nhecimento, porém, da impossibilidade que houve, durante largo tempo, de realizar no campo económico a obra verdadeiramente revolucionária que é precisa não significa aceitação da moderação dos processos muitas vezes seguidos, para a conseguir com brevidade, nem a acatação das hesitações, da descoordenação e dos vagares que às vezes a comprometem; é, na realidade, minha convicção arreigada - que desde há anos, aliás, aqui venho manifestando- que, sendo muito embora preocupação, tanta vez manifestada pelos mais directos responsáveis, levar a níveis mais altos o consumo e a produção nacionais, não se conseguiu ainda neste campo aquele indiscutível sucesso que noutros atesta já, de maneira iniludível, as razões da revolução levada a cabo e o mérito e o valor do regime que em sua consequência se instaurou.

Mas tal sentimento, que não é só meu e envolve, de certo modo, crítica a critérios e a processos, repudia altivamente a generalização daquela apelidação pejorat iva que alguns pretendem destinar-nos, por a considerar não só injusta, mas imprópria da obra realizada e dos resultados positivos que através dela o País oferece a quem nos queira analisar com a honestidade que se impõe.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Mário de Figueiredo: - O epíteto de país subdesenvolvido é referido ao nível de vida ou à nossa posição económica.

Evidentemente que o nosso nível de vida não é aquele que todos desejaríamos que fosse, mas o que pode perguntar-se é se, tendo nós procurado caminhar na busca dum nível mais elevado, podíamos caminhar mais depressa, e a que meios havemos de recorrer para continuarmos a caminhar numa progressão mais acentuada do que aquela que se tem verificado.

O Orador: - Há oito anos que ando aqui a dizer que podíamos caminhar mais depressa e V. EX.ª a dizer-me que não. Por isso não poderíamos estar de acordo, hoje, nesse ponto.

O Orador: - Tem V. Ex.ª razão quando diz que a designação que se atribui ao nosso nível geral de vida pode não estar certa sob certos aspectos. Exactamente para se definir o que se entende por «país subdesenvolvido» é que referi esta série de testes.

Do que não há dúvida é de que nestes últimos dois ou três anos começo a ver que esta apelidação de «país subdesenvolvido» se estende, quanto a nós, a uma generalização de comparações que não podemos aceitar.

Há certas regiões de muitos países, e mesmo do nosso - posso citar, por exemplo, no ultramar -, que podemos considerar como regiões subdesenvolvidas aos diversos aspectos; agora a generalização que se está a dar em relação ao nosso país, comparado com outros a quem já ultrapassámos há muito tempo, em certos índices e em certas realizações, é que me choca.

De entrada atendeu-se apenas ao aspecto económico, que está certo, mas hoje há tendência para fazer essa generalização sob o aspecto da compar ação, o que é francamente inadmissível, como se o atraso no desenvolvimento económico fosse o único teste que interessa para avaliar do grau de civilização duma nação.

A palavra «subdesenvolvido» está a tender para um sentido de generalidade, quando tão fácil seria verificar primeiro a obra que temos feito - e a injustiça destacar-se-ia imediatamente.

Faço votos, Sr. Presidente, ao terminar este curto apontamento que a consciência me impõe, que as nossas entidades responsáveis, e para o efeito competentes, reajam ostensivamente sempre que tal injustiça se pratique, não como quem reage a um insulto -dado não insultar quem quer-, mas sim como quem depara com uma lamentável ignorância, que é preciso corrigir sem cerimónia, pela inconsciência petulante que demonstra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - V. Ex.ª continuará as suas considerações na sessão de amanhã.

Vou encerrar a sessão.

Amanhã haverá sessão, com a mesma ordem do dia que foi designada para a sessão de hoje, ou seja a continuação da efectivação do aviso prévio do Sr. Deputado Daniel Barbosa sobre o problema económico português.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 45 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Herculano Amorim Ferreira.

Jorge Botelho Moniz.

Jorge Pereira Jardim.

José Garcia Nunes Mexia.

José dos Santos Bessa.

Mário Correia Teles de Araújo e Albuquerque.

Pedro de Chaves Cymbron Borges de Sousa.

Ricardo Malhou Durão.

Srs. Deputados que faltaram à sessão:

Abel Maria Castro de Lacerda.

Alexandre Aranha Furtado de Mendonça.