Pelo exame deste mapa tiramos algumas indicações curiosas:

3.º O número de passageiros que viajam em avião é ligeiramente inferior aos que se servem dos barcos da Empresa Insulana de Navegação;

4.º O movimento em barcos estrangeiros figura em 4.º lugar, com, respectivamente, 13,1 por cento nos embarcados e 17,9 nos desembarcados ;

5.º O total dos passageiros que viajam nos outros barcos nacionais é muito reduzido 11,3 por cento nos embarcados e 7,5 nos desembarcados.

Verificando-se que a Empresa Insulana de Navegação transporta um tão reduzido número de passageiros, não se compreende que os preços das passagens para o Funchal sejam os definidos pelos desta Empresa. Sucede também que as tarifas estabelecidas são necessariamente caras devido ao longo percurso determinado, cujo encargo é em grande parte suportado pelos passageiros da Madeira.

Tal como está presentemente funcionando esta carreira, resultam prejuízos para a Empresa e estão mal servidos os arquipélagos dos Açores e da Madeira.

Os barcos utilizados no serviço de passageiros - o Lima e o Carvalho Araújo - são antieconómicos e não satisfazem as exigências actuais.

A extrema divisão de classes não se justifica, pois o Lima tem sete classes.

Até a regularidade das escalas deixou de existir, o que também apresenta alguns inconvenientes.

Não se compreende o critério que determinou a actual orientação, em que a Empresa criou pelas suas próprias mãos as condições de concorrência aos seus próprios barcos, transportando a carga noutros mais pequenos.

Só depois de muito instada, e a título temporário, é feita a reserva de vinte e cinco dos bilhetes pára os turistas que se destinam à Madeira, sendo os bilhetes de ida e volta com indicação da viagem de regresso. Sucede, todavia, que alguns franceses a quem em Paris é indicada esta Empresa são forçados a viajar no Gorgulho e no Madalena, porque só nestes têm lugar assegurado.

Há necessidade imperiosa de mudar este estado de coisas, e só o estabelecimento de uma carreira Lisboa-Funchal, com um barco dotado de acomodações para 1.ª classe, 2.ª classe ou turística e passageiros de convés, com uma deslocação nunca inferior a 20 nós, poderá resolver satisfatoriamente tão importante problema.

Só assim será possível reduzir o preço das passagens, transportando um maior número de passageiros, como sucede nos barcos que fazem a carreira

Marselha-Argel. Deste modo, não só os Madeirenses terão maiores facilidades nas suas deslocações, mas também aos continentais será possível visitar a Madeira em condições aceitáveis, dado que para o grande número são inacessíveis os actuais encargos da viagem. São muito estreitas, e cada vez se acentuam mais, as relações da Madeira com o continente - estudantes de cursos superiores, comerciantes, pessoas que se deslocam por motivos de saúde, para consultarem médicos e fazerem tratamento nas estâncias termais, e muitos outros.

O que se propõe agora não é novidade, pois já em 1861 o Governo, pelo Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, abra u concurso para uma carreira entre Lisboa e o Funchal, estabelecendo como condição que a viagem se realizasse num período inferior a sessenta horas. É curioso notar também que eram estabelecidas as 1.ª, 2.ª e 3.ª classes e as passagens de convés. O preço desta passagem era de cerca de 55 por cento do custo da passagem de 3.ª classe.

Presentemente, sendo possível r ealizar a viagem em vinte e quatro horas, maior justificação têm ainda as passagens de convés, resultando maior economia da exploração e, consequentemente, o reduzido preço destas passagens.

Poderia objectar-se à dificuldade que resultaria nas comunicações directas da Madeira com os Açores deixando de existir as actuais carreiras da Insulana. E de notar que o reduzido movimento está plenamente assegurado pelas carreiras dos Carregadores Açorianos.

A existência de uma carreira de navegação entre o Funchal e Lisboa viria resolver, em grande parte, o actual problema das comunicações, evitando as situações angustiosas muitas vezes observadas em turistas, comerciantes e doentes, que não embarcam por não terem escalas de navios em datas próprias e se sujeitam a ter ou não lugar nos outros ocasionais.

Sr. Presidente: o Governo, que ião largo apoio tem dado à Madeira, permitindo-lhe o grande desenvolvimento verificado nos últimos anos - na Construção da rede de estradas nacionais; na formidável obra de hidráulica agrícola, que veio beneficiar grandes extensões de terreno; na electrificação rural, cuja primeira fase terminou e a segunda, que entra em execução, permite electrificar toda a ilha até 1:961; nas grandes obras de ampliação do porto do Funchal, presentemente em curso; no contrato com a Shell, que assegura o abastecimento de óleos à navegação; na construção de edifícios escolares; na criação de escolas e de cursos de educação de adultos; na construção de estradas e caminhos municipais; no abastecimento de água potável, e em muitos outros empreendimentos -, saberá certamente encontrar a solução conveniente para prestar este importantíssimo serviço: estabelecer uma carreira regular de navegação entre Lisboa e o Funchal.

Os naturais das ilhas ou aqueles que nelas vivem são, pela própria natureza das circunstâncias, prisioneiros do mar. E essa sensação só pode ser atenuada ou anulada com a existência de comunicações frequent es, regulares e cómodas.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.