Este apelo angustioso brota da convicção de que num país essencialmente agrícola, como o nosso, é indispensável ter uma agricultura próspera, se queremos ter uma economia sã.

Vozes: - Apoiado!

O Orador: - Que não seja só o produto de renúncias que rasam pelo sacrifício e que, como tal, não podem ser norma de vida.

Li nos jornais que o Ministro das Finanças havia sido autorizado a celebrar com o Export-Import Bank. de Washington, um contrato de empréstimo até 3 400 000 dólares, destinado no financiamento da construção de instalações para armazenamento de produtos agrícolas. Causou-me esta notícia a melhor impressão, já porque se destina a procurar construir instalações destinadas a armazenar produtos agrícolas, instalações de que, aliás, estamos tão necessitados, já porque para tal fim se recorre ao empréstimo, que permite atacar a fundo o problema que se pretende resolver, em vez de o deixar arrastar em circunstâncias de tornar os seus benefícios muito aleatórios.

Por várias vezes tenho exposto aqui este ponto de vista, que não é propriamente de crítica ao que se tem feito, mas antes de elogio franco e agradecido à extraordinária obra de regenerarão fina nceira realizada por S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho.

Todos conhecemos -até porque o sentimos- a necessidade, a indispensabilidade dessa, obra de regeneração financeira. Realizada, porém, com a energia, o acerto, a meticulosidade do seu autor, recolhidos os seus benefícios essenciais, que foram demonstrar as nossas possibilidades, a nossa vontade de cumprir os compromissos assumidos, criar e consolidar princípios firmes de boa e sã administração, não desperdicemos todas as vantagens que da situação criada se podem tirar.

Não é novidade para ninguém que no Mundo o problema do crédito sofreu alterações notáveis. Não preside hoje às suão grandes operações o mesmo critério que presidia há trinta anus.

Depois da última guerra. a América tem espalhado pelo Mundo, com espectacular generosidade e em condições opimas crédito abundante, que tem permitido a muitas nações melhorarem notavelmente as suas condições económicas.

Nós, orgulhosamente, temos procurado, depois da nossa regeneração financeira, a nossa regeneração económica; ma» temo-lo feito quase unicamente com o nosso esforço. E grandiosa a obra realizada e é efectivamente, reveladora de um esforço, de uma vontade heróica deste povo. que, entre tantos exemplos que tem dado ao Mundo, deu mais este: de, sob uma. orientação esclarecida, iluminada mesmo, ter sabido e querido resolver, por si só, uma situação que. da insolvabilidade, veio até ao crédito seguro e firmo dos que sabem cumprir, mesmo com sacrifício.

Em economia, porém, o tempo que se perde pode ser um elemento seguro do sucesso que se esvai e os que; se nos adiantam, por mais audazes ou menos orgulhosos, recorrendo largamente ao crédito que se oferece, tomarão posições que encontraremos ocupadas quando lá chegarmos.

Era enorme o nosso atraso, e por isso o esforço que temos de realizar é também enorme, não se contendo, afigura-se-me, nas nossas exclusivas possibilidades.

Dois exemplos apenas, se é que nesta matéria são precisos, para demonstrar o que atrás, fica dito.

Quanto teria ganho a economia nacional se logo nos primeiros tempos da actual situação, tivesse sido possível atacar-se denodadamente o nosso apetrechamento hidroeléctrico ? Quanto menos nos teriam custado as obras, quanto mais baixo, consequentemente seria n preço do custo do Kilowatt e que largas repercussões tal facto teria na nossa economia? Isto porém, não poderia ter sido porventura possível.

Outro exemplo, porém, mais flagrante e cujas consequências, por estar dentro das realidades, se podem medir exactamente.

Em 15 de Julho de 1941 publicou o Diário do Governo o chamado Plano dos Centenários para a construção das escolas primárias. Tratava-se da construção de 12 50O salas de aula, que ao tempo se estimavam em 28.000$ cada num dispêndio total de 350 000 contos.

O Estado suportava metade e distribuía a outra metade pelas câmaras municipais, a pagar em vinte anos.

Era uma medida de rasgada e generosa iniciativa, que foi fortemente aplaudida por todo o País.

Que destino teve esse maravilhoso plano, que visava, a enquadrar as escolas primárias deste país num ambiente confortável e convidativo, compatível com a dignidade do Estado Novo?

Das 12 500 salas construíram-se apenas 4273, com um dispêndio de 500:825.731 $39, isto é, quase 1/3, do projectado e uma despesa maior do que a calculada para o total; esgotou-se quase, por este motivo, a possibilidade da contribuirão das câmaras municipais e o custo de cada sala. que era de 28.000$ passou para 117.206$11.

O Sr. Amaral Neto: - Se me permite, lembrarei que esses orçamentos eram de 1941 e mesmo nesta data talvez fossem optimistas. O encarecimento dos custos explica essa desactualizarão.

O Orador: - Para maior economia, foram revistos os projectos e feitos novos orçamentos, dividindo as construções em urbanas e rurais, as quais são orçadas, respectivamente, em 80.500$ e 66.150$.

Quer dizer, o que nos devia ter custado 350 mil contos já nos custou 500 mil e contos mais 583 mil contos se até final não se agravarem as circuns-