo.

Estas são duas realidades que a produção tem de ter em vista.

Elas impõem a necessidade da modificação de informação, rendimento e percentagem de gordura dos gados a produzir.

Nós precisamos de produzir mais carne. Já vimos como a modificação do meio que estamos fazendo nos pode dar a possibilidade e a necessidade de o conseguir. Mas precisamos de dividir essa produção pelo tempo, e não a somar em curtos períodos, o que nos levaria a perdas de valor e a encarecimento no final, visto que não só assim teríamos de prever uma capacidade enorme de conservação em frio como a retenção se teria de traduzir em aumento de custo, sem influir decisivamente no aumento da quantidade.

Para uma noção também desta realidade convém fixar aqui as tabelas de frigorificação e conservação do matadouro de Lisboa.

Carne fresca e congelada:

Por quilograma e por mês:

Até 5000 kg ............................... $50

De 5000 kg a 10 000 kg .................... $45 Por tonelada e por dia:

De mais de 15 000 kg até 50 000 kg ........ 10$00

e mais de 50 000 kg ...................... 9$00

Toucinho:

c) Por quilograma e por mês:

Até 5000 kg ............................... $40

De 5000 kg a 10 000 kg .................... $30

d) Por quilograma e por mês:

De 5000 kg a 10 000 kg .................... $25

Isto é suficiente para explicar a minha afirmação de que o gado no frigorífico continua a comer, e a encarecer, pois, dentro de uma regularização da produção para o consumo. Um investimento de conservação indispensável decerto e uma necessidade de evitar, quanto possível, a sua utilização a longos períodos, e assim a obrigação de procurarmos influir pelo jogo de preços em função da época de abate para uma melhor distribuição pelo ano, com esta dupla realidade: De um lado, a conservação apenas do existente, com encarecimento; do outro, o aumento, compensando o encarecimento.

Ainda com decidida influência no problema de carnes temos de considerar o arrumo dos nossos matadouros.

Foi há anos bastante discutido esse problema, duas teses se apresentando então, ambas igualmente defensáveis.

Uma, a de que os matadouros deveriam ser por zonas de produção, evitando a perda de carne pela deslocação a distância dos gados.

A outra, por zonas de consumo, aproveitando a mel hor valorização dos produtos secundários (miudezas), sem obrigação de industrialização destes.

A conclusão do matadouro de Lisboa veio então pôr termo a essa discussão, sem se ter chegado, por estudo conveniente, a uma convicção.

Venceu, assim, a segunda tese, pois que. por alguns anos, não será fácil encontrarmo-nos de novo perante esse problema.

É certo, porém, que ambas partiam da condenação da dispersão por pequenas unidades, antes impondo concentrações de matança, de forma que ao lado destas se pudessem instalar as condições industriais indispensáveis e em condições de funcionamento económico para o aproveitamento dos subprodutos e assim se conseguir a diminuição de despesas e, portanto, influir no produto mais barato ao público.

O matadouro de Lisboa só estará certo dentro de uma capacidade para matadouro regional - de concentração, pois. Mas, se o está dentro desta consideração, condena ele o que se está a fazer em construções de matadouros pa ralelos nas suas proximidades.

Assim:

Mais uma vez falhámos na execução consciente de um plano ou estaremos gastando sem necessidade.

Abstenho-me por agora de me referir ao funcionamento e resultados do matadouro de Lisboa. Tenho de o considerar em período de adaptação e por isso poderia não ser justo na apreciação.

Uma dúvida, porém, me atrevo a por perante a observação do que se verifica.

Será possível continuar assim quanto a este aspecto do nosso problema de carnes, numa dispersão que não pode senão trazer encarecimento geral?

Terá ele de passar para além da influência directa das câmaras?

Deixo em aberto a pergunta.

José de Carvalho, no seu estudo sobre estes problemas, calcula que para o nosso aumento demográfico de 46 por cento desde 1910-1912 até 1952-1954 os bovinos revelam um acréscimo de 33 por cento, enquanto os ovinos e suínos acusam respectivamente aumentos da ordem de 170 por cento e 290 por cento.

Todo o aumento da nossa capitação tem sido, pois, obtido à custa destas duas espécies.

Mas o fim do ano de 1954 e o de 1955 vieram alterar o significado destes números, por franca entrada em diminuição de efectivos e de possibilidades próximas.

Já referimos que o nosso bovino entrou francamente no caminho do desfasamento. O ovino, embora seja o que mais estável se mantém, sofrendo a necessidade da