Estes números traduzem uma ampla correcção relativamente às estimativas sobre o montante da colheita.

A Espanha, onde o cálculo chegou a exceder 4000001 e que ainda em Outubro se fixava em 330 000 t, viu reduzido esse volume para 260 000 t-manifestamente insuficiente para o seu consumo, da ordem de 350 000 t anuais.

Na Itália, onde a produção foi de 344 0001 na última safra, de 1953-1954, e cuja colheita actual foi avaliada em Outubro em 250 000 t, a previsão actual é de 150 000 t, correspondentes apenas a metade do seu consumo anual de óleos fluidos alimentares.

Na Grécia, apesar de a estimativa ter descido de 130 000 t em Setembro para 100 000 t em Janeiro corrente, a situação, embora delicada, não é tão grave, visto as necessidades do consumo corresponderem ao volume da última previsão. Fenómeno paralelo -deficiência da produção e das previsões iniciais- se registou na quase generalidade dos países. Na Tunísia, por exemplo, quinto país produtor, a seguir a Portugal, a colheita, que foi há dois anos de 92 000 t, não deverá exceder este ano 25 000 t, quantitativo inferior ao consumo, que é de 30 000 t.

Em virtude desta situação surgiram sérios problemas de abastecimento nesses países, forçados a suprir as faltas de azeite através da importação de outros óleos vegetais. A exportação foi suspensa em Espanha e na Grécia. As cotações, por sua vez, oscilaram vertiginosamente no sentido da alta - o azeite extra da Tunísia cotava-se em Marselha a 17$60 por quilograma em Junho, ascendendo a 23 f 10 em Outubro, a 25$30 em Janeiro e situando-se em mais de 30} as últimas cotações. O nosso país também não constituiu excepção à vaga geral de más colheitas.

Inicialmente, em virtude da floração abundante, admitiu-se a hipótese de uma safra excepcional; mas a fecundação decorreu precariamente e em fins de Junho a previsão do Instituto Nacional de Estatística era da ordem de 110 milhões de litros, estimativa que desceu para cerca de 100 milhões em fins de Setembro. Finalmente a falta de chuvas em Setembro e Outubro e os temporais e enxurradas desencadeados em plena colheita ocasionaram a queda e perda de muita azeitona e agravaram, por forma sensível, a situação.

Presentemente, com base nos registos das cédulas de fabrico enviadas pelos lagares à Junta Nacional do Azeite, a previsão é de cerca de 75 milhões de litros. As quatro últimas safras, de 1947-1948, 1949-1950, 1951-1952 e 1953-4954, foram, respectivamente, de 102, 107, 116 e 133 milhões de litros. A linha de tendência indicava para a safra em curso uma produção de 123 milhões de litros, que afinal se veio a revelar de nível inferior, representando uma das mais reduzidas safras dos últimos vinte anos.

Contra esta adversidade da natureza nada é possível fazer; há apenas, dentro do possível, que atenuar os seus inconvenientes.

Nesta ordem de ideias, já se adoptou uma série de providências: a exportação de azeite para o estrangeiro ficou, a partir do início da campanha, sujeita à obrigatoriedade da contrapartida de importação de igual quantidade de azeite estrangeiro; regressou-se ao regime de contingentes na exportação para as ilhas adjacentes e para o ultramar; aumentou-se por último substancialmente a importação de amendoim, de forma a garantir as mais amplas disponibilidades. A situação geral do abastecimento do País esquematiza-se assim:

a) A previsão da actual campanha, adicionada aos saldos da campanha anterior, perfaz cerca de 80 milhões de litros de azeite;

b) A colheita da futura contra-safra, de 1956-1957, estima-se em 55 milhões de litros, ou seja a média das duas últimas contra-safras de 1902-1953 e 1904-1955;

c) Como durante o biénio safra e contra-safra as necessidades de azeite no mercado metropolitano e ultramarino são da ordem de 174 milhões de litros, verifica-se um deficit de cerca de 39 milhões de litros.

Em virtude das providências adoptadas em conjunto com o Ministério do Ultramar, está praticamente assegurada a remessa para a metrópole de todo o amendoim e óleo de amendoim exportáveis das nossas províncias ultramarinas, computados no mínimo de 15 milhões de litros; os saldos em poder das fábricas da metrópole eram, em l de Janeiro último, de 3 milhões de litros; finalmente foram autorizadas novas importações de amendoim, encontrando-se já fechadas compras de semente correspondentes a 6 milhões de litros de óleo.

Estas disponibilidade" -24 milhões de litros de óleo -, adicionadas aos 80 milhões de litros de azeite atrás previstos, perfazem 104 milhões, quantitativo amplamente suficiente para a satisfação das necessidades conjuntas de azeite e óleo de amendoim durante a campanha em curso. Oportunamente serão autorizadas novas importações de amendoim ou óleo de amendoim em função da situação do abastecimento. Dado o volume da actual colheita, adicionado aos saldos que transitaram da campanha anterior, parece, à primeira vista, não existir um problema grave de abastecimento de azeite, visto o consumo da metrópole e das províncias ultramarinas ser da ordem de 87 milhões de litros anuais.

A realidade, porém, é diferente. Com efeito:

a) Do confronto dos números resulta um deficit e a impossibilidade de soldagem da actual campanha à futura contra-safra, com o perigo de fuga e açambarcamento do produto logo que se esboce o ambiente de falta;

b) A produção, sobretudo nas zonas onde é mais vincado o desnível das safras e contra-safras, costuma durante aquelas reservar azeite, não só para esse ano, mas para o consumo durante a contra-safra seguinte;

c) A mesma reserva é do mínimo de 30 a 35 milhões de litros, número que deve ter aumentado na campanha em curso, em virtude dos receios provocados pela escassez;

d) A comercialização da actual colheita deparou com