Entre as causas dos acidentes indiquei, precisamente, a inadaptação das estradas ao grande tráfego e o péssimo comportamento dos peões.

V. Ex.ª não me ouviu dizer que há peões que até fazem «quites» aos automóveis, como se observa frequentemente nas ruas de Lisboa e noutros lugares.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Isto é das más condições acústicas da sala! ...

O Orador: - Li num folheto de propaganda que as novas gerações nasceram já na voragem dos tantos quilómetros por hora, indiferentes ao perigo, à prudência e ao bom senso.

Vá lá! Ainda falta imitarem um norte-americano que, sendo acusado no tribunal de barbear-se enquanto conduzia o seu automóvel, declarou considerar-se no pleno direito de assim proceder, porque a Polícia não prendia as mulheres pelo facto de se empoarem e pintarem enquanto conduzem ...

Chega-se ao extremo de justificar o abuso com a afirmação de que também se causam ou sofrem acidentes de viação quando se caminha em velocidade moderada !

Não há pior cego do que quem não quer ver!

Quem raciocina deste modo, e com tal raciocínio se defende, finge ignorar pelo menos esta regra elementar: a frequência e a gravidade dos acidentes está na razão directa da velocidade empregada. E se ela não for excessiva, quantos acidentes se evitam e quantas vidas se poupam!

Ë sempre arriscado confiar no juízo dos outros, e, por isso, assim não procedeu, por exemplo, um motorista de Detroit, que percorrera l 500 000 km sem um acidente e explicou que, para o conseguir, lhe bastou conduzir com a ideia preconcebida de que os outros são malucos.

Evitar-se-iam muitas desgraças se todos assim raciocinassem de quando em vez ...

E ao menos poupa-se sempre tempo apreciável com o emprego de velocidades excessivas? Não, e o tempo que se poupa não compensa o risco que se corre de não se chegar ao termo da jornada ou de deixar algum rasto de sangue pelo caminho. Já li algures que, certo dia, um ás de corridas percorreu, por duas vezes, quinze quarteirões de uma cidade. Da primeira vez fê-lo na velocidade regulamentar, mas da segunda vez empregou excesso de velocidade e violou todas as disposições dos regulamentos do trânsito, para, afinal, reduzir o tempo despendido apenas em três segundos e nove décimos.

Assim arriscou tanto por tão pouco ! ...

O Sr. Melo Machado: - O pior é que a pessoa que dá causa ao desastre não fica sob a alçada da lei e a pessoa que vai a guiar, mesmo quando não tem culpa, tem de ir para o tribunal responder, etc. Daqui a pouco temos de deixar o automóvel em casa e andar a pé.

Mas se andássemos com carros de cavalos não haveria mais acidentes? Havia que contar com a irreflexão do condutor e com as manias dos cavalos.

O Sr. Pereira Viana: - Quero registar aqui que o ano passado fiz uma viagem de Washington para Nova Iorque, de automóvel, e verifiquei que a velocidade máxima nessas estradas não chegava em certos pontos a 100 km à hora, mas a velocidade normal era de 90 km e nalguns pontos era até de 70 km. Mas nunca excedia 100 km. Na auto-estrada magnífica do Rio de Janeiro para S. Paulo a velocidade máxima é de 80 km. Isto mesmo em estradas boas, largas. Ali a velocidade automobilística é controlada por radar e, se for atingida velocidade superior, o condutor é multado na ocasião. Em Portugal, nas estradas velhas, a velocidade não tem limites e a maior parte dos desastres são motivados por excesso.

O Orador: - Nas estradas boas deve haver sempre prudência, mas mais tem de haver nas estradas impróprias, como são a maioria das nossas.

Sr. Presidente: como me sinto um pouco fatigado e a hora vai adiantada, peço a V. Ex.ª que me permita continuar na sessão de amanhã. O Presidente: - Compreendo perfeitamente o cansaço de V. Ex.ª e, portanto, V. Ex.ª continua a efectivar o seu aviso prévio na ordem do dia da sessão de amanhã, que desde já fica marcado.

O Sr. Paulo Cancella de Abreu: - Muito obrigado a V. Ex.ª; e devo esclarecer V. Ex.ª e a Assembleia que já falta pouco para concluir as minhas considerações, pois vou abreviá-las.

O Sr. Presidente: - Amanhã, terminadas as considerações do Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu, darei conhecimento à Câmara das informações que o Sr. Ministro das Comunicações enviou à Assembleia sobre o assunto.

Está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e 40 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Abel Maria Castro de Lacerda.

Jorge Botelho Moniz.

Manuel Maria Sarmento Rodrigues.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Alberto Cruz.

Alberto Henriques de Araújo.

Alexandre Aranha Furtado de Mendonça.

Alfredo Amélio Pereira da Conceição.

Amândio Rebelo de Figueiredo.

António de Almeida Garrett.

António Calheiros Lopes.

António Camacho Teixeira de Sousa.

António Russel de Sousa.

António dos Santos Carreto.

Augusto César Cerqueira Gomes.

Ernesto de Araújo Lacerda e Costa.

Gaspar Inácio Ferreira.

João da Assunção da Cunha Valença.

João Carlos de Assis Pereira de Melo.

José Gualberto de Sá Carneiro.

José dos Santos Bessa.

José Sarmento de Vasconcelos e Castro.

Luís de Azeredo Pereira.

Luís Filipe da Fonseca Morais Alçada.

Manuel Cerqueira Gomes.

Manuel Colares Pereira.

Manuel Marques Teixeira.

Pedro Joaquim da Cunha Meneses Pinto Cardoso.