A diferença não é grande. Contudo, à carência de homens nos cursos ide Ciências junta-se um outro facto: a fuga ao magistério liceal para outras ocupações. Porque aquelas licenciaturas (de Ciências) dão maiores possibilidades de vida fora do ensino que as da outra Faculdade, verificasse que, de entre os homens, apenas se candidata ao magistério liceal cerca de metade (em percentagem) dos candidatos masculinos de Letras. Do que resulta o seguinte: enquanto em (Letras tornam professores liceais 8,6 por cento dos homens licenciados, em Ciências a mesma percentagem baixa a 4,7 por cento!

E não se julgue que esta diferença é inteiramente absorvida pelo ensino técnico, pois este recebe também menor quantidade de licenciados em Ciências que em Letras. Não. Tomando o conjunto dos dois ensinos, verifica-se- que no total dos homens licenciados em Letras se tornam professores oficiais 28,6 por cento, o que em Ciências acontece apenas a 16,6 por cento - isto sendo já menor a quantidade de licenciados em Ciências! Em resumo: é mais grave nas Ciências que nas Letras a crise masculina do ensino - conclusão tirada do quinquénio 1948-1953. Nos quatro anos posteriores (1953-1957) agrava-se a situação das Ciências no magistério liceal: enquanto no quinquénio referido, de entre os diplomados para o ensino das Ciências, 27,5 por cento correspondia aos homens, a mesma razão baixa, nos quatro anos seguintes, para 17,6 por cento. Vamos de mal a pior.

4. Voltemos atrás e procuremos outros números a comprovar o desinteresse dos homens pelo estágio. Assim, em alguns grupos, apesar de provimento fácil, não chegaram a preencher-se ainda, em oito anos de reforma, 5 por cento das vagas masculinas então aparecidas! Incluídas as baixas nalguns grupos até, o saldo fisiológico é negativo, o que, tal como acontece nas populações, significa que a profissão está em declínio. Como lares abandonados, os novos não tomam os lugares que lhes deixaram no ensino, não obstante o aumento crescente da frequência liceal e universitária.

Meditemos nos seguintes números: em 1948-1949 estiveram em exercício 871 professores e em 1955-1956 1103: uma diferença, portanto, de 232. Para calcular as necessidades do ensino ido mesmo período há que somar ao número anterior o de professores falecidos (em exercício), aposentados, exonerados (ida paxá o ultramar, Colégio Militar, Instituto de Odivelas, etc.) ou passados à licença ilimitada: até ao presente, pelo menos - e cremos errar por muito, pois das baixas anteriores a l de Outubro de 1950 (dois anos) apenas consideramos as aposentações-, 157 (111 homens e 46 senhoras), o que totaliza 389 professores. Pois bem: foi apenas 135 o número de professores diplomados no mesmo período (44 homens e 91 senhoras). Há, pois, um déficit de 254 professores, embora o período considerado fosse apenas de sete anos! Nota curiosa: nestes últimos sete anos o Liceu Normal de Coimbra não assegurou sequer a renovação das baixas ocorridas. Se tomarmos em conta mais as necessidades docentes exigidas por um acréscimo de mais de 50 por cento na população liceal (acréscimo irreversível, pelo menos em definitivo, em face do nosso baixo nível de extensão liceal e do avanço demográfico de cerca de 1 milhão de habitantes por decénio) ter-se-á uma ideia assaz aproximada do estado actual e das .perspectivas que se oferecem ao nosso professorado e ao nosso ensino.

Aperceber-nos-emos melhor da gravidade do problema mediante o cálculo dos índices ou percentagem de professoras e de professorado sem estágio em dois momentos da vida liceal: 1949-1950 (o primeiro ano da vigência integral da reforma) e o ano corrente (quadro II).

Índices liceais de feminilidade e do professorado sem estágio, em dois momentos da vida escolar, precedidos dos elementos necessários aos respectivos cálculos(a)

(ver tabela na imagem)

(a) Todos os números deste quadro estão sujeitos a rectificação, pois não foram obtidos de fonte oficial. O erro, porém, que cada um possa ter não altera os valores das duas últimas colunas, os únicos que interessam para as conclusões.

(b) Do baixo índice de professorado sem estágio, em 1949-1950, não vá concluir-se a perfeição dos quadros estabelecidos pela reforma: o índice foi determinado para o conjunto de todos os grupos, o que esconde, nalguns deles, desajustamentos dos quadros às necessidades de mais de 40 por cento.

A avançar-se num ritmo igual de necessidades docentes, de professores diplomados e de rarefacção de homens no ensino (e só o acréscimo da frequência liceal no ano corrente é da ordem do aumento verificado nos dois anos anteriores), teremos em 1961-1962: 57,2 por cento de professoras;

b) 41,7 por cento de professorado eventual;

a menos que: Se empurrem para o ensino particular, oficializado ou não, as crescentes necessidades de ensino. Mas, ainda assim, continuam válidas, senão agravadas, as duas percentagens, pois naquele ensino não é maior a percentagem de homens e a habilitação de todos os seus professores corresponde ou é nalguns casos inferior à dos actuais eventuais. Será este caminho uma forma de se reconhecer oficialmente a inutilidade do estágio, já porque quase 50 por cento do professorado o não possuiria, já porque a orgânica do ensino fomentaria o desinteresse por ele, que ficaria apenas como uma relíquia de velhos;

b) A menos também que cesse ou retrograde a corrida aos liceus que actualmente se verifica; mas a experiência diz-nos que a corrida