O valor total do comércio da metrópole com o estrangeiro nos oito primeiros meses de 1956, a sua distribuição pelas principais zonas monetárias e a

comparação com os resultados registados em igual período de 1955 podem ser observados no quadro que segue.

Comércio da metrópole com o estrangeiro, por zonas monetárias

(a) Inclui os Estados Unidos da América e o Canadá.

Podemos, deste modo, verificar que a balança de comércio externo da metrópole continua a evoluir em sentido negativo, acusando um agravamento de 820 000 contos no período de Janeiro a Agosto do ano corrente em relação a período homólogo do ano findo.

A tendência do déficit mantém-se nas três zonas monetárias consideradas, embora a sua participação no acréscimo do saldo negativo total não seja igual.

É no quadro dos países membros da União Europeia de Pagamentos -os quais continuam mantendo a sua posição de principais fornecedores e compradores do mercado metropolitano - que se verifica o maior desnível. Com um saldo negativo superior ao valor total da exportação, a nossa posição na zona da União agravou-se de 712 000 contos, em consequência duma extraordinária expansão do valor das importações (+ 618 000 contos) e duma contracção no valor das exportações (- 94 000 contos).

Não é estranho a este movimento o contínuo desequilíbrio com que vêm processando-se as nossas relações comerciais com a Alemanha, que nos oito primeiros meses deste ano acusaram um saldo deficitário de 949 000 contos, isto é, superior em 308 000 contos ao saldo observado em igual período do ano anterior.

Embora estes resultados pareçam bastantes para que possa solitar-se do Governo Federal um tratamento francamente favorável na sector dos produtos não liberados - único em que a intervenção governamental é actuante -, a verdade é que o nosso déficit com a Alemanha não parece ter o carácter patológico que à primeira vista se lhe pode atribuir.

Deveremos lembrar-nos de que estamos neste momento a negociar, não com mercados isolados, mas com um mercado composto de dezassete parcelas, onde a média do comércio livre de restrições quantitativas atinge cerca de 90 por cento e onde existe um organismo de compensação multilateral - a União Europeia de Pagamentos.

Nestas condições, a satisfação das nossas necessidades de consumo procurá-la-á o comércio importador pela compra de mercadorias no mercado que venda em melhores condições de qualidade, de preços e de facilidades de crédito.

O verdadeiro significado do nosso saldo negativo com a Alemanha, mais do que a nós, deve interessar aos tradicionais fornecedores de Portugal, uma vez que esse saldo significa para eles a perda, a favor de um concorrente, de um mercado em vias de expansão.

Embora duma forma mais atenuada, no comércio realizado com a zona dólar há a registar a mesma tendência verificada para o conjunto dos países participantes: aumento no valor total das importações e decréscimo no valor total das exportações. Esta evolução foi devida ao agravamento de 96 000 contos processado na balança de comércio com os Estados Unidos da América, uma vez que com o Canadá se nota uma ligeira melhoria.

Não pode passar-se em claro o déficit com os Estados Unidos, convencido, como se está, da possibilidade de aumentar sensível e imediatamente a exportação para este mercado, mesmo com os nossos produtos tradicionais, como os vinhos e as conservas de peixe.

Não parece, no entanto, conveniente, por inútil, financiar campanhas de prospecção e propaganda na América para estes e outros produtos enquanto a produção e o comércio não substituírem a sua actual pulverização de tipos de produtos e de organizações comerciais por uma organização capaz, técnica e financeiramente, de promover o escoamento de mercadorias, de qualidade homogénea, adequadas às exigências do consumo e produzidas em quantidades que garantam a contínua presença do produto em mercado tão vasto.

É este um dos casos em que a transigência com as insuficiências deliberadas de alguns sectores do comércio de exportação redundaria em prejuízo evidente dos superiores interesses da economia nacional.

O desequilíbrio da nossa balança de comércio com outros países não participantes aumentou ligeiramente de Janeiro a Agosto do corrente ano, cifrando-se em 273 000 contos, o que corresponde a um prejuízo de 26 000 contos, se o compararmos com o observado em igual período do ano anterior.

Em relação ao conjunto de países não participantes interessa principalmente salientar a evolução processada no intercâmbio comercial com a Argentina, com o Brasil e com os países do Leste europeu.

Enquanto que as relações comerciais com a Argentina se agravaram de 112 000 contos, devido principalmente à contracção da exportação, que se cifrou em cerca de 102 000 contos, com o Brasil o saldo da nossa balança comercial melhorou de 128 000 contos, devido quase que exclusivamente a uma diminuição no valor total da importação - 121 000 contos.

A queda verificada na exportação para a Argentina é, quase na totalidade, devida ao menor volume de vendas de cortiça para aquele mercado. No entanto, neste caso não se pode afirmar que a situação seja devida à falta de iniciativa privada: o problema da cortiça surge em relação à quase totalidade dos mercados e são outras e mais profundas as suas causas.