outras que tomou a iniciativa de propor- uma «Corporação das Artes e Profissões Liberais», cuja conveniência não necessita ser justificada.

§ 29.º

Considerações gerais Terminamos com algumas considerações genéricas esta longa viagem pela estrada, em construção, do corporativismo português.

Desbravado o caminho, atingido o lugar de destino e feita a paragem, resta deixar em repouso as ideias, para que assentem naturalmente, e voltar a percorrê-lo, já com muito maior celeridade, para fixar apenas os pontos cardeais da orientação tomada. E esse o trabalho do «exame na especialidade» e das «conclusões» com que se dará remate ao parecer da Câmara.

Aproveitemos então esta curta paragem para conciliar as ideias, fazer o ponto e deixar subir o pensamento até à altitude suficiente para que os contornos dos pormenores se esfumem e possam ver-se apenas, na sua isolada expressão, as grandes imagens deste caso português.

Não foi por mera coincidência que a Câmara se viu simultaneamente perante duas propostas de lei - uma para e instituição de corporações» e outra sobre um Plano de Formação Social e Corporativa».

Trata-se, efectivamente, de duas providências complementares. Talvez mais do que isso: uma só providência, concretizada em documentos distintos, porque a sua matéria formal é separada, mas reduzida a um «todo» impartível, já que a sua essência profunda é a mesma.

Na verdade, para nos arrancar do torpor corporativo, dessa indiferença em que nos tínhamos anichado por força duma inércia radicada na falta de estímulo e até por comodismo, é imperativo fazer «formação social e corporativa»; divulgar os princípios, espalhar a verdade dos seus benefícios, promover a disseminação e o esclarecimento da ideia corporativa, mergulhar fundo na estrutura social, doutrinar, formar. Mas toda esta obra de penetração, que pode ser grandiosa mas é árdua e lenta, requer um forte ponto de apoio, para ser iniciada com êxito e vitalidade; exige um grande acontecimento que a desencadeie, que desperte a consciência nacional e a faça estremecer, colocando-a perante alguma coisa de novo que vá passar-se nest com o seu destino e perante a historia.

Tudo poderia ser vão sem esta campanha ou plano e, mais ainda, sem o estudo sério e metódico de toda a problemática corporativa, nos seus mais relevantes aspectos: sociais, económicos, jurídicos e morais. E porque assim é, o Plano de Formação Social e Corporativa, por sua vez, funciona como parte integrante da instituição das corporações.

Em última análise: simples «partes» dum «todo» complexo, essas duas providências legislativas sobre as quais a Câmara ú chamada a pronunciar-se. E desta circunstância há que inferir todas as suas naturais consequências e tirar a lição integral dos ensinamentos que contém.

dominar, pela qualidade, o turbilhão de interesses materiais que não querem ser perturbados na quietude regalada das posições adquiridas.

Não pode ignorar-se que o corporativismo, com a sua palavra de ordem no social e no económico -e só isto seria muito-, transporta também consigo uma autêntica mensagem de justiça; e, como processo de organização total da sociedade, nunca seria sistema completo quando ela lhe faltasse.

Para realizar essa mensagem, s«corporizando-a», um dos principais motores há-de ser a corporação - instrumento do corporativismo concreto -, por dar expressão efectiva aos laços de solidariedade entre patrões e trabalhadores, reunindo-os num «corpo» único, onde tem de saltar à vista a sua qualidade essencial de colaboradores numa obra comum.

A corporação deve ser, pois, um agente precioso dessa extraordinária tarefa a empreender para a reforma da empresa, fazendo dela o organismo comunitário -que já o é na essência profunda e a própria Natureza postula- donde possa tirar-se alguma esperança para essa ambição instante de edificar unia ordem mais justa e mais feliz.

Com uma «empresa» onde patrões e trabalhadores, vivendo lado a lado, ainda hoje se desconhecem ou hostilizam não pode haver paz social, porque sai violentada a condição humana e desvirtuado o verdadeiro sentido da vida em comum. Mas a sociedade, o Mundo, parecem viver na ignorância de que o seu equilíbrio instável é na carência desse ponto de apoio que tem o seu principal fundamento. E não virá muito tempo, se os olhos se fecharem a realidade tão flagrante, que uma evolução natural, ainda com condições de viabilidade, se transmude fatalmente e processe em termos revolucionários. A História é tão pródiga nesses exemplos que não permite aos espíritos esclarecidos quedarem-se «naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito».

Talvez sejam só alguns a ver estas coisas «que a fortuna não deixa durar muito». Mas chega a ser crimi noso não denunciar o perigo próximo, para que a todos sem excepção, mas sobretudo àqueles que têm uma palavra