Referidos já alguns aspectos parcelares do problema «docente, parece-nos que este que não contenta agora com repisos ou segundas edições, o que, indo os erros a agravar-se dia a dia, seria desvalorizar o problema e amesquinhar-lhe a importância; impõe-se, pois, uma vista de conjunto, a fim de que ganhem perspectiva algumas falhas e feições particulares do edifício escolar - estudo que, mesmo na sua generalidade, só um aviso prévio comportaria, aviso que aqui deixamos, ventilando sumariamente o problema no relance que nos é consentido pela natureza fugas duma exposição. Para isso procuraremos circunscrever-nos ao essencial, poupando as palavras, em benefício dos factos e dos números. E, para nos não perdermos no denso emaranhado, seccionemos em três etapas o caminho a percorrer: Os factos;

II) Os erros;

III) Ao encontro de solução.

É um problema escolar e social que está em causa. E esperamos que se não julgue que lhe sobrestimamos a importância, por deformação profissional, julgando-o

digno de um aviso: caso o problema não mereça das entidades superiores a devida atenção, dentro de poucos anos verão os cépticos de hoje até que ponto se justificam nossas palavras. Os factos Através do quadro I, que refere o movimento universitário de Letras e de Ciências e dos respectivos estágios, verifica-se que decresce o interesse dos homens pelo magistério, pois as licenciaturas que conduzem ao professorado acusam uma percentagem masculina cada vez menor: no quinquénio de 1948-1949 a 1952-1953, das 1060 conclusões de curso nas Faculdades de Letras e de Ciências, apenas 33,3 por cento delas foram masculinas. No total de licenciaturas em Filologia Românica, ao longo dos cinco anos, apenas concluíram o seu curso 16,5 por cento de homens - isto não obstante ainda hoje estarem desertos os quadros liceais masculinos a que a licenciatura conduz. E, no mesmo período, em Ciências Geográficas não se formou um único homem!

Isto quanto ao interesse despertado pêlos cursos universitários que conduzem ao ensino. Vejamos afora o que se passa com aqueles a quem as duas Faculdades dão o seu diploma.

Movimento universitário, por sexos, das Faculdades de Letras e de Ciências e movimento docente (liceal e técnico), apreciados através dai conclusões de curso e de requerentes ao estágio, no quinquénio 1948-1949 a 1952-1953 (a)

(ver tabela na imagem)

(a) Todos os números do quadro expressam frequências.

(b) Como apenas nos circunscrevemos neste estudo aos licenciados em Letras e em Ciências, não consideramos no ensino liceal o estágio de Desenho. No ensino o apenas se referem os estágios para professores electivos dos grupos 1.°, 8.º, 9.º, 10.º e 11.°, únicos que obrigam àquelas licenciaturas,

c) A licenciatura em Ciências Geográficas da Faculdade de Letras é aqui incluída na linha das Ciências, por se encontrar com estas no mesmo grupo do ensino técnico. Ao menor interesse dos homens pelas licenciaturas de Letras e Ciências há que acrescentar que à grande maioria dos que acabam o seu curso não interessa o ensino oficial. E aqueles que ao ensino oficial se candidatam preferem o técnico: na totalidade dos requerentes ao ensino liceal aparecem apenas 33,3 por cento de homens, enquanto no ensino técnico sobe a 75 por cento a percentagem dos requerentes masculinos.

Apreciando estas preferências através da realidade concreta dos professores diplomados, teremos: no quinquénio referido foram diplomados para o magistério liceal 32,4 por cento de professores (e, portanto, 67,6 por cento de professoras), enquanto no ensino técnico foi de 76 por cento a percentagem de novos professores (apenas, portanto, 24 por cento de professoras). Conclusão: parece que o ensino técnico açambarca os homens e o liceal asila as senhoras.

Note-se que nestes números não consideramos os estágios de Desenho. A torná-los em conta, baixaria a 30,2 por cento n percentagem varonil dos professores liceais diplomados no quinquénio. Com efeito, no Exame de Estado liceal daquela disciplina num período de cinco anos (de 1951 a 3955) não aparece um único homem!

E observe-se que os números referidos expressam percentagens médias, pois referem-se ao conjunto de todos os grupos; nalguns, porém, o estado é verdadeiramente calamitoso. Considerando as conclusões do estágio liceal no período de nove anos de vigência única do Liceu Normal de Coimbra (de 1943-1949 a 1956-1957, os dois últimos anos facilmente previsíveis), verifica-se que em todos (à excepção do 1.° e 4.°) há supremacia de senhoras, sendo nalguns grupos (3.°. 6.°, 7.º e 9.°) a sua percentagem superior a 80 por cento, atingindo no 7.° grupo o máximo de 85 por cento, e isto precisamente no momento em que se diligencia a individualização na licenciatura em Física. Os números que apresentamos, na sua nudez arripiante e opressora, são bem a expressão de uma feminina invasão pacífica do ensino.

3. Encaremos sob um outro aspecto os factos constantes dos n.ºs l e 2. Parecendo u primeira vista, através da frequência, que as Faculdades de Letras são Faculdades de senhoras, dizem- nos, contudo, os totais das conclusões de licenciatura ser maior a quantidade de senhoras diplomadas em Ciências que em Letras. Assim, as percentagens de diplomadas em cada uma das Faculdades, no quinquénio referido, foram de 69,1 e 64,1 por cento, respectivamente.