(...) meio citadino como o de Lisboa ou do Porto, com higiene, dignidade e satisfação das necessidades alimentares, dentro duma dieta rigorosamente equilibrada, seria o de um provento mensal da ordem dos 3.000$, que poderíamos supor assim distribuídos: cerca de 58 por cento (qualquer coisa como 14$50 por pessoa e por dia) para alimentação, 8 por cento para vestuário e calcado (sejam cerca de 720$ por pessoa e por ano), 10 por cento para habitação (300$ de renda mensal), 4 por cento para combustíveis e electricidade (cerca de 4$ por dia), 2 por cento para higiene (2$ por dia para os quatro) e 18 por cento para despesas diversas, ou seja qualquer coisa como uns 4$50 por pessoa e por dia para todas as despesas restantes que são, na verdade, indispensáveis na vida social actual. Creio que os números referidos se apresentam modestos à análise consciente de quem a quiser ter.
Como é evidente, quanto menor for o número de pessoas que compõem o agregado familiar a cargo do chefe de família, melhor nível de vida nesta, se poderá verificar; mas a inversa é igualmente verdadeira.
O Sr. Mário de Figueiredo: - V. Ex.ª conta só com os, proventos que provêm do trabalho do chefe de família ou conta também com os proventos do trabalho da mulher e dos filhos?
O Orador: - Tive toda a cautela de não falar em salários nem em vencimentos, mas sim em proventos, do agregado familiar, e isto é, na soma dos proventos mensais de todo o agregado familiar, e isto para evitar eventuais confusões.
O Sr. Mário de Figueiredo: - A coisa posta da forma como V. Ex.ª a enunciou conduz naturalmente; o público, que a não verá em pormenor, à conclusão seguinte: que um chefe de família, em Lisboa e Porto não pode ganhar menos de 3.000$ por mês.
Só estou a querer ficar de posse da ideia exacta expressa por V. Ex.ª para ver a medida em que será possível ou não aderir a ela. Para isso preciso do esclarecimento, e ainda para que o País fique desde já sabendo que quando se diz 3.000$ para Lisboa e Porto não se quer necessariamente dizer que sejam formados exclusivamente à custa do ordenado do chefe de família.
O Orador: - Eu vou explicar a V. Ex.ª, dizendo o seguinte: tenho a impressão de que da maneira como expus o caso o problema se apresenta, claramente.
Admitamos, porém, que não tenha conseguido ser suficiente claro.
Eu digo que um agregado familiar, nas condições apontadas, necessita de ter como mínimo de proventos mensais 8.000$. Se é um agregado familiar em que só o chefe ganha e ele não ganhar 3.000$, não satisfaz a esse mínimo. Mas se ele ganhar, por exemplo, 2.500$ e a mulher 1.000$, é evidente que esse mínimo de proventos mensais está então até ultrapassado.
O Sr. Carlos Borges: - V. Ex.ª parto do princípio de que é exacto o número de
calorias que apontou.
O Sr. Carlos Borges: - É por ter fontes de informação diferentes dos de V. Ex.ª que contradigo as suas afirmações.
Orador: - Talvez sejam informações vindas de um vegetariano.
O Sr. Moura Relvas: - Os acontecimentos da última guerra demonstraram que o número de calorias consignado nos tratados de fisiologia e higiene era exagerado em relação às necessidades. Chegou-se à conclusão de que o homem pode viver com muito menos calorias trabalhando, sujeito até a trabalhos forçados ...
O Orador: - Nos campos de concentração?
O Sr. Moura Relvas: - ... com saúde, num regime de menos calorias. Não posso ir além desta pequena informação, que transmito a V. Ex.ª como sendo exactíssima expressão da verdade.
O Orador: - Não me atreveria, de modo nenhum, a discutir o problema das necessidades calóricas no campo da medicina. Limitei-me a ter a necessária cautela de me documentar suficientemente para garantir a pureza dos valores de que me pude servir. Por isso mesmo li bastante sobre o assunto, e até onde a minha cultura geral me permitiu.
Tenho, porém, a impressão de que a experiência mais curiosa da guerra a tal respeito foi a de permitir concluir que era sobretudo na qualidade da composição, na dosagem proteica da alimentação, e não nos quantitativos calóricos, que novas directrizes se impunham.
De resto, há aqui dois problemas totalmente distintos: o dos números donde parto e as conclusões que deles tiro. As conclusões, terei muito prazer em as discutir com VV. Ex.as; quanto aos números, VV. Ex.as os discutirão, se quiserem, com as tabelas e com os livros onde os colhi, à sombra de nomes insuspeitos. Não nego que encontrasse disparidades de critérios, mas não substanciais para o estabelecimento das médias callóricas de que me servi.
O Sr. Moura Relvas: - Não admira, pois que até nos trabalhos clássicos há diversidade. Tem de se atender às condições climáticas do meio ambiente. E, assim, em Portugal a questão alimentar é muito diferente da da Noruega, onde o respectivo nacional, para se manter, tem de absorver grande quantidade de gorduras.
O Orador: - E não é só isso. É que mesmo do indivíduo para indivíduo, com a mesma estatura e um peso aproximado, as necessidades de calorias variam muito, conforme o clima e conforme o trabalho.
O Sr. Pereira da Conceição: - Não percebo nada de calorias, ainda menos do que V. Ex.ª diz perceber. Mas o que tenho é a sensação real da vida, e é por isso que me afiro pelo quo V. Ex.ª tem estado a dizer.
O Orador: - Mas, como eu estava a dizer, quanto a indivíduos da mesma estatura e de peso aproximado, as suas necessidades podem variar muito, quanto às calorias, é certo, mas limitei-me a partir de médias que (...)