do litoral da afluência de populações indígenas e brancas: é necessário evitar a repetição em Angola dos fenómenos bem conhecidos da América do Sul.

Os males sociais e até económicos trazidos para o Brasil, por exemplo, pela concentração das populações nas grandes cidades do litoral estão na ordem do dia.

Está também em início em Angola um fenómeno semelhante com o desenvolvimento rápido nos últimos anos das cidades perto do mar, e em especial de Luanda.

Embora algumas povoações do interior, como Malanje, Silva Porto, Nova Lisboa e outras, hajam evoluído nos últimos anos com progressos rápidos, foi sobretudo Luanda, Lobito e um pouco Benguela que progrediram mais rapidamente. O problema ainda não tem acuidade. Mas conviria fazer tentativas, pela criação de condições apropriadas, no sentido de encaminhar para o interior o interesse dos imigrantes, de modo a permitir ocupação permanente e produtiva.

O esquema Cuanza-Catete-Bengo vem reformar enormemente a posição de Luanda. A nova refinaria, as fábricas de nitratos, cimentos e outras indústrias, além dos desenvolvimentos derivados da existência de energia a preços muito acessíveis, ainda, hão-de acentuar mais a sua preponderância.

Conviria, pois, estudar esquemas no interior, que equilibrassem, no decorrer dos ano, as tendências autuais.

E o estudo do Cuanzn médio, pelas possibilidades energéticas que oferece às zonas de Malanje e planalto de Huambo ou Benguela mais próximas, parece corresponder a esta finalidade.

Fazenda-piloto Não é possível dar agora um resumo sequer da orientação a imprimir aos estudos acima mencionados, que devem ter a finalidade de mostrar, sem sombra de dúvidas, as possibilidades agro-pecuárias, agrícolas e tanto quanto possível, industriais das regiões ao alcance do Cuanza médio. Deseja-se, porém, chamar a atenção para uma das necessidades da província. Aliás, o próprio esquema Cuanza-Calete-Bengo as satisfaz na parte restrita que lhe diz respeito.

Projecta-se uma fazenda-piloto, onde pràticamente se possam estudar as questões relativas ao melhor aproveitamento da zona agrícola a explorar. A urgência, que há em Angola de ideias deste tipo é manifesta. Ela será como que um campo experimental em solos e outras condições inerentes à zona que vai ser irrigada. O relator das contas tem preconizado até para a metrópole, sob o nome de campos experimentais, esquemas desta natureza, por serem, no campo restrito da pequena propriedade metropolitana, a melhor forma de atacar os processos atrasados de exploração agrícola ainda hoje usados. Em África a sua necessidade é manifesta e altamente remuneradora, tanto mais

que a fazenda-piloto, se convenientem dirigida, liquidará os seus próprios encargos a partir do terceiro ou quarto ano de exploração.

Angola necessita de esquemas deste modelo, maiores ou menores, conforme as circunstâncias e os objectivos a atingir. E uma das zona de grande interesse, por estar perto do Cuanza médio, é o distrito de Malanje, com terrenos de reconhecida fertilidade para o algodão, tabaco e outros géneros ricos. os problemas de Angola são vastos e apresentam as dificuldades conhecidas em todos os países novos que necessitam de avultados investimentos. Não podem ser resolvidos em pouco tempo e há-de levar muitos anos o aproveitamento das potencialidades económicas já conhecidas.

A obra realizada merece relevo e abona a iniciativa e denodado esforço dos colonos que lá permanecem longos anos, muitas vezes em circunstâncias precárias. Há uma base económica já assente em realidades, e perspectivas que podem assegurar a evolução gradual, até com relativamente alto grau de aceleração. Mas as tarefas do futuro têm de atender aos erros ou insucessos do passado.

O fundamento da prosperidade angolana reside essencialmente na diversificação de suas culturas, na melhoria da produtividade das existentes, num melhor aproveitamento dos recursos de mão-de-obra, em novas indústrias adaptadas às matérias-primas e outros recursos internos, na melhoria sub-tancial de indústrias existentes, como a do peixe e outras - numa palavra: no estabelecimento de condições que permitam a simultaneidade da ocupação branca e de maiores produções para exportação, como parece ser o caso do esquema Cuanza-Bengo.

Mas este, como outros esquemas, na sua elaboração e execução, tem de utilizar técnicos com larga experiência, em todos os problemas que constituem o conjunto- quer se trate de rega, de energia, de agricultura, de florestas ou de outra formas de actividade.

Como se informa na introdução ao parecer da metrópole, todos os países podem hoje economizar os erros e desperdícios do passado, utilizando a experiência de países mais progressivos, adquirida em obras semelhantes.

Não considerar estes aspectos é atrasar o desenvolvimento de regiões susceptíveis de poderem auxiliar a economia de um dos mais belos florões da Comunidade Portuguesa.