a construção do novo porto da Figueira da Foz. E não se julgue que isso está ainda na fase do sonho ou no reino das utopias. A visita que recentemente fizemos a esse excelente Laboratório de Engenharia Civil, que pode constituir motivo de justificado orgulho para todos os portugueses...

Vozes : - Muito bem !

m conhece e admira, aqui se manifeste mais uma voz, a bem da Nação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente celebra-se hoje uma data que na minha modesta opinião, não deve passar despercebida nesta Casa - a data do centenário do nascimento do grande psiquiatra português que foi Júlio de Matos.

(Nesta altura assumiu a presidência o Sr. Augusto Cancella de Abreu).

Trata-se de uma notável figura da ciência portuguesa e sobretudo do pioneiro e do precursor de uma grande obra em curso: a da assistência psiquiátrica em Portugal. Conheci pessoalmente Júlio de Matos; admirei-o profundamente; tive a honra de ser um seu discípulo, atento, durante alguns anos. É-me, portanto, verdadeiramente grato cumprir aqui, neste instante, um dever de justiça, recordando o seu nome glorioso e a sua acção eminentemente benéfica na luta e prevenção contra as doenças mentais neste país.

Era um homem de trato afável e encantador e de uma rara distinção e elegância. Era um conferente admirável e possuidor das -mais- notáveis qualidades de expressão e de erudição. Como clínico, como perito médico-legal - posso testemunhá-lo com conhecimento de causa - era um homem recto, probo, cheio dos mais nobres escrúpulos morais.

Júlio de Matos não tratava levianamente os seus doentes e não decidia sem segura reflexão, sem a probidade mais rigorosa, os casos, tantas vezes dramáticos, que eram submetidos ao seu juízo pericial. Admirei tanto em Júlio de Matos o homem de ciência como o homem de bem que ele foi. Aliás, não sei mesmo separar a ciência, e muito particularmente a ciência médica, da deontologia ou da moral.

Júlio de Matos teria sido, sem dúvida, um transviado nalguns dos seus conceitos da religião e da política, se estes não fossem os predominantes na ciência na sua época.

Esse desvio, em relação à linha intelectual e ideológica que nós poderíamos e deveríamos desejar encontrar nele, era o mal do tempo.

Estou certo de que nas horas amargas do declínio da sua vida Júlio de Matos teria feito intimamente uma tremenda revisão ideológica.

Ele foi o mestre que mais me encantou. As suas lições e as suas conferências eram lapidares, os seus escritos eram perfeitos na forma, na ideia, na concepção, no vigor da expressão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A sua obra é vasta, não sendo aqui o lugar próprio para mencionar a sua bibliografia. Mas julgo de justiça citar três suas obras capitais: A Paranóia, Os Alienados nos tribunais e os seus Elementos de Psiquiatria. Estes foram, por assim dizer, súmula final em que mais se definiu o seu saber e a linha do seu pensamento científico.

Também é muito importante um seu escrito de 1908, em que delineia o esquema da assistência aos alienados, em Portugal.

Era então profundo e lamentável o atraso da psiquiatria, em relação ao desenvolvimento actual dessa ciência.

Já mais duma vez aludi à insuficiência de certas concepções fundamentais, e sobretudo è insuficiência trágica do arsenal terapêutico de que então se dispunha nesse sector médico.

Duches, choques eléctricos, poção polibromada, láudano laxantes e pouco mais era, naquele campo, todo o arsenal dessa época, em que não se divisava ainda ou mal se desenhava a terapêutica moderna, com a malarioterapia, o e lectrochoque, o choque insulínico, a neurocirurgia, etc.

No entanto, dentro desse reduzido cabedal de meios de tratamento, com o espectáculo doloroso de tantos doentes incuráveis. Júlio de Matos com uma ampla visão, que honra e nobilita a sua memória, marcava já cartas orientações e certas directrizes modernas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sobretudo, a sua acção de propaganda incidia na necessidade do desenvolvimento do ensino científico da psiquiatria entre nós. Conseguiu esse objectivo. Ele mesmo o iniciou. A sua propaganda resultava da necessidade de preparar médicos não só para diagnóstico e tratamento das doenças mentais, como