Quanto à frequência indiferenciada, compreendendo os anos de 1940-1945, observa-se uma diminuição na secção de música, traduzida nos números seguintes:

E na secção de teatro, nos mesmos anos: 42, 50, 41, 65 e 76.

As classes de orquestra não têm podido funcionar, desde há muito, informa-se ainda, por falta de alunos, em virtude de as classes de instrumentos de arco terem uma frequência tão diminuta que não atinge, nem de longe, o número e a variedade de executantes que é indispensável para a organização de uma orquestra mesmo pequena (sic).

Quanto à classe de canto, tem funcionado com regularidade, efectuando uma audição anual em cada ano lectivo.

A classe de música de câmara tem actuado com intermitências pela mesma razão - falta de alunos.

Um confronto impressionante:

Ano escolar de 1919-1920:

Internos - 759 alunos.

Externos - 775 alunos.

Ano de 1951-1952:

Internos - 227 alunos.

As estatísticas acusam, portanto, uma diminuição desde o ano escolar de 1919-1920.

Esse decréscimo de alunos revela, a partir do ano de 1929-1930 até 1938-1939, uma redução de frequência, representada por 54,7 por cento, porquanto passa globalmente de 1911 alunos para 547.

É caso para perguntar: virá o Conservatório Nacional a ter de suspender o ensino por escassez de alunos?

Ou ainda: a manter-se, virá a transformar-se numa relíquia dispendiosa, sem valor e sem influência na vida nacional?

Deixará acaso o Conservatório de continuar a ser um centro de cultura indispensável à própria vitalidade humanística do povo português? Não é de acreditar, mas há em todo o caso, e na verdade, uma incontestável deserção.

Foi João Domingos Bomtempo, professor de Lady Hamilton, muito apreciado em Londres, notável compositor e pedagogo, o inspirador do Conservatório, sendo Almeida Garrett então Ministro da Instrução.

O ensino da música praticava-se desde D. Dinis e ha via sido confiado à Universidade de Coimbra e, no decorrer do tempo, a instituições religiosas, tais como o Colégio dos Reis, em Vila Viçosa, Seminário Patriarcal, Seminários de S. Pedro e S. Caetano, de Braga, e Catedrais de Lisboa e Évora.

Após os polifonistas dos séculos XVI e XVII, a continuidade do ensino interrompeu-se, não podendo, por assim dizer, falar-se em música portuguesa, não obstante os estímulos dos reis D. João V e D. José I e do grande compositor de ópera Mancos Portugal, discípulo de João de Sousa Carvalho, mestre de música no Teatro do 'Salitre e mais tarde no próprio Teatro de S. Carlos (1810).

Atribui o actual director do Conservatório Nacional, cujas instalações visitei com deleite, pela dignidade, ordem e acolhedor ambiente, as causas da progressiva redução de frequência a vários factores e circunstâncias, a saber:

a) As tendências materialistas dos gerações nascidas entre duas guerras;

b) As condições económicas da maior parte das fa mílias, que não permitem encargos sem vislumbre de compensações;

c) Os horários das escolas do ensino técnico e secundário, que não facilitam a acumulação com as aulas do Conservatório;

d) O aparecimento e expansão da música mecânica e da rádio, que dispensam a presença da música viva;

e) A evolução do cinema mudo para o sonoro, afectando, só em Lisboa, uma centena de músicos;

f) A evolução do teatro ligeiro, que substituiu a tradicional composição de orquestras por agrupamentos de jazz;

g) A quase total supressão das bandas militares, pois, de trinta e seis, foram reduzidas a seis, agravada ainda pela falta de promoções. A banda da Marinha, por exemplo, tem hoje por preencher quarenta vagas;

h) Os numerosos concertos organizados pelas sociedades particulares, com artistas estrangeiros, se, por um lado, afirma-se, proporcionam ao público o poder ouvir os grandes virtuoses, comprometeram as possibilidades dos concertistas portugueses;

i) O decreto que criou o Liceu Normal exige aos estagiários de canto coral a habilitação musical do 3.º ano de piano, enquanto no aspecto cultural geral passou a exigir as habilitações correspondentes ao curso dos liceus, deixando assim de ser necessário tirar o curso completo do Conservatório.

A extinção das vinte e seis bandas militares na província provocou, efectivamente, um quase total retraimento na aprendizagem.

Cada uma das bandas militares era, por assim dizer, uma escola de música, aquilo que, aliás, se considera no Decreto n.º 18 881, de 25 de Setembro de 1930, quando no artigo 26.º se admite «a criação de escolas elementares musicais para solfejo», libertando o Conservatório desse ensino. Faltando-lhes os meios económicos e fáceis, as gerações novas desinteressaram-se. Os próprios músicos militares deixaram de frequentar o Conservatório, apesar de não haver no Exército escolas da especialidade e apenas ensino empírico e de pouco rendimento, uma vez que as escolas particulares se reduzem a três: Academia dos Amadores de Música, de Coimbra, o Instituto de Música de Coimbra e a Academia de Música do Funchal. O Conservatório do Porto, da iniciativa da Câmara Municipal da referida cidade, luta com as mesmas dificuldades do Conservatório Nacional.

Esta fraca população escolar é também devida u facilidade com que se concedem carteiras profissionais a pessoas que nunca passaram pelas escolas de música e que, por vezes, têm apenas a abonar a sua competência a informação benévola de um artista amigo, embora haja casos muito especiais a atender mesmo em indivíduos não escolarizados.

Compare-se com países de população equivalente à nossa e teremos a exacta medida da confrangedora penúria.

A Bélgica, além de quatro conservatórios -Bruxelas, Grand, Liège e Antuérpia-, tem sessenta escolas de música, difundidas pelas principais cidades e vilas.