A Terceira nau pode calar o seu desgosto enquanto não vir satisfeitos os seus rogos neste sentido. Entretanto, espera confiadamente, obstinadamente.

Uma face deste problema dos transportes são as confeições marítimas dos Açores com o continente. Não contestamos o que há feito, nacionalmente, a esse respeito, untos o reconhecemos aplaudimos com fervor.

Os nossos aplausos às justas e brilhantes considerações do Sr. Dr. Paulo Cancella de Abreu sobre o ressurgimento da marinha mercante portuguesa foram dos maiores, assim como ú imenso o nosso reconhecimento aos seus obreiros. No entanto, os Açorianos ainda- não conseguiram ver satisfeitas as suas necessidades de comunicações. Este facto é de alta importância para a exportação das carnes, quer seja em reses vivas ou em carne frigorificada.

O lavrador engorda a sua vaca ou a sua junta de bois. para abater ou embarcar; arreia com antecedência, porque sabe por experiência o tempo que tem de esperar; mas, chegado o ponto em que foram atingidas as melhores ou possíveis condições do gado tem de o tirar - é esta a expressão - usada -, porque a partir desse momento começa a perder, ou seja no que a mais tem de dar para o manter ou seja no peso que diminui se não conservar o tratamento.

Então é de absoluta necessidade que se faça o embarque, se se trata de exportação. E nem sempre, ns navios ou a sua praça acodem a tempo.

granule atraso, soube que o Lima e o Terceirense estavam liquidando esse transporte.

O contingente para um mercado tão deficitário não deixava de ser apreciável.

Este facto originou o primeiro artigo do jornal a que me referi, nessa campanha pela melhoria das nossas comunicações, que também citei, reflectindo os clamores da população.

Está-se reconhecendo que os pequenos barcos com que a Empresa Insulana de Navegação aumentou a sua frota, servindo as ilhas entre si, não resolveram o problema, e que, ao contrário do que se - pensava e dizia, as cargas para os Açores não diminuíram, antes aumentaram. É ver como o Carvalho Araújo e o Lima largam das gares marítimas metidos na água e é considerar que ambos os vapores, na ida, ficam habitualmente dois dias na Terceira a descarregar.

É de esperar que tudo isto tenha a solução necessária, como a tem tido por parte das entidades competentes outros problemas mais graves.

Mas voltando ao transporte do gado e seu tratamento a bordo, há deficiências, uma delas proveniente dos tratadores embarcados por conta dos exportadores, para sair mais barato, diz-se, mas com o grave inconveniente de serem homens que não estão habituados ao mar, abandonando a sua missão a bordo, pelo enjoo.

Essa consideração do «mais barato», que a crítica aponta, deve referir-se ao custo dos fretes, que talvez precisem ser revistos, em benefício do gado transportado e melhoria do seu tratamento.

Mal se compreende que navios que se propõem transportar gado não possuam todos os elementos para a sua manutenção. Não deve ser consentida a prática apontada, a não ser que os tratadores embarcados dêem provas da sua aptidão marinheira. Ë que deve ser bem difícil a descida aos porões para tal função a quem não tenha resistência aos efeitos do balanço.

Julgo ter focado os aspectos essenciais destes problemas, que interessam ao meu distrito na função que se lho atribui de abastecedor, modesto embora, do mercado de carne de bovinos da capital.

Tendo, porém, em atenção que este assunto do abastecimento de carne está tão ligado à pecuária como a indústria e comércio dos lacticínios, e que os dois se encontram a par nos interesses da lavoura açoriana, tornarei a dizer. principalmente no distrito de Angra e, particularmente, nas ilhas de S. Jorge e Terceira, não posso deixar de aqui pôr uma nota relativa ao que se passa com a manteiga, actualmente, e o que se passou ato há dois anos com a crise do abundância.

Afigurava-se um mercado firme este de Lisboa. Por tal motivo a indústria

lançou-se num grande, desenvolvimento e aperfeiçoamento.

Na Terceira montou-se o melhor material de fabrico, a principiar pela Federação de Cooperativas, mais próxima e directamente ligada à lavoura. Apareceram o leite e a manteiga pasteurizados e começou-se a exportar este último produto, superior, sem qualquer compensação de preço - para uma mais custosa produção. A manteiga Milhafre acreditou-se e era procurada.

Pelo Natal de 1952 havia falta de manteiga; era rateada pelos retalhistas. Um ano depois, porém, apareceu uma avalanche de manteiga, com um acréscimo importante sobre as necessidades do consumo. Donde veio esta abundância num só ano?

Produzida nesse espaço de tempo ou guardada para qualquer manobra? Não sei o que se tornou evidente foi a baixa de preço, com o consequente pânico na produção, especialmente do leite, e também uma exportação onerosa, para colocação do excedente.

Agora, dois anos depois, precisamente o contrário, a importação onerosa também. Nos dois sentidos, todo o benefício vai para fora e nada cabe aos sacrificados da casa.

No distrito de Angra há grandes e pequenos lavradores, e estes formam a maioria. Senhores de diminutos rebanhos, se assim se pode chamar a uma escassa dezena de reses, fazendo, em geral, terras de remia, precisam eles que se lhes paguem os seus produtos compensadoramente para que possam viver a sua vida, que nada tem de brilhante. Por isso não se podem separar os dois produtos da pecuária - o leite e a carne.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Voltemos, porém, ao aviso prévio, e, depois de manifestarmos a nossa admiração ao Sr. Ministro da Economia pelas nuas providências, prestemos a justa homenagem ao Sr. Engenheiro Nunes Mexia pelo seu proficiente trabalho, a cujas justas conclusões damos o nosso aplauso e o nosso voto, permitindo-nos salientar aquela que preconiza uma maior aproximação do consumidor e do produtor. Sim, que esse espaço