formou quase espontaneamente admirável corporação da pesca, abrangendo muitos milhares de trabalhadores do mar sem todos os seus mais variados elementos; de uma complexa estrutura, e onde a mística corporativa encontrou, mercê do inteligente trabalho dos seus dirigentes, fértil torrão para florescer e frutificar.

De facto só os cegos ou aqueles que não querem ver tão palpáreis realidades é que podem ainda desconhecer a grande vitória do nosso pré- corporativismo no período posterior á guerra e o momento alto por que estamos pagando hoje- na vida nacional ao reatarmos o caminho para a consolidação definitiva do sistema.

O triste período já passado de desvio da rota não deitou dúvidas sobre o erro do rumo. Esse louco individualismo que medrou no período liberal e que arrastou o homem mal prevenido e a própria natureza que enquadra o ambiente da sua vida aos maiores desenganos é quadro que deixou, como vimos, testemunhos para o tempos.

E não foi apenas a escravização do homem, foi também a anarquização da natureza. Todo esse desnortear dos nossos rios caminhando rapidamente para o estado de precoce senilidade; todo esse descarnar da montanha e o assorear da baixa, tudo foi consequência desse triste período de decadência.

E sabemos bem o estado em que a idade nova veio encontrar esta Pátria, que o foi já de tantas gerações. Digamos amplas parcelas perdidas para sempre è assim diminuídas, ao património nacional. Explorações agrárias que constituíram durante séculos sustentáculo equilibrado dos meios rurais, pelos fortes laços que uniam proprietários e trabalhadores da terra, destruídas na sua sólida estrutura secular.

Misericórdias, que representavam primores da caridade cristã sustentadas por searas de Deu e dos homens, reduzidas a tristes escombros. Tudo isto em nome dos sagrados direitos do homem ...

E tudo isto digo e termino, derivado de incêndio ateado de fora, por inimigos da sabedoria cristã, que se apostaram em dominar o Mundo pelo aniquilamento de todas as resistências espirituais, debilitando-as pelo difundir de falsas e enganadoras doutrinas. E por isso reafirmamos que o plano de formação social e corporativa é legítimo, é necessário e é oportuno.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito e cumprimentado.

O Sr. Galiano Tavares: - Sr. Presidente: pertenci a uma geração universitária que viveu no culto e para o culto da inteligência, supondo que o homem só era cérebro, desprezando tudo o que não fosse actividade intelectual, isto é, u jogo dos sentidos superiores do homem, sem cuidar da estrutura que aguenta e mantém coisas funções, geração que viveu dobrada sobre o livro, cheia de neurastenia, de frenesi, sempre insatisfeita na resolução dos problemas que afligiam uma época e que torturavam o homem por não poder conseguir tudo o que queria, sem às vezes nem saber e se tanto queria, efectivamente, alguma coisa. Mas esta, geração começou por ter uma índole destruidora; tudo que lho caía nas mãos, as suas, próprias criações, sofria a acção do bisturi, da controvérsia, tal como só do- arma e desconjunta uma máquina na intenção de melhor a compreender.

Aprendeu-se, quiçá, o espírito da máquina; mas uma coisa não soube essa geração: foi servir-se dela pô-la em movimento.

Perdera-se na abstracção, o sentido de realizar.

Essa geração esgotou-se na mesa do «café», extasiada perante, um romantismo filosófico, intoxicada de doutrina, em valor para se exercer, ela que tanto tinha postulado !

A conferência a revista o jornal, e na conferência, a polémica, na revista o debate, no jornal, a disputa foram os instrumentos de trabalho da geração. Dessa geração de cerebrais senti, no linimento revelador em que o adolescente se faz homem, encostado às ombreiras do «café», aluno livre de uma Universidade mais do que livre as imperfeições e os erros que haviam transformado um grupo de jovens de talento numa corte de pessoas sem resolução, de acção hesitante e tímida, que vivia a aplaudir-se ou a vituperar-se dentro da vida e fora dela.

Daí mo ficou a mim e a outros, por testemunho daquela incapacidade, a paixão quase febril de realizar na plenitude voluptuosa do que -,e pode exibir.

O homem não vive para renunciar, a menos que a renúncia seja, efectivamente, um acto volitivo para a consolidação da sua própria estrutura moral.

Então renunciar não é abster-se, é antes definir uma atitude de coerência.

Foi assim a geração a que andei sempre mais ou menos ligado, porque os homens propriamente do meu tempo não sei porquê, nunca constituíram um grupo homogéneo que definisse fosse o que fosse digno de ser notado.

Na verdade, há gerações que nascem e morrem sem nunca terem sido úteis.

Por fenómenos sociais se entende o conjunto de acontecimentos de qualquer natureza que determinam ou têm influência na organização política e económica dos grupos humanos.

A economia política como ciência estuda os aspectos económica da vida social. O Estado é uma realidade de direito do que uma realidade de facto. As ciências sociais podem de interessar-se da função tutelar do Estado, embora tenham igualmente como fim não lhe perturbar o normal desenvolvimento.

No seu conceito clássico a ciência dizia ao Estad o: «não faças», e ao indivíduo: «faze como te aprouver».

Segundo a escola liberalista, nada haveria a fazer, opondo-se ao conceito socialista de que tudo estava por fazer, em contraste com o conceito moderado de que alguma coisa há a fazer, sem restringir, contudo, as liberdades e n» direitos do homem como pessoa individual.

O homem é na verdade, uma síntese que pode descrever-se como indivíduo em sociedade e na verdade, o indivíduo sem sociedade é tão incompreensível como uma sociedade sem indivíduos.