pão, tantos de bacalhau, azeite, leite, carne, batatas, açúcar, feijão, 1 kg de arroz e 1 l de vinho.

Faz as contas e apura que à ementa assim proposta correspondem cerca de 12 800 calorias, provenientes de 430 g de proteínas e quase 300 g e 2230 g de gorduras e de hidrocarbonatos, respectivamente.

As calorias enunciadas aplica-lhes o preço que lhes corresponde, e que seria de cerca, de 1$10 por 1000 calorias em 1939, passando para 2$7õ em 1955. Foge, contudo, aos índices de preço que as nossas estatísticas referem e prefere considerar os preços correntes daqueles alimentos na cidade de Lisboa em Outubro de 1906. E verifica que, seja no mercado pròpriamente dito, seja em cantinas de organizações industriais, 2$45 e 2$30 «seriam então, na realidade, e agora, o custo daquelas 1000 calorias, respectivamente».

Com esta dieta, «de certo modo desequilibrada e pobre», encontraríamos, um mínimo de 14$ exclusivamente para o custo diário dos géneros que comporiam a alimentação deste agregado familiar de quatro a cinco pessoas em 1939.

Em Outubro de 1956, porém, em vez de 14$, toparíamos com cerca de 31$ na cidade de Lisboa.

Ou, mais precisamente, 36$ por dia.

Acrescendo às despesas de alimentação os demais encargos do agregado familiar, que vão da renda de casa a tudo o mais, o Sr. Deputado Daniel Barbosa concluiu esta parte do seu discurso dizendo que «um agregado familiar nas condições apontadas necessita de ter como mínimo de proventos mensais 3.000$».

E como o Sr. Deputado Carlos Borges o interrompesse, observando que S. Ex.ª partia do princípio de que era exacto o número de calorias que apontou, logo o orador retorquiu, com a sua habitual vivacidade, que «não tinha que discutir esse problema», que não era a S. Ex.ª que competia «definir se devem ser 3000 calorias, ou mais, ou menos, de que um homem normal precisa» e que se limitara «a partir de números que outros, com autoridade, fixaram».

Não tenho senão que aplaudir o ilustre Deputado no seu desinteresse pelo número de calorias de que um homem precisa.

Não obstante, para o cálculo, o número que perfilhou é decisivo, porque dele resultam as cifras em dinheiro pelas quais se acabou por orientar.

Ora, não serei eu, Srs. Deputados, quem se atreva a menoscabar a importância e a relevância das indicadas calorias para elucidação de problemas como o ventilado no aviso prévio.

São, sem dúvida, elementos de informação científica de notório acatamento.

Mas talvez não seja indiferente investigar se a respeito de tais números há uma opinião concorde, unânime, ou se, ao invés, variam com impressionante facilidade de autor para autor.

Se estão por todos os sábios na matéria aceites como comprovadas, os cálculos que nelas se fundamentem são... tabo.

Mas se «cada cabeça cada sentença», muito em especial quando se transportam ou invertem as calorias para os variadíssimos regimes dietéticos, então talvez não seja ofensa grave o salientar que os cálculos neles fundados traduzem um critério subjectivo que é indispensável corrigir, alterar, modificar, pelo que resulte de outros índices de informação - índices estranhos e independentes das calorias - que à vista, ao exame de cada qual, ressaltem com uma evidência que não deixa errar.

Sendo, como é, assim, surge a oportunidade de investigar qual das hipóteses será a verdadeira: unanimidade de números ou cada autor cada número de calorias?

A resposta é fácil e a demonstração edificante.

O Sr. Daniel Barbosa: - V. Ex.ª está, quanto a mim, desculpe, a seguir um raciocínio que peca de um erro de base. Não discuti números em valor absoluto; servi-me de números, de médias, como ordens de grandeza. Respondo, talvez, de uma, maneira corriqueira, mas que sintetiza também o meu pensamento de uma maneira clara.

Primeiro que tudo, devo dizer que quando se fala de calorias se fala de uma unidade física - a caloria é unia unidade da física, e não da fisiologia; simplesmente, o problema põe-se da seguinte maneira: interessa saber até que ponto a energia, despendida por um homem num dia de trabalho...

O Orador: - Precisamente o que estava recordando a V. Ex.ª eram as discordâncias acerca de um número-base... uniforme.

O Sr. Daniel Barbosa: - Perdão, ia só é que está o erro de V. Ex.ª dizer onde é que está o erro de V. Ex.ª.

O Orador: - Se estivesse em erro, daria a mão à palmatória. Mas não: V. Ex.ª parte de determinado número de calorias para encontrar certo preço, e volto a insistir em que não há opinião unanime em volta desse número de calorias.

O Sr. Daniel Barbosa: - A confusão é de base. Parti de uma ordem de grandeza, duma média, e, portanto, desde que assim é, tenho de admitir, pela própria significação da ordem de grandeza, ou de média, uma diferença para mais ou para menos. É da própria definição.

Quando digo que o consumo de uma pessoa é de 3000 calorias, estou a admitir que podem ser mais ou menos 10 ou 15 por cento. Aceito um erro sobre, as 3000 Calorias, mas digo então a V. Ex.ª para fazer as necessárias correcções.

O Orador: - Essa é a função de V. Ex.ª

O Sr. Daniel Barbosa: - Veja V. Ex.ª o que se perde de calorias até ao momento em que são asseguradas pela assimilação dos alimentos, dado que foi em relação aos géneros em cru que as considerei.

Dentro das ordens de grandeza consideradas, qualquer preocupação de excessivo acerto cai, desde logo, pela base.

De facto, basta atender a que ainda é pouco o cálculo de 300$ para renda de casa, e aumentá-lo mais 50$; e quanto ao cálculo que referi, de 720$ por ano, para vestuário e calçado, ponha então V. Ex.ª 1.000$, e toda a correcção de custos à base do número médio de calorias cai fatalmente pela base.