Em 1954 mais de metade das importações incidiram sobre dez produtos. Três deles -os combustíveis, o ferro e aço e o algodão- representam mais de um quarto das mercadorias importadas, e só um provém em grande parte do ultramar - o algodão.
A não ser que se convertam em realidades as esperanças da existência de petróleo em Angola ou Moçambique, em quantidades e condições de exploração económicas, não parece que a maior rubrica possa ser facilmente reduzida. O consumo de óleos minerais tende a aumentar. Em 1954 a importação de automóveis de passageiros e carga, que fora de 381 500 contos em 1953, passou para 600 000 contos e, destes, 334 600 contos representam importação de automóveis para pessoas.
Os inconvenientes que derivam para a balança de pagamentos do imoderado uso do automóvel repercutem-se na importação de combustíveis líquidos e de acessórios, e, no caso de se manter a tendência de ]954 para a importação de automóveis de passageiros, há-de alargar-se a m aior verba da importação.
O caso do fabrico de ferro e aço na metrópole está em estudo. Á nossa capitação de ferro e aço ainda é muito baixa, das mais baixas da Europa. Este aspecto da economia nacional necessita de ser resolvido com urgência, porque, na hipótese de ser convenientemente solucionado, aliviará apreciavelmente a balança du comércio. A indústria siderúrgica, a estabelecer-se na base de 150 000 t, numa primeira fase, ainda deixa larga margem à importação, dada n tendência para maiores consumos. Com o desenvolvimento industrial do País, que também deverá ter em consideração os aumentos e consumos ultramarinos, a rubrica de ferro e aço não parece poder sofrer grande redução, a não ser que se procure, a sério, planificar os recursos nacionais de ferro numa escala maior.
A questão do algodão é tratada noutro ponto deste parecer. Dadas as aptidões de Angola e Moçambique para a produção desta fibra, chega a ser paradoxal que ainda haja necessidade de se re correr a mercados estranhos. As excepcionais condições de algumas zonas ultramarinas indicam que a balança de pagamentos da comunidade portuguesa pode ter um confortável saldo positivo nesta mercadoria.
Há certamente muitas outras rubricas no comércio de importação que podem ser diminuídas, por efeito de melhor produção nacional, no ultramar e na metrópole, mas nunca deve ser esquecido que todos os territórios nacionais estão em vias de desenvolvimento económico acentuado e que devem ser feitos todos os esforços no sentido de acelerar esse desenvolvimento. Haverá necessidade, por esta razão, aliada ao progresso das condições de vida, de importar mais do que agora e gastar muito maiores somas no apetrechamento industrial, agrícola e de transportes.
Esta realidade faz imediatamente sobressair a importância das exportações no comércio externo português.
Principais exportações
Temos assim que mais de 70 por cento da exportação nacional consiste em sete produtos.
Vê-se do quadro que as maiores valias na cortiça (225 000 contos), nas conservas (195 000 contos) e nas madeiras (95 000 coutos) dão cerca de metade do aumento verificado entre 1903 e 1954.
O problema da exportação tem, pois, aspectos sérios. Por um lado, em 1954 o ultramar absorveu uma alta percentagem do que se exportou; por outro lado, produtos como a cortiça, as conservas de peixe, resinosos e volfrâmio têm oscilações de grande amplitude nos preços. Esta tem sido sempre uma das graves características do comércio externo português. O natural corolário que dela se deduz resume-se em alargar e diversificar a gama das exportações.
O comércio externo e a balança de pagamentos da comunidade
Se estes números forem comparados com 1953 nota-se logo considerável diminuição no saldo da balança do comércio das províncias africanas.
O saldo positivo desceu de 110o contos para monos de 141 000 contos.