de revoltado protesto que varreram o País de ponta a ponta, no horror e na repulsa com que, a par do restante mundo civilizado, Portugal acompanhou a sangrenta repressão da Hungria: vamos saindo todos agora do espanto que a principio dominou, para começarmos a sentir, como imperativo de consciência e de dignidade, a necessidade imperiosa de uma firme acção do presença.

O Mundo está devidamente esclarecido no que respeita ao mito duma coexistência com aqueles para quem a brutalidade é norma corrente de conduta e o próximo só um pouco mais que nada, porque interessa considerar para abater.

Na verdade, e perante certas atrocidades que no Mundo actualmente se cometem, chegamos a duvidar até se para algumas raças ou povos os progressos da técnica e da civilização lhes não criam, por razões incompreensíveis, um retrocesso à barbárie.

Nada há, na realidade, que explique os actos de violência, de práticas desumanas, de mórbida selvajaria com que se esmagam pessoas que unicamente desejam um mínimo de liberdade e de segurança para si e para os seus; vendo dominar assim intelectuais e operários, estudantes e camponeses, velhos, mulheres, crianças, perguntamos a nós próprios, em exame de consciência entristecida, para que foi necessário tanto sangue vertido, tanta dor e sofrimento, há poucos anos atrás, se a violência dos homens, se o domínio cruel da força bruta e dos abusos do poder se sobrepõem ainda, sem hesitações e sem rebuço, ao direito, à moral e à justiça, pelos quais grande parte do Mundo se bateu»!

E porque há-de ser sempre o povo, incauto e trabalhador, sincero nos seus anseios, humilde nos seus desejos, sofredor nos seus desígnios, o alfobre de agitações que comprometem para criar o clima indispensável aos movimentos de força que o hão-de esmagar mais tarde, na obediência total à divinização de um poder?

Por mim, confesso que, para além do crime inqualificável de matar sem consciência ou sem razão, para além da atitude ignóbil de substituir pela violência e pela força o domínio que caberia à moral e ao direito, me fere talvez muito mais ainda o revoltante cinismo dos que, maquiavelicamente, se apoiam na receptividade confiante dos pobres e dos humildes, na devotada ansiedade da juventude entusiasta, para depois os tratarem como zeros que não contam nas suas desmedidas ambições.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Diluiu-se, infelizmente, a esperança de ver terminados, nesse mare magnum de destruição, de perseguições e de sangue, os actos atentatórios da liberdade e dignidade humanas; estamos possivelmente no começo de um novo ciclo da história, em que, para além de alguns direitos dos homens, se jogam abertamente a sobrevivência e os direitos de uma civilização.

Daqui o ter chegado a hora de tirar do sacrifício de um povo que luta isolado até ao fim a lição que melhor sirva à defesa indispensável da causa da civilização, que é nossa e pela qual este povo intimorato tão generosa e admiravelmente se continua a bater. Para a focar, Sr. Presidente, pedi a V. Ex.ª a palavra e permito-me solicitar a atenção da Câmara.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Reside essa lição, sobretudo, na demonstração exuberante e alentadora do valor que tem ainda a força de uma consciência europeia perante a violência ultrajante do imperialismo moscovita, consciência tão sensível, ião marcada, que a Hungria conseguiu, pelo seu próprio esforço, pertencer, por poucos dias embora, à verdadeira Europa, apesar de cercada e ocupada de tal foi ma que não conseguiu obter um auxílio material do exterior.

Admitamos mesmo que essa sublevação, misto de heroísmo e desespero, foi facilitada, de princípio, pela Rússia, a fim de, em puro acto militar e não político, trazer os seus homens e os seus tanques para os territórios fronteiriços do Ocidente europeu; mesmo assim, um trunfo jogou e joga a favor da nossa Europa: o dessa consciência admirável que se reafirmou e provocou no Mundo o primeiro grande movimento de solidariedade ocidental.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

inteiramente o dominam no campo económico-social.

Há em todo esse movimento revolucionário que fervilha ainda, porque se sente latente na vivacidade duma luta que não quebra e nas suas repercussões, não só o impacto reactivo dum povo intolerante a domínios, mas de grupos nacionais que, desejosos de liberdade e de justiça, repudiam formas de governo e ideologias políticas que o momento francamente ultrapassou.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mal vai de facto, a uma ideologia política quando contra ela se levanta a juventude en-