Este enorme rio, um dos maiores de África, que nasce em Angola e desagua em Moçambique, depois de atravessar o continente negro, entra em território português vindo da Rodésia e, depois de correr 870 km na província da costa oriental, lança as suas águas no Índico, em Chinde e arredores. É um rio turbulento, com cheias que ficam na memória gentílica como catástrofes babilónicas.

Foi um rio misterioso durante os séculos que decorreram desde os Descobrimentos.

Sob o império de investigações nascidas em viagens célebres nos anais da civilização o Zambeze foi cedendo os seus misteriosos segredos.

Pouco a pouco vieram à superfície as suas maravilhosas possibilidades - e Moçambique contém, nos 370 km do seu curso, a maior de todas.

Sem entrar em pormenor neste lugar, talvez se possa dizer, tanto quanto é possível com os dados agora conhecidos, que o troço do Zambeze em território nacional conta maiores possibilidades económicas do que porventura qualquer outro troço de rio idêntico em África ou até noutros continentes.

O estudo do esquema do seu aproveitamento integral não pode ser obra de anos nem talvez de uma década.

Se for considerado que no troço português a energia potencial do rio se aproxima de 50 biliões de unidades (kWh), dos quais mais de metade são recuperáveis num troço relativamente curto, visto, tanto quanto se conhece agora, ele não ir muito além de 100 km, ter-se-á a noção da grandeza do valor potencial do rio.

E se for acrescentado ao que acaba de se escrever que obras agora em andamento no seu curso de montante

a umas centenas de quilómetros da fronteira moçambicana regularizarão integralmente o rio, quer dizer: permitirão capacidade de armazenagem das suas águas, incluindo as cheias, superior a 120 biliões de metros cúbicos de água, imediatamente se formará a ideia do uuonue benefício que esta retenção trará ao curso do rio a jusante em território português.

Esta considerável melhoria na turbulência de um dos rios mais torrenciais de África pode ser completada por outra idêntica, não longe de Tete, onde a construção de uma barragem de altura certamente inferior a 100 m formará um lago de comprimento da ordem de mais de duas centenas de quilómetros, com capacidade que tudo indica ser também superior a 100 biliões de metros cúbicos.

Ora o rio Zambeze cai abruptamente quase logo a seguir a esta barragem, através da garganta apertada de Canora Bassa, num destes fenómenos apocalípticos raras vezes encontrados à superfície da Terra.

Com desnível bem superior à centena de metros, a seguir a dois enormes reservatórios - o de Kariba, na Rodésia, agora em construção, e o de Ghicoa ou vizinhança, em território português -, o rio e quase inteiramente regularizado.

As cheias, quando as obras estiverem concluídas, serão um espectro, um fantasma de passado tenebroso; e as terras baixas, formadas por levas de detritos arrastados do centro de África em biliões de anos, produto de erosão contínua desde as épocas primevas, estarão em condições de ser adaptadas à produção, num esforço tenaz e paciente do homem a exercer-se porventura durante séculos. Todos os territórios portugueses da Europa, África e Ásia apresentaram déficit na sua balança do comércio, com excepção de Angola, que fechou com o saldo positivo de 117 000 contos, e de S. Tomé e Príncipe.

Nalguns casos, como em Moçambique, o saldo negativo ultrapassou 1 milhão de contos e foi superior em cerca de 200 000 contos ao de 1954. Porém, a balança de pagamentos da área do escudo apresentou ainda saldo positivo substancial, apesar de inferior ao de anos anteriores.

A questão do déficit tradicional da balança do comércio reveste aspectos que convém ter sempre na memória. Excluindo a Guiné e Macau, e tendo em conta os

valores aduaneiros, o déficit da balança do comércio dos territórios nacionais em 1954 elevou-se a 4 666 000 contos. A subida, em relação ao ano anterior, foi bastante grande. Em 1954 o déficit foi da ordem de 3 500 000 contos.

Tanto na metrópole como no ultramar se notam valores inferiores aos do ano de 1954. Os saldos positivos de Angola e S. Tomé foram mais pequenos e os saldos negativos na metrópole, em Cabo Verde, em Moçambique, na índia e em Timor aumentaram bastante.

No quadro a seguir indica-se o movimento do comércio externo em todos os territórios da Nação, excepto os da Guiné, por não haver valores para as importações, e de Macau.

(Ver tabela na imagem)

(a) Não está feito o apuramento do último quadriénio.

Nota. - Não são mencionados os valores de Macau por motivo de, não havendo alfândegas na província, não oferecerem confiança os números publicados nas estatísticas respectivas. Os da Índia são provisórios. Não existem valores para as importações da Guiné dos anos anteriores.