A vitalidade da economia da província de Angola e os perigos que podem derivar do desconhecimento de certos aspectos fundamentais dessa economia foram amplamente demonstrados no decurso do ano de 1955.

Medidas tomadas, embora um pouco tardiamente, e o esforço feito no sentido de promover a evacuação rápida de alguns produtos essenciais ao equilíbrio da sua balança de comércio conduziram a melhorias apreciáveis no 2.º semestre, que neutralizaram de algum modo as fraquezas notadas anteriormente.

Foi assim possível fechar a balança comercial com saldo positivo e recuperar faltas no saldo cambial, perigosamente afectado por importações excessivas e outros factores que não vale a pena agora mencionar, por serem do passado.

A vigilância constante dos saldos cambiais e o estudo pormenorizado e meticuloso dos mercados interno e externo são aspectos importantes e delicados na vida da província. Muitas vezes é possível prever com antecipação suficiente fenómenos que podem afectar a economia de um país. E a previsão é meio caminho andado para corrigir o curso de acontecimentos e atenuar crises que quase sempre colidem por anos seguidos com o bem-estar interno. Angola está a atravessar uma crise, se tal nome se pode dar ao estágio de crescimento por que passam todos os países novos. A crise provém, em geral, de dois factores - a falta de capitais considerados necessários para um progresso acelerado e o mau ajustamento das condições locais de mão-de-obra, de orientação técnica, de pessoal administrativo e outras.

A ânsia de rápido crescimento leva muitas vezes a erros que produzem efeitos contrários. Convém, por isso, ter sempre à vista a ideia de que vale mais progredir a passo razoável, mas seguro, do que enfrentar alternativas de períodos áureos de actividade interna e anos desanimadores de estagnação. Ainda que o café seja o principal esteio da economia provincial, recentes progressos na exploração de outros produtos levam a crer que, dentro de alguns anos, perturbações nos preços mundiais daquele produto não afectarão tão profundamente a vida provincial como no passado.

For outro lado, nota-se no exame das actuais condições de exploração que os empresários têm já a preocupação do custo. Angola terá de concorrer nos mercados internacionais com preços que lhe permitam escoar a sua produção em tempo oportuno e conveniente. Assim, a qualidade dos produtos, rigorosamente mantida, de modo a inspirar confiança, e os cuidados culturais, que permitam a produção das quantidades possíveis por unidade de superfície, deverão constituir

o fundamento da exploração agrícola. Idêntica preocupação deverá assegurar na indústria, sobretudo na da pesca, os melhores produtos, a preços razoáveis e sempre susceptíveis de concorrência no exterior.

Parece que estas ideias já se insinuaram com proveito em grande número de entidades produtoras; e sente-se em toda a província o desejo de melhorar, na medida do possível, o nível da produção.

Compete às autoridades técnicas do Estado oferecer a ajuda possível, que se não poderá limitar a simples conselhos.-

Em países novos a experimentação é basilar. Desconhecem-se ainda hoje muitos elementos essenciais sobre a evolução orgânica da vida tropical, e já o ano passado, neste lugar, se aludiu à conservação dos solos e outros problemas relacionados com a agricultura. Os dinheiros gastos na colheita de elementos que possam orientar a produção agrícola são susceptíveis de fornecer preciosos auxílios ao progresso da província.

A formação de fazendas-pilotos, como a que se projecta efectivar perto do rio Bengo, destinada a orientar a agricultura na zona Cuanza-Bengo, deve levar aos melhores métodos de exploração. Também iniciativas como a da construção de um aviário perto de Malanje, já em funcionamento, e certas experiências com a cultura de tabaco e fibras diversas auxiliarão, sem dúvida, as possibilidades de novas indústrias, e no caso mencionado acima abrirão possibilidades domésticas de interesse que ultrapassam a própria economia da exportação, visto poderem melhorar com relativamente pequeno esforço a economia do indígena.

Comércio externo A balança do comércio de Angola fechou com o saldo positivo de 117 000 contos, inferior ao de 1954 e bastante mais baixo que o de 1953, em que subiu a mais de 1 milhão de contos.

No quadro seguinte indica-se a evolução do comércio externo desde o período anterior à guerra:

(Ver tabela na imagem)

Nota-se ligeira descida nas importações, que vieram de 2 754 000 contos em 1954 para 2 688 000 contos em 1955. A baixa proveio de menores importações, visto o custo por tonelada importada ser sensivelmente idêntico nos dois anos.