a mirandesa, de formas elegantes e grande corpulência, e a barrosã, considerada uma das produtoras de carnes da mais alta qualidade não só do País como do mercado, sem falar na penata ou paivota, raça serrana do Sul do distrito, sólida, resistente e sóbria, e que atinge por vezes corpulência idêntica à do gado mirandês, talvez resultante do cruzamento da mirandesa com a ai

A continuarmos assim, não Be pode pensar em fomentar o armentio nacional destinado ao consumo público.

Nas entrelinhas do despacho que estou a analisar pareceu-me - poder anotar uma preocupação a dominá-lo.

Quando ele se refere à necessidade de obter maiores possibilidades forraginosas, essa preocupação orienta-se, indiscutivelmente, para as terras secas do Alentejo.

Quando nele se preconiza a importação de reprodutores estrangeiros das raças mais indicadas para a produção da carne é ainda o Sul do País que parece visionar-se.

Esses reprodutores ao podem interessar, se é que na realidade a experiência os venha a aconselhar, às grandes explorações industriais que se dediquem exclusivamente à criação de gado para o matadouro, e não ao pequeno e médio lavrador-criador nortenho, que do seu gado procura obter trabalho, estrumes e carne.

De resto, para que importar gado estrangeiro, com a finalidade única de obter carnes, se temos no País raças indígenas que, bem tratadas, bem apuradas, bem seleccionadas, podem fornecê-las e de superiores qualidades?

Podemos trazer o gado; o que não poderemos é trazer o clima, o solo e os pastos das suas terras de origem.

A meu ver, o que o interessa não é importar gado para reprodução, e mas o melhoramento das nossas raças indígenas, evitando as suas cruzas e utilizando e fornecendo os melhores e mais perfeitos exemplares de animais reprodutores de cada uma delas.

Sem excepção para o gado leiteiro, que carece de ser melhorado pelo mesmo processo.

O Norte do País (Minho, Trás-os-Montes, distrito do Porto e Beiras) foi sempre grande região produtora de gado-grande abastecedora do consumo público, devido ao facto de ò clima favorecer essa produção e ao sistema agrário que ali predomina.

E será ele, sem dúvida, que durante muitos anos continuará a fornecer a carne necessária, se pára tanto o estimularmos, oferecendo-lhe preços que não sejam de ruína.

Em Trás-os-Montes, porém, não foi apenas o baixo preço da compra de gado ao criador e o alto preço do gado de trabalho que contribuíram para a diminuição considerável dois efectivos pecuários.

Como a região fica distante dos grandes centros consumidores e como os grémios da lavoura não possuem organização capaz para defender o pequeno e médio lavrador, seu associado, das garras do comerciante de gado, ele vê-se na necessidade de lho entregar pelo preço que este lhe oferece, que é sempre o mais baixo possível, devido a encontrar-se organizado em «cambões» e não encontrar quem lhe faça a menor concorrência.

Por ou tro lado e na região de Barroso, nos concelhos de Boticas e Montalegre, zona com uma extensão superior a toda a área do distrito de Viana do Castelo, onde a criação do gado barrosão foi a indústria secularmente tradicional, onde a riqueza do lavrador regional se estimava pelo número de cabeças que possuía, onde a sua apascentação se fazia ainda, em muitos sítios, segundo um. regime comunitário tradicional e na proporção dos haveres de cada um, aquela criação sofreu duro golpe, que praticamente quase a aniquilou, pelos motivos seguintes:

A cultura da batata, mais remuneradora, levou os lavradores a arrotearem os seus lameiros, a «vessarem-nos», como ali se diz.

E faltaram as pastagens e faltaram os fenos desses magníficos prados naturais, dificultando a criação do mal não seria muito grande se cumulativamente não surgissem outros factores para o agravar. A supressão dos baldios paroquiais, arrebatados pela Junta de Colonização Interna e pêlos serviços florestais à fruição comum das populações, onde o gado regional era habitualmente e durante muito tempo apascentado, provocou uma redução drástica nos efectivos pecuários locais que não será muito fácil ressarcir.

O gado barrosão está a desaparecer, substituído pelo paivoto; mais rijo para o trabalho e mais sóbrio na alimentação, permite a redução numérica dos efectivos individuais e anula a criação, pela substituição da vaca pelo boi.

Hoje, apenas para os lados da Venda Nova, próximo das barragens ultimamente construídos, se encontrarão os exemplares mais puros e os melhores

representantes dessa raça magnífica, que ameaça extinguir-se, e em algumas explorações agrícolas da província do Minho.

É preciso salvar o que resta, e com urgência, fazê-la voltar ao seu antigo esplendor, defendendo-a das cruzas, que a prejudicam, e fomentando a sua maior expansão, pela defesa sanitária, pela luta contra a esterilidade, pelo ensino técnico da alimentação, etc., em e brevidade e confio que dessa execução resulte o ressurgimento da nossa actividade pecuária e um mais completo e perfeito abastecimento público, para o bem de todos e em proveito da Nação.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pedro Cymbron: - Sr. Presidente: o estudo de diversos - problemas, como sejam o da satisfação das necessidades do País em carne, o dos preços e qualidades, e do alargamento do consumo, etc., tem, creio, bom lugar no debate que o aviso prévio do Sr. Deputado Nunes Mexia levantou.

Sem dúvida o assunto é actual, porque consumimos pouca carne, girando a nossa capitação à roda de 10 kg, como já aqui foi dito.