As notas que atrás se deixaram sobre a evolução da balança de pagamentos não permitem, no entanto, o esclarecimento duma ideia de há muito aventada: a balança de pagamentos portuguesa é estruturalmente deficitária, sendo os saldos credores devidos aos baixos consumos internos.

Por isso, e para fecho destas notas, procurar-se-á reunir dados e comentários, na esperança de que eles possam trazer alguma contribuição positiva ao esclarecimento deste problema. Conhecem-se dados sobre a balança de pagamentos desde 19321, sendo os saldos apurados os seguintes:

(Milhares de contos)

Se bem que os números em si não mereçam grande confiança (especialmente os mais antigos), parece legítimo tomá-los, pelo menos, como indicadores de tendências. Nos últimos vinte e quatro anos terá havido dezoito anos de saldos positivos e apenas seis de saldos negativos.

À primeira vista, portanto, não se nota qualquer manifestação dum déficit estrutural.

Saldos da balança de pagamentos

Acresce ainda que dos seis saldos negativos verificados três deles são insignificantes, principalmente se for tido em conta o método de cálculo1 da sua determinação ; os restantes - posteriores à guerra - parecem perfeitamente normais e previsíveis: os saldos positivos processados durante a guerra são artificiais na medida em que resultaram da impossibilidade de importar, sendo transferidos nessa parte para o estrangeiro logo que houve oportunidade de os transformar em bens. A redução do período analisado aos últimos oito anos -1948-1955 - vem permitir trabalhar sobre elementos mais completos e exactos.

Do quadro da balança geral de pagamentos da zona escudo2 pode concluir-se que, entre elementos estacionários ou de fraco campo de variação, o saldo da balança comercial se apresenta como principal determinante do saldo geral. Esta conclusão aparece grandemente fortalecida quando se atenta na representação gráfica das variações simples e acumuladas do saldo geral da balança de pagamentos e do saldo da balança comercial3.

Daí a ideia de reduzir a explicação das variações do saldo geral da balança de pagamentos às variações do saldo da balança comercial.

Variações simples e acumuladas do saldo geral da balança de pagamentos e do saldo da balança comercial

(1) Variações acumuladas do saldo geral da balança de pagamentos.

(2) Variações acumuladas do saldo da balança comercial.

(3) Variações simples do saldo geral da balança de pagamentos.

(4) Variações simples do saldo da balança comercial. A decomposição deste saldo nos seus quatro elementos primários - importações e exportações metropolitanas e ultramarinas - não permite, no entanto, melhorar a explicação obtida.

1 Estes saldos foram calculados pela evolução das disponibilidades líquidas do Governo, bancos e banqueiros e das reservas do Banco de Portugal.

3 Vide também en anexo, mapa n.º2