paço, quer encarando-o como alfobre de potencialidade populacional.

Racionar, como é corrente ainda às vezes, sobre os 92 000 km 2 de território metropolitano, afirmar a pequenez duma nação que é grande, será, desde logo, inferiorizando-nos sem qualquer razão perante o Mundo; para além, portanto, do erro do sistema há qualquer coisa de incompreensível, no teimar numa pequenez que se não tem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

continente e das ilhas adjacentes como uma parte dum todo que se mede por um pedaço de mais de 2 milhões de quilómetros quadrados.

É evidente que as possibilidades de fontes naturais de produção não são proporcionais às áreas consideradas na delimitação daquele espaço; mas do mesmo modo que a técnica actual ajudou a suprir dificuldades, que as distâncias a vencer e a necessidade de aplicação do trabalho impuseram ao aproveitamento hoje possível de todo o território português - e mostra-o o progresso que nele estamos impulsionando-, também nas suas mutações sucessivas ajudou a descobrir, dentro dele, uma potencialidade de riqueza aproveitável que ontem seria, muitas vezes, difícil de conceber.

Surgiram-nos, assim, incontestáveis facilidades para marcharmos na direcção da posição de relevo que desejamos e poderemos ter no conjunto da economia mundial; e até porque a nossa actual estruturação política, a tranquilidade interna de que gozamos, o prestígio exterior que se recuperou, a reforma financeira que se fez, revertem em benefício da aceitação do princípio de que o momento chegou para tirar dum grande território o maior proveito em vantagens das condições económico-sociais do povo português.

Quando, há tempos, ouvia num relato, pela rádio, acerca da visita da rainha da Inglaterra a Portugal, uma referência particularmente entusiástica à forma como ela foi recebida por esta e «pequena mas gloriosa Nação», senti que outros povos pecam muito menos do que nós no desconhecimento da geografia, visto que, se desconhecem a que respeita aos outros, decerto não desconhecem a que respeita a eles próprios.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A alteração de todos esses conceitos, decrépitos e sem sentido, as possibilidades político-económicas reais de aproveitar essa riqueza em potencial que a técnica dia a dia valoriza, a função, reconhecida hoje em dia por todos, da potencialidade africana para a solução do próprio problema económico-europeu, levaram a alterar, também, dentro da geoeconomia moderna, o próprio conceito da nossa posição de possibilidades perante a Europa e perante o Mundo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ontem, ainda, a contribuição económica que poderíamos dar ao conjunto mundial resultava da situação difícil dum pequeno e pobre país na Europa, com territórios vários por várias partes do Mundo; mas hoje em dia, e olhando ao valor real das suas possibilidades materiais, à potencialidade da riqueza que as circunstâncias actuais nos oferecem e aos meios que dispomos para a poder aproveitar, Portugal, na sua unidade perfeita, na sua comunhão indestrutível de interesses, é, sobretudo, e em relação à Europa e ao Mundo, um país vigorosamente ultramarino, com uma testa de ponte - valiosíssima para a valorização do conjunto, coordenação do todo, detenção da condução política, formação de mentalidade e preparação de elites- no continente europeu.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim, e dentro deste sentido, se tem de definir a escala daquela coordenação que já referi.

A concentração, ou densidade aritmética, de 88 hab./km 2 no continente e quase 190 hab./km 2 nos arquipélagos da Madeira e dos Açores oferece-se o valor de menos de 5 hab./km 3 de população civilizada em todo o território português.

Não creio que uma coordenação que procurasse emprego para os novos que vão surgindo e garantias de actividade para aqueles que uma reorganização da produção possa, libertar na indústria e na agricultura da metrópole tenha falta de possibilidades perante uma política de largos investimentos, e bem aberta, à escala do ultramar português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E o problema que se nos porá, talvez e então, neste campo, já não será unicamente o de procurar os meios necessários para fornecer condições de vida própria a excedentes populacionais, mas sim o de criar, por adição, os meios - indispensáveis para que se não sinta escassa a mão-de-obra que o aproveitamento de tão vastos territórios impõe.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É ainda a técnica que bem aproveitada e considerada, ajudará a resolver este magno problema: quando, num esforço notabilíssimo, procuramos aproveitar as possibilidades hidroeléctricas do continente português, dentro de uma margem já de utilização que ultrapasso os 2 biliões de kilowatts-hora, ou seja de 1/5 ou de 1/6 das possibilidades continentais totais, as possibilidades hidroeléctricas de Angola orçam pelos 30 biliões de kilowatts-hora/ano, dos quais cerca de 16 biliões- parece poderem caber, segundo os estudos mais recentes, só ao médio Cuanza.

Por seu lado, o conjunto em Moçambique do Revuè, do Incomati, do Zambeze, acerca-se daquela possibilidade que o nosso ilustre colega Araújo Correia tão brilhantemente destacou no seu valioso e recente parecer sobre as Contas Gerais do Estado, na parte em que se refere às províncias ultramarinas; tudo isto mostra que o vasto e prestimoso trabalho que neste campo e em tantos outros se está realizando já no ultramar deixa ainda à sua frente possibilidades de monta para a solução integral do problema económico português.