Com tantas escolas, e com a provecta idade do nosso sistema tributário, receio muito que não sejamos capazes de aprender a nova linguagem da reforma fiscal.

Devo ainda dizer que, tendo recebido há muito pouco tempo o parecer da Câmara Corporativa, me deu particular satisfação verificar que o autor desse parecer tem sobre a nova reforma fiscal quase tantas preocupações como eu. Por consequência, não estou mal acompanhado.

Vou agora referir-me a vários assuntos que julgo da maior importância para a administração deste país.

Ao discutirmos a Lei de Meios são as primeiras considerações que desejo fazer sobre a situação em que vive a agricultura.

Apesar de todos os auxílios -e importantes- que o Estado lhe confere, há quase geralmente uma sensação de desanimo, que. por ser perfeitamente justificado, urge ser atenuado, se não puder ser remediado.

Salvo uma ou outra cultura, salvo uma ou outra propriedade, cujos terrenos sejam de excepcional qualidade, a agricultura vive cada vez com menores lucros, para, com receio de exagerarmos, não dizermos que vive cada vez com maiores prejuízos.

Suponho que a agricultura se faz hoje por desporto, por paixão, por necessidade, mas não por mira de lucro.

Sinto que isto é verdade, apesar de a propriedade acompanhar com notável persistência a desvalorizarão da moeda, não só por experiência própria, mas porque, falando com muitos proprietários agrícolas do Sul, do Centro e do Norte, colho esta impressão de desalento: não vale a pena! Os que têm outros recursos vão, por diletantismo, enterrando-os na propriedade e os que os não têm vão recorrendo a toda a espécie de crédito, com o que não conseguem senão tornar mais lenta a sua agonia.

E não falo dos absentistas, falo dos que corajosamente administram as suas propriedades, e não é também possível atribuir esta situação apenas aos que levam porventura um nível de vida superior às suas possibilidades.

Quem alguma vez esteve na direcção de um grémio de lavoura ou ainda num destes postos (pie comandam um determinado sector da lavoura sabe, porque vê, sabe, porque sente nos seus nervos, no seu coração, as angustias de uma economia precária, de uma economia a viver de balões de oxigénio, cada vez mais ineficazes, em que dia a dia vão soçobrando uns após outros, tanto os ricos como os pobres, tanto os grandes como os pequenos proprietários, aqueles mesmo que trabalhando a terra por suas mãos, pareceria deverem estar mais ao abrigo dos desequilíbrios económicos.

Eu sei, Sr. Presidente, que os que não vivem estes angustiosos problemas da terra, todos os citadinos que vivem à sombra do orçamento, ao abrigo dos lucros do comércio e da indústria, se sorriem perante estas lamúrias de lavrador, considerando-o o eterno chorão, o eterno descontente, que todavia, moureja duramente para que não falte a esses mesmos que o esclarecem nas suas dificuldades o pão e os acepipes de cada dia. Eu sei, mas isso não me impedirá de dizer uma verdade que se me afigura incontestável.

Por detrás do lavrador vive a numerosíssima classe dos trabalhadores agrícolas, em que naturalmente se reflectem as angústias e dificuldades dos que lhes dão trabalho.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Desde a guerra a melhoria dos preços deu à agricultura um certo alento, embora ilusório, mas agora, com os maus anos a ajudar, começa a desenhar-se uma situação de catástrofe, que se me afigura indispensável travar, para que o mal duns não arraste o dos outros, o que é mais que natural que suceda num país ainda essencialmente agrícola como o nosso. Tem razão o Sr. Presidente do Conselho quando nos indica a necessidade duma vida modesta. Nem outra pode ser a dum país enquanto for pobre como o somos.

O rendimento per capita é de 5.539$, o que correspondo a 190 dólares, quando a maioria dos com participantes do O. E. C. E. se situa acima dos 450 dólares.

Ainda sobre capitações é a agricultura quem figura entre nós em último lugar:

Mas a vida na agricultura vai a caminho, para não dizer que entrou já francamente nele, de ser menos que modesta, e creio que seria conveniente e indispensável evitá-lo deliberadamente.

Através da Caixa Geral de Depósitos tem o Governo auxiliado a lavoura, mas esses mesmos auxílios, pela constância de que se revestem, pelo volume crescente que apresentam, revelam, na frialdade dos números, o que vimos a referir.

Vozes: - Muito bem!

Trigo adquirido pela Federação