Outra conclusão deste estudo foi que durante o mesmo período o número de tecnologistas saídos das Universidades norte-americanas aumentara mais de 3 por cento em cada ano, ao passo que o aumento em Inglaterra fora só metade. A aproximação destes resultados é sugestiva e justifica a afirmação de um crítico inglês de que, num período correspondente a duas gerações, a indústria britânica deixou que as suas instalações e processos se atrasassem em relação aos das indústrias americana e europeia continental. Os cientistas britânicos vão arrebatando numerosos prémios Nobel em ciências fundamentais, como a física e a química; mas as tecnologistas pouco têm feito para utilizar os resultados daqueles trabalha, alguns dos quais teriam aplicação quase imediata aos problemas da indústria.

Vem a propósito esclarecer nesta altura que considero que o organismo a criar não atingiria o objectivo de prestar assistência técnica à indústria e contribuir para o aperfeiçoamento e desenvo lvi mento das actividade industriais portuguesas se limitasse a sua acção a tecnologia propriamente dita, isto é, ao melhor aproveitamento de matérias-primas e, subprodutos e ao aperfeiçoamento dos processos e meios de trabalho.

Na preparação profissional dos tecnologistas não se podem esquecer as humanidades, o que explica que no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. nos Estados Unidos, de alta categoria mundial, o estudante deva passar no Departamento de Humanidade o equivalente a um dia por cada cinco de trabalho durante todo o seu curso de quatro anos. Da mesma maneira, um, instituto de investigarão industrial não pode deixar de considerar os aspectos económicos e as implicações sociais da introdução de novos processos de trabalho na indústria.

Entrámos numa nova era industrial. O aparecimento da automatização já começou a ter consequências de carácter social, e é necessário evitar que a nova estrutura traga consigo perturbações análogas àquelas que acompanharam a revolução industrial de há 150 anos. Há necessidade de conseguir que o trabalho industrial seja uma actividade humanamente satisfatória e não simplesmente um triste meio de obter o pão de cada dia.

Deve reconhecer-se que não será fácil aplicar à vida industrial moderna os princípios verdadeiramente cristãos da dignidade do trabalho e da igualdade de valor (que não de capacidade) de todos os seres humanos, que são pessoas e não ferramentas. A subordinação dos ritmos naturais do organismo humano ao ritmo implacável da máquina, hora a hora, dia a dia. pode ter consequências futuras ainda difíceis de avaliar. A vida da fábrica, sobrepondo-se a vida familiar e eliminando a comunidade paroquial, cria problemas de relações humanas que são complexos e que se apresentam por vezos com aspectos de grande emoção.

Dos muitos serviços que o novo organismo poderá prestar quero ainda destacar o das informações paru as indústrias, explicitamente referido no n.º 3.º da base III da proposta de lei. Compete ao Instituto reunir e preparar devidamente, para fácil consulta e para divulgação, os estudos. relatórios, textos do patentes, informações e referências, nacionais ou estrangeiras, que possam ser úteis para o aperfeiçoamento das actividades industriais já existentes ou para a instalação de novas indústrias no País.

É este um serviço inestimável que um organismo do Estado pode desempenhar mais facilmente com maior objectividade do que uma entidade privada, e sem discriminações, quer na colheita das informações destinadas às actividades industriais, quer no fornecimento das próprias informações.

A proposta de lei que cria o Instituto de Investigação Industrial é oportuna. Felicito o Governo pela sua iniciativa e pelo são critério e largueza de vistas com que planeou o novo organismo. A proposta é ambiciosa nos seus objectivos, e é esse para mim um dos seus grandes merecimentos. Tudo aquilo que se fizesse para amesquinhar a instituição projectada seria uniu diminuição das suas possibilidades de actuação no futuro. Espero que o Governo seja tão feliz na instalação do Instituto como foi nu concepção dos seus objectivos u no planeamento da sua estrutura.

Estou convencido de que a indústria portuguesa encontrará no Instituto um auxiliar poderoso para o seu progresso e desenvolvimento, quer na metrópole, quer no ultramar. É evidente que a prestação de serviços pelo Instituto às indústrias se estenderá a todo o território nacional; e quaisquer ajustamentos do redacção da proposta de lei impostos pelo respeito devido às disposições constitucionais não tirarão ao novo organismo o carácter de instituto nacional com que foi imaginado e que é uma das suas características mais valiosas.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

eficiência.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 19 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Américo Cortês Pinto.

João Afonso Cid dos Santos.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Amândio Rebelo de Figueiredo.

António da Purificação Vasconcelos Baptista Felgueiras.

António Russell de Sousa.

António dos Santos Carreto.

Carlos de Azevedo Mendes.

Elísio de Oliveira Alves Pimenta.

Gaspar Inácio Ferreira.

Gastão Carlos de Deus Figueira.

João Carlos de Assis Pereira de Melo.

João Mendes da Costa Amaral.